“(…) nem tudo o que representa avanço significa algo positivo para a nossa vida em família”
Conforme algumas tecnologias avançam, os nossos costumes diários também vão sendo modificados, muito embora isso não devesse acontecer em muitos casos. O motivo é porque, nem tudo o que representa avanço significa algo positivo para a nossa vida em família, o que diz respeito à própria sociedade, já que o núcleo familiar é a origem da civilização como a conhecemos.
No passado, quando não havíamos nos tornados quase reféns das tecnologias modernas como o uso de aparelhos celulares, os padrões comportamentais eram formados inicialmente com base nas referências dos relacionamentos entre pais e filhos, dentro de casa.
Atualmente essa relação continua existindo, mas será que ainda somos as maiores referências para os nossos filhos? Em muitos casos, o que pesa na hora de servir como norte na formação dos valores e pensamentos das crianças não são os pais, mas sim o que elas encontram na internet.
Isso ocorre porque, diferentemente do passado, muito embora pais e filhos dividam o mesmo teto e até a mesma sala, ambos se encontram tão mergulhados no mundo virtual que estão mental e emocionalmente distantes, ainda que fisicamente presentes. Esse distanciamento é real e mais danoso até do que a distância física.
O valor dos costumes
Diante dessa realidade do mundo pós-moderno, o que podemos fazer para garantir que os nossos filhos sejam educados, de fato, de acordo com os nossos princípios e não pelo mundo? A resposta pode estar na manutenção dos costumes básicos de uma família.
Por costumes, me refiro a coisas como fazer questão de realizar refeições em família, não cada um em seu canto, “espalhados” pela casa ou na frente de uma TV, mas sentados envolta de uma mesa ou em outro ambiente, desde que concentrados nessa atividade.
Você pode fazer isso na hora do almoço ou do jantar. Se não puder durante a semana, que seja ao menos aos finais de semana, ou durante o café da manhã. O fato aqui está na importância da rotina e do momento em família.
Vale ressaltar que o momento deve ser participativo. Você precisa estar mentalmente presente, pois de nada adianta realizar uma atividade mecânica apenas como uma tarefa qualquer. A hora é de encontro entre pais e filhos, onde assuntos podem vir à tona em um momento de prazer e descontração.
Outro costume importante para nós, cristãos, é fazer questão de ter um momento de devocional em família, o que também chamamos de culto doméstico. Não precisa ser algo programado com início, meio e fim. Isso pode ocorrer através de um simples momento de oração e leitura bíblica numa ocasião oportuna, por exemplo, ao compartilhar um problema específico com seus filhos.
Pode ocorrer também na hora de dormir, separando ali alguns minutos, no quarto mesmo dos seus filhos, para ler um versículo e fazer uma oração junto com eles. Esse compartilhamento de fé vai muito além da experiência religiosa. Ele também é familiar e emocional, servindo de lição moral quanto à importância da disciplina e da intimidade com Deus.
Tarefas domésticas
Outros costumes valiosos que visam estabelecer vínculos e servir de referência moral para as crianças são as tarefas domésticas, como ensinar desde cedo a arrumar a cama ao se levantar, lavar a louça suja e guardar os brinquedos no lugar certo sempre que terminar de brincar.
Essas lições básicas de comportamento estimulam a autonomia, autoestima e valorização da criança, ao mesmo tempo em que proporcionam interação familiar e aprendizado, senso de responsabilidade e limites de convivência mútua.
Esse conjunto de atividades gera engajamento familiar, que por sua vez cria as oportunidades necessárias para que pais e filhos conversem, troquem experiências e sirvam de referenciais positivos maiores do que a influência externa vinda do mundo e toda a sua parafernália tecnológica.
Por fim, no final das contas vimos o quanto costumes diários como refeições em família, devocionais e tarefas domésticas são muito mais do que simples atividades práticas do dia-a-dia. São na verdade referenciais de família que, uma vez aprendidos pelas crianças, elas irão carregar para o resto de suas vidas. Pense nisso e ponha em prática.
Marisa Lobo é escritora, psicóloga, teóloga, especialista em direitos humanos, pós graduada em saúde mental. Com 12 livros publicados, sobre família, infância, sexualidade e saúde mental.
