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sexta-feira, 3 maio 2024

Espiritualidade, produtividade e carreira

O autoconhecimento nos leva a ter diante de nós o espelho da vida, para conhecermos o quanto temos conquistado com o que projetamos

Por Lourenço Stelio Rega

O tema da espiritualidade tem crescido nos meios empresariais e de liderança nos últimos tempos, mas também há certa apreensão sobre isso, tendo em vista a sua associação com aspectos religiosos em alguns círculos. E aí o trajeto pode levar ao caminho do misticismo, crendices e outros terrenos. Não desejamos ir por esse caminho, mas buscar desenhar alguns aspectos importantes que poderão trazer mais luz a esse importante e prioritário tema.

Um dos componentes importantes nesse tema da espiritualidade está na busca do propósito em viver. O propósito ou razão de vida é essencial, pois nos projeta para além de uma vida meramente produtiva, elevando-nos a um patamar mais superior, que demonstra que somos mais do que meros instrumentos fabris produtivos, para sermos sujeitos históricos, singulares. Cada pessoa é importante e tem diante de si o desafio de ser construtor de sua própria história de vida.

Isso nos leva a buscar respostas para perguntas essenciais da vida, tais como por que nasci, para que nasci, para que estou aqui e para onde vou? E tantas outras na mesma linha: será que a vida tem sentido, será que vale a pena viver? Será que faço falta no mundo?

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É muito interessante que, no processo de planejamento de futuro de uma organização, muitas dessas perguntas também ocorrem e nos remetem para a definição da razão, missão e visão institucional. Assim, se pessoas estão e fazem a organização “viver”, esse senso de espiritualidade está também ligado a ela.

Aí entram outros aspectos, como a adoção de valores e princípios éticos que venham a sinalizar os caminhos a serem seguidos por meio das decisões diárias. Interessante é que sempre decidimos. Até mesmo quando dizemos que ainda não decidimos, estamos decidindo, pois uma não decisão também é uma decisão, a de não ter decidido. E nisso necessitamos de referenciais seguros que venham a nos dar suporte entre o certo e o errado, entre o bem e o mal.

Mas alguém poderá dizer que cada pessoa tem seus valores. Na prática é assim, mas vivemos em sociedade, ninguém é uma ilha. Pensando nisso, acabei desenvolvendo o que chamo de “ética mínima”, um conjunto de princípios éticos norteadores para nossas decisões que independem de nossa condição religiosa, política, cultural, por isso uma ética mínima.

Nesse campo da ética, podemos nos lembrar do prof. Mario Cortella, que nos ensina que ela nos ajuda a responder a perguntas tais como: o que eu QUERO? O que eu POSSO ou de que NECESSITO? O que eu DEVO? Pois nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero.

Mais um aspecto que entra aqui no campo da espiritualidade é o autoconhecimento, que tem a ver com nossa autoconsciência de quem de fato somos, de nossas crenças motivantes ou limitantes, nosso perfil, nosso estado em relação ao ambiente em que vivemos, seja profissional, seja familiar, seja social.

O autoconhecimento nos leva a ter diante de nós o espelho da vida, para conhecermos o quanto temos conquistado com nosso projeto de vida, mas também o quanto ainda necessitamos buscar o aperfeiçoamento.

Poderíamos ainda falar da alteridade, isso é, o relacionamento com o nosso próximo, com componentes como a convivência, a generosidade, a escuta atenta, escuta ativa, posição que nos leva ao estado de sermos líderes-servos.

Então, produtividade e carreira sem esses aspectos da espiritualidade nos levam a sermos meros agentes produtivos ou mesmo consumidores da realidade, em vez de sermos seus construtores, que deixarão um legado para futuras gerações.

Lourenço Stelio Rega é teólogo, especialista em Bioética e Ética, e escritor.

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