24.4 C
Vitória
sexta-feira, 26 abril 2024

De frente com a verdade sobre a paz no mundo

De frente com a verdade sobre a paz no mundo - Foto: Reprodução Freepik
De frente com a verdade sobre a paz no mundo - Foto: Reprodução Freepik

“A paz mundial é um desafio complexo porque, na verdade, ela não é desejada. A paz é uma utopia porque somos de natureza bélica”, diz o pastor Israel Belo

Por Lilia Barros

No dia escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para celebrar a Paz Mundial, diversas guerras estão em andamento. O dia 21 de setembro é uma data oficialmente dedicada ao reforço dos ideais de paz por um período de não-violência e cessar-fogo em todo o mundo. Duas décadas após a escolha da data, porém, apesar dos gestos simbólicos, como fazer um minuto de silêncio pelas vítimas de guerras ou soltar pombas brancas pelos céus, nessas 24 horas dedicadas a ações em prol da paz a humanidade não tem muito o que comemorar.

Mas, a longo prazo, será que um dia as guerras vão cessar? Podemos sonhar com um tempo em que todos se entenderão e viverão em paz nesta terra, ou tudo não passa de utopia? Os países em guerra têm interesse na paz? E será que vale a pena lutar pela paz sozinho, quando o mundo parece preferir a guerra? Qual o papel de cada crente nessa luta?

Pós-graduado em História e em Teologia e doutor em Filosofia, o pastor da Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca (RJ), Israel Belo de Azevedo, não tem uma perspectiva otimista quanto ao estabelecimento da paz no mundo. “A paz mundial é um desafio absolutamente complexo porque ela na verdade não é desejada. A guerra é uma perspectiva estratégica das nações e das empresas; é um instrumento de enriquecimento por parte das empresas e um fator de poder por parte das nações. Em nome da defesa nacional se ataca outra nação”, ele afirma.

- Continua após a publicidade -
"A paz mundial é um desafio absolutamente complexo porque ela na verdade não é desejada.", diz o pastor - Foto: Divulgação
“A paz mundial é um desafio absolutamente complexo porque ela na verdade não é desejada.”, diz o pastor – Foto: Divulgação

Israel Belo acrescenta que o grande problema é que a guerra faz parte da história humana em função daquilo que cada ser humano é. “Sem dúvida alguma não há melhor explicação para o desejo pela guerra senão aquilo que a Biblia chama de pecado. Podemos ter momentos de lucidez espiritual e desejar viver em paz mas, na verdade, só desejamos viver em paz quando estamos sendo ameaçados; queremos a nossa paz, mas pouco nos importamos com a ameaça à paz dos outros.”

Existe guerra santa ou religiosa?

Ganância, ideologia, poder, religião, são termos usados para se explicar as guerras porém, o pastor Israel Belo pontua que não existem guerras religiosas nem santas.
“Na verdade, elas não são religiosas: elas se escondem atrás de discursos religiosos. Podemos pensar em todas elas, não há nenhuma efetivamente religiosa. Nós estamos sempre em guerra porque somos intrinsicamente maus, e ponto. E é claro que a nossa maldade individual se torna maldade social e isso pode alcançar o plano nacional ou mesmo internacional. É claro que a guerra é uma maneira intolerante de impor algo ao outro, tanto no plano pessoal quanto no plano nacional, mas sempre estamos envolvidos em guerras porque somos intrinsicamente maus.”

Israel Belo entende que o conceito de guerra santa já foi muito utilizado até recentemente. mas hoje já se apagou.

“Vejamos o caso Palestina & Israel: o que tem de religioso ali? Absolutamente nada, nem da parte de Israel, nem da parte dos palestinos. O que há de religioso na Síria? Nada, é uma guerra de etnias por poder, e nada mais do que isso. O que é a guerra na Ucrânia? Não tem nenhuma dimensão religiosa, tanto é que a maioria das populações, tanto em um país quanto no outro, é da mesma fé cristã ortodoxa nominal, Então, não tem nenhum conteúdo ali de natureza religiosa. E os fundamentalistas islâmicos? Também tem pouca coisa religiosa ali, religião entra só como uma embalagem, para dar uma falsa sensação de que a religião está por trás da guerra. Vejamos um caso muito particular que hoje é pouco comentado, o da Irlanda: protestantes de um lado, católicos de outro; mas não tem nada de religião, só interesses econômicos e políticos que se busca, em um momento ou outro, impor ao outro. Isso tem a ver com coisas muito antigas, com o modo da colonização ocorrida lá e que tem gerado essas guerras.”

Os mediadores políticos e religiosos, as organizações mundiais como a própria ONU, teoricamente se esforçam para promover a paz, mas na prática se veem limitados diante da guerra. As perspectivas não são animadoras na visão do pastor Israel Belo.

“Esses órgãos não têm poder e uma nação não pode se impor a outra. A ONU não pode se impor às nações, Pode fazer uma sanção aqui ou ali e não mais do que isso, mas se uma nação é forte para fazer uma guerra, é forte também para enfrentar a ONU. A paz, enquanto desejo e prática das nações, dos grupos, não é para amadores. Por outro lado, é muito bom ver que muitas pessoas e grupos se dedicam a promover a paz e todos nós devemos fazê-lo, mas a paz é uma utopia, isto é, algo que não existe, mas que deveria existir”, conclui.

Embora o cenário não se apresente muito promissor quando o assunto é a conquista da paz mundial, o pastor Israel Bello dá algumas pistas para enfrentarmos a falta dela sob uma perspectiva cristã. Ele esclarece textos bíblicos e mostra que apesar de entender que a paz é uma utopia, isso não nos isenta da responsabilidade de tentar promovê-la. (Confira neste link.)

Seja um pacificador

Se a paz é uma utopia e as guerras não vão acabar, vale a pena lutar por isso? Deseje a paz, mude sua linguagem e pare de fazer comparações são os primeiros passos em direção à paz ao seu redor

A máxima de que “uma andorinha só não faz verão”, usada para ilustrar que uma pessoa sozinha não tem poder de influência suficiente para promover uma nova postura de um povo ou para resolver uma situação de animosidade e promover a paz entre as pessoas, parece não surtir efeito quando alguém decide ser um pacificador, a exemplo do que ensinou Jesus no sermão do Monte: “Bem aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus.” (Mt. 5:9)

Se os pacificadores são os filhos de Deus, então é a partir de cada crente que devem se iniciar as ações de paz, seja por pequenos gestos, seja por mudanças de comportamento e de linguagem. O pastor Israel Belo, do Rio de Janeiro, aponta algumas atitudes poderosas na busca pela paz.

“Penso que a primeira coisa é de fato desejá-la, desejar a paz combatendo a nossa própria natureza bélica de querer viver em guerra. A segunda coisa é mudar a nossa linguagem de chamar pessoas de nossa família de guerreiras. Temos que terminar com essa linguagem que favorece a guerra. Jesus disse assim: ‘Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada’. (Mt. 10:34). Essa palavra é uma metáfora, quando lemos antes e depois dessa frase entendemos claramente que Jesus está falando da espada enquanto decisão. Na família, uns aceitarão, outros rejeitarão o evangelho. Jesus está mostrando aos seus seguidores que não esperem facilidade, não esperem que todos confessarão o Senhor Jesus como Senhor e Salvador. Vergonhosamente, fraudulentamente, enganosamente, algumas pessoas usam esse versículo para defender pena de morte ou envolvimentos em guerras contra esta ou aquela situação. E, nesse caso, nós evangélicos embarcamos – não todos, é claro, – nessa canoa absolutamente furada por ignorância.”

A guerra sempre existiu desde os tempos bíblicos, e de lá para cá quase nada mudou. O ser humano não mudou desde Gênesis 3, quando foi criado. O ser humano é o mesmo.

“A única coisa que mudou no ser humano foi a tecnologia, o modo como ela faz as coisas na economia, por exemplo, na indústria etc. De fato, podemos dizer que houve avanço tecnológico. O ser humano dos séculos XX e XXI foi ao espaço, mas em geral de fato evoluímos apenas tecnologicamente. Moralmente, nós não evoluímos; moralmente, somos os mesmos. No máximo eu e você, ao longo da vida, encontramos alguns progressos morais e espirituais, mas a qualquer hora tudo pode cair por terra. O comportamento pacífico acontece quando o Espírito Santo governa, controla a vida daquele que segue as palavras e o exemplo de Jesus, mas é uma vigilância constante. Temos que orar para não cair na tentação da guerra.”

Sem comparações

Segundo o pastor, para vivermos num mundo sem guerra é preciso tentar a partir de cada um de nós acabar com a comparação. “Fulano tem e eu não tenho, eu quero ter, como é que eu faço para ter? Eu vou trabalhar? Eu vou tomar o que é dele? Eu vou criticá-lo? Eu vou cancelá-lo? Essa é a cultura que vem da comparação. Nós precisamos ter sempre aquela visão da alegria, do prazer, do contentamento, e não da comparação que vem da ambição, da ganância como se a vida fosse uma questão apenas de ter dinheiro ou não ter dinheiro”, diz Israel Bello.

O bom combate

Outro versículo muito utilizado é o “combater o bom combate” (II Tm. 4:7), o que pode parecer que Deus queira que vivamos em guerra. O pastor Israel explica que o apóstolo Paulo está falando de esporte, uma luta esportiva. “Paulo quer dizer que ao entrar numa olimpíada, numa pista, num tatame, faça da melhor maneira, porque foi isso que eu fiz, eu combati o bom combate, eu fiz com excelência aquilo que eu devia fazer, é isso que ele está falando, e não em guerra, que é algo que devemos abominar. É só ler os evangelhos e as cartas apostólicas: tanto Jesus quanto os apóstolos defendem a paz, promovem a paz, mesmo sabedores de que é uma utopia. Ainda assim, Jesus diz que temos que viver a paz”

A fé opera o amor

Quando a fé opera amor nos corações, há paz. “Não é possível haver a paz sem amor, e não é possível haver amor que não se manifeste em paz. Então a fé é o fundamento, é o início, mas é preciso aquilo que a Bíblia chama de processo de santificação, porque às vezes reagimos naquilo que a Bíblia chama de carne, na nossa natureza, no nosso impulso, mas nós temos que pastorear o nosso impulso, nosso instinto, para quando vier aquela vontade de guerrear eu diga que sou da paz; ‘Senhor, me ajuda, eu não quero reagir desse modo, não quero bater’. É isso que temos que ter sempre no nosso coração. A paz não é só uma questão de fé, mas ela se prolonga numa vida de fé.”

Devemos nos envolver na educação pela paz, mas se não houver a conversão do coração não há educação que resolva. Tanto faz a educação para as elites como para os mais pobres, se a mudança não ocorrer no coração e for permanentemente vigiada, nada vai mudar.

Ainda que não seja possível acabar com as guerras entre nações, pequenas atitudes – como não incentivar discussões, desfazer inimizades entre familiares, reconciliar com um amigo e não se omitir na hora de fazer o bem, quem sabe esclarecendo um mal-entendido e apaziguando uma briga, – podem ser um comportamento cristão que faz da paz um alvo a se perseguir.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -