Uma das possíveis explicações lógicas é a associação que a crença pode ter com hormônios. A prática religiosa está ligada à secreção de endorfina e dopamina, substâncias do prazer e bem-estar.
Por Marlon Max
Na hora da angústia, no limiar entre a vida e a morte, até mesmo os mais céticos são movidos à acreditar que a ação divina é uma alternativa para a cura ou socorro. Até pouco tempo, ciência e religião dialogavam, mas isso se encerrou desde que uma série de estudos comprovou a eficácia da espiritualidade em tratamentos complexos.
A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), referência na medicina brasileira, publicou o mais completo documento sobre a relevância da espiritualidade e de atributos como a compaixão e o perdão no tratamento de diversas doenças.
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A ciência confirma o que já está anunciado na bíblia: “Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”, diz o apóstolo Paulo em Colossenses 2:3. Segundo estatísticas, dois terços das escolas médicas dos EUA, como Harvard e Johns Hopkins, oferecem cursos sobre a espiritualidade e a fé em seus currículos, principalmente porque os pacientes estão exigindo um cuidado mais espiritual. Além disso, uma sondagem da revista NewsWeek apontou que 84% dos americanos disseram que acreditam e oram para que os outros possam ter um efeito positivo sobre a sua recuperação.
De acordo com a pesquisa publicada pela Revista Veja, a ideia é que, ao investigar a vida do paciente, o profissional dê a mesma dimensão para questões clássicas, como hábitos alimentares, e aquelas associadas à espiritualidade. “É uma abordagem que pode prevenir problemas e capaz também de detectar causas de enfermidades que não são rastreadas por exames convencionais, como dores crônicas, insônia e até depressão”, diz Álvaro Avezum, diretor da Socesp e cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Em outro estudo liderado por cientistas do Hospital Universitário Brigham para Mulheres, da Faculdade de Medicina de Harvard, adotou uma nova abordagem para entender como a fé e a espiritualidade atuam no cérebro humano. Através de exames de imagem, os pesquisadores conseguiram descobrir que existe um circuito cerebral específico diretamente ligado à fé.
Este circuito cerebral está centrado no cinza periaquedutal (PAG), uma região do tronco cerebral que tem sido implicada em várias funções, incluindo condicionamento do medo, modulação da dor, comportamentos altruístas e amor incondicional. As descobertas da equipe foram publicadas na Biological Psychiatry.
Já o levantamento brasileiro traz 368 referências de estudos internacionais sobre o assunto feitos nos últimos anos. Um dos trabalhos mais interessantes foi desenvolvido pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com cristãos. Ele atestou que ir à igreja ao menos uma vez por semana pode reduzir a mortalidade de 20% a 30% em um período de até quinze anos. O ponto básico para explicar o papel da fé na saúde é associá-la ao modo de ver a vida.
A espiritualidade é uma questão essencial para a maioria das pessoas: cerca de 80% da população mundial está ligada a alguma religião ou acredita em um poder superior. O ponto do novo documento é ajudar os profissionais de saúde na identificação dos pacientes que desejam ou precisam dessa nova abordagem.
“Apenas recentemente a medicina e a espiritualidade foram divididas uma da outra. Parece haver essa união perene entre cura e espiritualidade entre as culturas e civilizações”, disse Michael Ferguson, Ph.D., pesquisador principal do Brigham’s Center for Brain Circuit Therapeutics.
“Estou interessado em saber até que ponto a nossa compreensão dos circuitos cerebrais pode ajudar a criar questões cientificamente fundamentadas e clinicamente traduzíveis sobre como a cura e a espiritualidade podem co-informar uma à outra”, conclui.
Contudo, até muito recentemente, medicina e espiritualidade não conversavam. Hoje, nove em cada dez universidades médicas nos Estados Unidos incluíram na grade curricular o tema espiritualidade e saúde. No Brasil, ainda engatinha. Convém, portanto, deixar de lado os preconceitos, mas também os exageros religiosos, e crer.
Com informações Veja