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sexta-feira, 26 abril 2024

Devi Titus e a experiência à mesa

Esposa, mãe, editora, autora premiada e uma das mais reconhecidas conferencistas cristãs dos Estados Unidos, há décadas ela se dedica à causa de ajudar mulheres a descobrirem e exercerem todo o seu potencial edificador dentro do lar e da família. Presidente da Rede Global de Esposas de Pastores (Global Pastor’s Wives Network), Devi Titus concedeu uma edificante entrevista à revista Comunhão.

Entre os muitos livros que já escreveu, está “A experiência da mesa”, recentemente lançado no Brasil, em que ela descreve, de modo fácil e agradável, de que forma um hábito simples como o de fazer juntos as refeições regularmente pode transformar positivamente a história de vida de uma família.
Convidada a palestrar no Brasil, Devi compartilhou com os leitores algumas das descobertas que fez e revelações que recebeu enquanto pesquisava para escrever o livro. Confira a seguir.

Comunhão: Por favor, comece falando um pouco sobre o que é a experiência da mesa para os leitores que ainda não tiveram contato com seu livro ou ministério.
Devi: O princípio a partir do qual o livro “A experiência da mesa” foi escrito foi a descoberta de quais fatores criam relacionamentos mais profundos e significativos. A pesquisa para essa descoberta veio da Psicologia, Sociologia e de fontes bíblicas.

Como surgiu para você essa percepção a respeito da importância da mesa no lar?
Primeiramente, eu li uma década de estudos e achados acadêmicos comparando a performance geral de estudantes que faziam suas refeições em família e outros que não o faziam. Em todos eles, aqueles estudantes que faziam as refeições à mesa da família se saíam melhor na vida e tinham maior tendência à superação e ao sucesso.

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O que a levou a abraçar essa ideia como um ministério?
Após analisar os estudos acadêmicos, eu decidi fazer uma pesquisa bíblica. Eu acredito que tudo o que é verdadeiro tem origem na Palavra de Deus. Assim, eu quis saber o que a Bíblia tinha a dizer sobre a mesa, em comparação ao que diziam os estudos acadêmicos.

O que a sua experiência nessa área tem lhe revelado de mais importante? Que pontos destacaria?
A alma humana, planejada e criada por Deus, requer interações amorosas e tranquilas, face a face, olhos nos olhos, para tornar-se emocionalmente saudável e estável. Deus criou o corpo humano de forma a precisar ser alimentado três vezes por dia e as emoções humanas de forma a necessitarem dessas interações/conexões com aqueles que amam.

Eu descobri que Deus, 3.400 anos atrás, criou a primeira mesa feita em madeira e com quatro pernas, exatamente da mesma altura das que usamos hoje. Ele estava mudando seu relacionamento com o homem e a mesa era a redenção. Foi no tabernáculo que o sacerdote foi instruído por Deus para preparar uma mesa com pratos e providenciar que “o pão da presença” estivesse permanentemente na mesa. Foi ali que o sangue do cordeiro foi trazido para purificação dos pecados, para permitir que o sacerdote entrasse na presença de Deus. Nos tempos atuais, os pesquisadores afirmam que “algo quase misterioso acontece quando as pessoas se sentam à mesa em média cinco vezes por semana”. Eu acredito que isso seja o trabalho redentor do “pão da presença” que acontece na alma humana em função da maneira como Deus nos planejou e criou.

A experiência da mesa traz resultados para qualquer família, de qualquer cultura? Quais são esses resultados?
A verdade se aplica a todas as culturas. Os resultados mostram que as famílias que fazem refeições juntas à mesa, frequentemente em um ambiente amoroso e harmonioso, com conversas participativas têm relacionamentos mais profundos uns com os outros. Não faz diferença se a mesa é artesanal e posta sob uma árvore ou servida com porcelana chinesa em uma sala de jantar luxuosa. O que importa é a conexão olho a olho que a conversa proporciona. Isso não acontece sob outras circunstâncias.

Como deve agir uma família moderna, onde o hábito de comer juntos já se perdeu, para resgatar a experiência da mesa?

Primeiramente, precisamos ter isso como um valor importante. Nós sempre arranjaremos tempo para as coisas que valorizamos. Portanto, precisamos abraçar a verdade desse princípio e repriorizar nosso tempo para fazer do estar à mesa uma das nossas importantes atividades semanais.

No seu livro, você enfatiza bastante o papel da mulher na edificação do lar pelo preparo da mesa. E qual é o papel reservado ao homem?

Na verdade, a mulher cria um ambiente de paz e harmonia no lar. No entanto, colocar a mesa deve ser uma atividade feita em cooperação, coletivamente. Todos ajudamos uns aos outros. Não importa quem é que vai pôr a mesa. Apenas importa que ela seja posta e a família se reúna para curtir a refeição e a conversa, o momento juntos. Provérbios 9:2 diz: “Ela prepara sua refeição e mistura o seu vinho; ela também serve a mesa. “Ela”, nesse texto, é a Sabedoria. Seja homem ou mulher, é a Sabedoria quem “põe a mesa”.

E as crianças? Elas precisam ter algum papel ativo nisso? Como elas podem ser incluídas na experiência da mesa?
As crianças devem ter um papel ativo em tudo o que valorizamos. É assim que nossos valores são transmitidos às nossas crianças e jovens.
Se valorizamos comparecer à igreja, então levamos nossas crianças à igreja. Se valorizamos a educação, nós as mandamos para a escola. Se valorizamos a experiência da mesa, então nossas crianças aprendem a compartilhar a responsabilidade de preparar este alegre momento juntos.

O que você costuma dizer para as pessoas que vivem sós e não têm para quem preparar a mesa?
Você tem a si mesmo e merece ter uma adorável mesa posta para si. Isso contribui para a sua autoconfiança e é ali que o “pão da presença”, Jesus, falará com você. Além disso, a mesa é um lugar incrível para você convidar outros a compartilhar bons momentos com
você e então não estará sozinho – nem os seus convidados. Sua mesa pode tornar-se um lugar redentor para que outros construam uma relação significativa com você.

No início de seu livro você cita que “o lar é onde o coração é formado”. Você diria que nossos lares estão falhando em formar bons corações? Por quê?
Certamente. Em muitos lares, o ambiente geralmente está repleto de tantos conflitos e confusão que não há paz neles. O coração das pessoas precisa de paz e amor. Em um ambiente de raiva e rejeição, o coração de uma pessoa vai se tornando duro, para se proteger da dor emocional. Isso ocasiona uma perda de sensibilidade, levando a relacionamentos conflituosos e assim o ciclo se repete.

Jesus comeu à mesa até mesmo com pessoas malvistas pela sociedade de então. Devemos então aceitar trazer qualquer pessoa para nossas mesas?
Nosso mundo está faminto por relações amorosas. A mesa é um lugar perfeito para mostrarmos o amor incondicional de Deus pelas pessoas. Virtualmente todo o discipulado de Cristo foi exercido em torno da mesa.

Você defende que há uma maneira ideal de orar quando estamos à mesa? Que maneira é essa e por que ela é ideal?
Evidentemente, orar com o coração pleno de gratidão é muito importante. Mas Jesus disse: “Sempre que vocês fizerem isso (alimentarem-se à mesa), lembrem-se de mim”. Ele queria que nos lembrássemos de sermos gratos por Sua presença entre nós e conscientes do Seu poder de redimir qualquer circunstância com que estejamos nos defrontando. Assim, devemos expressar com muita naturalidade a nossa gratidão pela
Sua provisão e redenção para qualquer situação que estejamos enfrentando.

Você reafirma várias vezes em seu livro que o “comer juntos à mesa não é apenas nutrir o corpo”. Qual a importância da conversa nas refeições familiares? O que deve ser conversado à mesa?
Conversas positivas reforçam a autoestima. Queremos construir relacionamentos saudáveis e isso inclui ouvir, se importar e usar nossa sensibilidade para aprender sobre o próximo. Demonstrar essas boas habilidades de conversação significa para os outros que estamos interessados neles e os encoraja a abrirem seus corações sem medo de rejeição. A positividade é o aspecto mais importante das nossas conversas com outros, especialmente à mesa.

Em contrapartida, existem atitudes que devem ser evitadas à mesa durante as refeições em família? Cite as mais importantes, por favor.
Para a experiência da mesa, um ambiente positivo, afirmativo e agradável precisa ser criado. Este deve ser um tempo intencionalmente separado para estarmos juntos com prazer. Não é momento para correção ou disciplina. Apesar de as crianças mais novas estarem aprendendo padrões de comportamento e sendo educadas nos modos adequados à mesa, isso deve ser feito de modo alegre e positivo. Naturalmente, em
família, pode haver algumas implicâncias comuns entre irmãos, incidentes como derramar um copo ou jarra e outras situações pouco agradáveis. Apenas lide com eles de uma forma positiva e controlada e prossiga com a refeição em calma.

Você esteve recentemente no Brasil, numa conferência aqui no Espírito Santo. Qual a impressão que levou dos cristãos brasileiros?
Eu amo os brasileiros. Você são um povo agradável, espontâneo e muito generoso. No entanto, sua história e cultura não colaboram para reforçar os laços familiares. Minha experiência mostra que o casamento não é tão valorizado como deveria pelos cristãos brasileiros e a taxa de divórcios é igual à daqueles que não frequentam a igreja. O casamento no Brasil dura, em média, apenas 11 anos e parece menos importante que a ascensão profissional, a conta bancária e a compra de um imóvel.

A idade média dos que se casam no Brasil é de 27 anos. Jovens adultos, homens e mulheres, vivem de forma independente por um período longo demais. Eles não têm um senso de crescer e construir uma vida juntos. Assim, torna-se difícil desenvolver uma relação duradoura sacrificial de unidade, em que duas pessoas realmente tomem como propósito tornarem-se uma para toda a vida. A promiscuidade sexual leva as pessoas a se acostumarem a ter múltiplos parceiros sexuais. Por essa razão, o adultério é muito comum em suas relações conjugais. O comprometimento moral com um único parceiro para toda a vida no casamento parece ser uma expectativa quase inexistente em sua cultura. No entanto, isso é o que a Bíblia ensina.

Eu quero dizer a vocês que suas incríveis famílias valem mais a pena do que qualquer coisa que o dinheiro possa comprar. Elas merecem seu tempo e atenção. Vale a pena trabalhar para construir um belo e duradouro casamento. Nenhum problema que vocês encontrem, por mais intransponível que pareça, irá durar para sempre. Ultrapassem as dificuldades, vivam cada dia para fazer a vida maravilhosa para seus cônjuges e construam juntos uma família adorável. Ponham isso em primeiro lugar e com uma boa administração, Deus irá multiplicar seus recursos para dar-lhes uma vida boa e digna e ser vivida.

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