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sexta-feira, 19 abril 2024

Missões: como plantar 300 igrejas na África

Família brito
"Ter o privilégio de ver Deus agindo em meio a povos não alcançados através do movimento de plantação de Igrejas é Fantástico". Foto: arquivo pessoal

“Nós temos um país que é dividido, metade cristãos e metade são muçulmanos e tem pessoas que são mais das religiões tribais”

Por Marlon Max

Poços artesianos, clínica médica, construção de casas e milhares de conversões e batismo. Tudo isso começou de forma muito simples através dos missionários brasileiros Paulo e Gisele Brito. Com a proposta inicial voltada apenas para a evangelização, o casal transmitia em língua local o filme “Jesus”. Os pequenos passos abriram caminho para um trabalho robusto, não apenas de evangelismo, mas de apoio humanitário e plantação de igrejas.

São mais de 300 igrejas plantadas na Tanzânia através do ministério do casal. O trabalho ganhou apoio ao longo de quase uma década e também enfrentou perseguição para expandir em algumas aldeias do país. Com uma vida quase que toda devotada à causa missionária, o casal se mudou para Tanzânia em 2011 com as filhas. Nessa jornada, muitos novos convertidos viraram pastores em suas vilas e mulheres se levantaram para orar pelos seus filhos, no ministério Desperta Débora, liderado por Gisele.

Apesar da dificuldade, o ministério continua crescendo com o apoio de novos missionários e uma comunidade de novos pastores espalhados em diversas vilas do país. A Tanzânia é um país da África Oriental. A população, composta por vários grupos étnicos, enfrenta diversos problemas socioeconômicos. Mais da metade dos tanzanianos vivem abaixo da linha de pobreza, com menos de 1,25 dólar por dia, além disso aproximadamente 28% dos habitantes são analfabetos e 35% subnutridos.

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Essa é uma história de fé e milagres contada com cenário tribal africano e muitas dificuldades, porém frutífero. Comunhão conversou com o missionário Paulo Brito para compreender os desafios em expandir o evangelho na Tanzânia. Confira!

Comunhão — Que tipo de trabalho você desenvolve na Tanzânia; E desde quando.

Paulo Brito — Nós viemos pra Tanzânia em janeiro de 2011. Estávamos na África do Sul e Deus nos falou pra sair da África do Sul e vir para cá. Depois de dois anos na África do Sul, chegamos na Tanzânia com a proposta de trabalhar inicialmente apenas com evangelismo, utilizando o filme Jesus. Nós começamos a perceber que muitas pessoas estavam se convertendo naquele tempo nas vilas. Às vezes vinham 300 a 400 pessoas assistir o filme Jesus nas aldeias, literalmente no meio do mato, nas áreas isoladas. Já teve situações da gente contar 600 pessoas assistindo o filme Jesus em uma aldeia isolada. Então isso foi muito bom, mas à medida que vimos que muitas pessoas estavam se convertendo, nós não estávamos formando grupos de discipulado ou grupos que se tornassem igreja. Então tive uma orientação de um dos meus mentores para gente começar a formar grupos pequenos e começar a formar igrejas. Foi a partir disso que começou um grande movimento de plantação de igreja.

Como o trabalho evoluiu ao longo dos anos. Quantas pessoas foram alcançadas?

Começamos a fazer treinamentos, porque muitas pessoas estavam se convertendo, e Deus começou a trazer pessoas importantes para poder trabalhar conosco. Os pastores locais, e outras pessoas do país se tornaram também os nossos pastores, muitos dos que que se converteram foram batizados através dos nossos trabalhos. Nós plantamos em oito anos, (até 20218), 243 igrejas, batizamos 4851 pessoas. Presenciamos um mover de Deus.

Quem são os pastores dessas igrejas? São as próprias pessoas alcançadas pelo evangelho?

Batismo
“Mais de 6 mil pessoas foram batizadas na Tanzânia, muitas delas se tornam pastores nas aldeias”. Foto: Arquivo pessoal

Bom, de janeiro 2011 até 2018, plantamos 234 igrejas, e batizamos 4851 pessoas. Mas esse número hoje já passa de mais de 300 igrejas. E já atingimos a marca de 6 mil pessoas batizadas. Isso entre 2020 e 2021. Os pastores dessas igrejas são pessoas das vilas, homens e mulheres que podemos chamar, de certa forma, de leigos no sentido de teologia, no sentido de estudos, até porque muitos tem até dificuldade de ler e escrever. Então esse grupo de pastores foram batizados e treinados por nós , nossos treinamentos simples de plantação de igreja e também e também pessoas que vieram de fora e ajudaram no treinamento.

Sabemos que a região é muito carente e afetada por fome e secas. Como vocês trabalharam para aliviar esse problema?

Aqui na África a gente começava a andar e a gente via outras necessidades, não dava pra sermos indiferentes às necessidades do dia a dia. Muitas pessoas passando fome, outras não tinham uma moradia certa ou ainda pessoas que se tornaram os nossos pastores moravam em casas de palha ou casas de barro — de pau-a-pique como lá no nordeste do Brasil e no norte de Minas. Então Deus começou a nos incomodar para trabalharmos também nessas áreas. Nós desenvolvemos vários projetos de distribuição de alimentos, principalmente para viúvas e órfãos.
No ano de 2017 chegamos a atender 400 famílias mensalmente com cestas básicas, isso foi um grande milagre, porque foi um ano de muita seca na Tanzânia, mas mesmo assim Deus proveu e construímos mais de 10 casas para pastores. Depois disso trabalhamos também na perfuração de poços artesianos, principalmente nas vilas e aldeias onde nós plantamos igrejas. Desde então, já perfuramos oito poços artesianos, que fornecem água para aproximadamente 24 mil pessoas. Cada poço abastece em torno de três mil pessoas diariamente.

Há também muita necessidade na área médica no país?

Sim! um outro projeto que desenvolvemos aqui foi na área de saúde. A gente recebia equipes de médicos, dentistas, enfermeiros que vieram do Brasil, para doar suas férias e ficar quinze dias ou um mês. Além disso, vinha também profissionais dos Estados Unidos e a gente levava eles pras aldeias, para as vilas e eles atendiam o povo. Tinha situações que chegavam a atender mais de 180 pessoas por dia.

Em 2018 Deus trouxe para cá o casal Fernanda e Rafael, que foram missionários no Senegal e também atuaram no Ministério Ceifa da Jocum Brasil. Deus os trouxe pra cá e hoje eles estão liderando a nossa clínica de fisioterapia. Todos os sábados levamos os médicos locais — contratados por nós, para as aldeias e lá realizam o atendimento, dão assistência de saúde, distribuímos remédios, tudo gratuitamente. As pessoas das aldeias não pagam absolutamente nada, mas além desse tratamento de saúde, nós falamos sobre malária, falamos sobre febre tifóide, sobre sífilis e várias doenças que são comuns aqui no contexto africano. Então além de todo tratamento as pessoas também têm recebido essa orientação de saúde.

Sua equipe também trabalha com ministério de oração com o povo local. Essa iniciativa tem gerado frutos?

Batismo
Foto: arquivo pessoal

Uma outra área muito forte aqui é o ministério desperta Débora, que é liderado pela minha esposa Gisele Brito. Ela começou esse movimento de oração aqui na Tanzânia que reúne mães para orar pela conversão dos filhos, pela convenção dos maridos e da família. Gisele começou esse movimento aqui há cinco anos e meio e hoje temos muitos grupos formados em várias regiões da Tanzânia. Já alcança cerca de dez províncias da Tanzânia. São muitas mulheres que se reúnem semanalmente ou diariamente em poder orar, e Gisele também tem viajado pelo país com uma equipe que ela formou aqui e eles estão ensinando sobre esse movimento de oração, despertando pessoas para oração.

Existe resistência para a aceitação do evangelho no país de forma geral? Há algum tipo de perseguição?

Sim, há uma resistência no país. Não necessariamente de forma geral, mas há uma resistência em aceitação ao evangelho…Nós temos um país que é dividido, metade cristãos e metade são muçulmanos. E tem aí uma pequena porcentagem de pessoas que são mais das religiões tribais. Então nós temos um país dividido entre cristãos e muçulmanos. Em 2012 até 2015 houve muita perseguição, mortes, igrejas fechadas ou queimadas, mas hoje graças a Deus, não tem mais essas perseguições, porém na região costeira há uma resistência ainda em relação ao evangelho.
Nas ilhas de Zanzibar, por exemplo, Mafia e Pemba têm uma resistência muito grande em relação ao evangelho e tem perseguição sim nessas regiões. Há uma outra grande dificuldade aqui para missionário que vem de fora, que é o governo. Ele impõe muitas dificuldades para estrangeiros, por exemplo, para adquirir o visto de moradia de residência é muito caro, podendo custar até 3 mil dólares a cada 2 anos. Então há muita burocracia no aluguel de casas, ou para adquirir um simples chip de celular.

Qual é o maior desafio que se enfrenta um missionário na Tanzânia?

Bom, na Tanzânia tem vários desafios. Por exemplo, dificuldades como eu já citei na questão com o governo e o custo de vida. Mas eu acredito que o maior desafio para um missionário aqui é se adaptar à cultura local, em diversos aspectos. Um deles é conhecer o povo, se adaptar a morar entre eles. O outro é aprender a língua, aqui nós falamos a língua mais falada no país, mas o inglês também é largamente falado, porém se o missionário vai nas vilas, ele tem que aprender a língua local, e isso leva ao menos de dois anos para aprender a falar fluentemente o Suaíli . Então talvez este seja um dos grandes desafios aqui na Tanzânia.

Qual o planejamento para o futuro e qual é a maior necessidade do ministério?

Nós queremos dar continuidade nos movimentos de plantação de igreja, Desperta Débora, e continuar abrindo poços artesianos. Vamos continuar atendendo as necessidades do povo no dia a dia, e eu diria que a maior necessidade para o futuro são pessoas que possam dar continuidade ao trabalho. Com isso queremos que mais pessoas possam ser abençoadas, para que mais pessoas possam ser salvas, agregadas ao reino de Deus. Então espero por pessoas — missionários que possam dar continuidade a esse trabalho. Que entendam a visão de discipulado, de movimento do Espírito Santo e que possam dar continuidade ao trabalho.

Diante de tudo que já viveu no país, tem algum testemunho que impactou a sua vida e da sua equipe?

igreja
Foto: arquivo pessoal

Quero falar rapidamente sobre o Júlios Mohamed. Ele se converteu em julho de 2011. Quando estava passando o filme Jesus em uma aldeia. No final do filme ele me procurou dizendo que tinha sido tocado e nós fizemos ali uma oração de confissão e ele recebeu Jesus. Junto com ele estava uma mulher, que eu achava que era a esposa dele. Ela também fez a oração de confissão e aí passou-se alguns dias e o Júlio começou a se aproximar de nós e a gente se aproximando dele e discipulando. No decorrer de semanas aquela mulher que vinha com Júlios parou de vir, então eu perguntei porque que ela não estava vindo nos discipulados.
Então ele abriu o jogo e falou que aquela não era a esposa dele, ele contou a história dele. Júlio morava no oeste da Tanzânia e abandonou a esposa com seis filhos lá. Então, se mudou para o centro leste da Tanzânia onde eu morava — são dois dias de viagem de um local até o outro.
O interessante é que, ao mesmo tempo, quando Júlio se convertia conosco, Deus usava um pastor lá no oeste da Tanzânia pra pregar pra esposa dele e ela também se converteu. Nós conseguimos conversar com a esposa dele. Propomos a eles essa eles reatarem o casamento, a família e eles aceitaram e nós conseguimos depois de um tempo trazer a esposa os seis filhos de onde eles moravam até o local onde nós estávamos. E eles conseguiram uma casinha para morar na vila e reataram a sua vida familiar. Foi algo tremendo de Deus, na vida dessa família.
Em 2014, Júlio nos procurou falando que queria voltar para a terra de origem dele com a família. O Júlio já tinha se tornado um dos nossos pastores, e voltou pra sua terra de origem, quando ele chegou na sua vila, na sua casinha, no meio do mato, ele então começou cultos debaixo de uma árvore e as pessoas da vila começaram a chegar e ali o Júlio começou uma outra igreja. Um homem muçulmano veio participar dos cultos e esse homem se converteu.

Quais são as formas de poder ajudar o seu trabalho?

das formas de poder ajudar o nosso trabalho aqui é divulgando o que fazemos. Pessoas que possam ser promotores do nosso trabalho na sua igreja local. Também acredito que precisamos de pessoas que tenham o dom de intercessão, que possam orar por nós. Precisamos muito dessa cobertura de oração porque aqui a guerra espiritual é muito intensa.

E outra forma de ajudar, é através de pessoas que estejam ofertando nos nossos trabalhos aqui, para a manutenção da nossa clínica, para abrir mais poços artesianos, manutenção das as igrejas que foram plantadas e dos pastores. Uma outra maneira também de abençoar o nosso trabalho é adquirindo o meu livro. Escrevi um livro chamado “Deus em Movimento”, é uma história do do agir do Espírito Santo na África. Eu conto esses movimentos, há muitas histórias. O livro pode ser adquirido na nossa loja virtual: loja.africavision.com.br ou adquirido até mesmo nas plataformas da Amazon ou Mercado Livre.

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