Com a situação financeira mapeada, é possível desenvolver um plano de ação, que inclua orçamento, estratégias para reduzir dívidas e medidas para aumentar a renda
Por Patricia Scott
O nível de endividamento deve crescer nos próximos meses, chegando a 79,9% em dezembro de 2024, segundo projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em 2023, havia 66,12 milhões de brasileiros inadimplentes — ou seja, quatro a cada dez (40,35%). Em dezembro, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 4.337,70 na soma de todas as dívidas, conforme a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Assim, para sair do vermelho nada mais indicado do que desenvolver um bom planejamento financeiro, para que a organização dos recursos de maneira eficaz. o que para muitos é um grande desafio. “É um conjunto de estratégias que protegem a saúde financeira dos indivíduos, assegurando tanto a capacidade de atender às necessidades cotidianas quanto à realização de objetivos e sonhos a médio e longo prazo, sendo necessário disciplina, paciência e resiliência”, explica o especialista em finanças pessoais, João Victorino.
Segundo ele, a tarefa exige comprometimento. Isto porque “um planejamento financeiro bem elaborado, que considere tanto as demandas imediatas quanto as futuras, atua como um guia para prevenir o escoamento dos recursos com gastos desnecessários. Além disso, é fundamental para a conquista da independência financeira, trazendo consigo uma melhoria significativa no bem-estar e na qualidade de vida”.
Em contrapartida, os principais motivos que levam as pessoas a não conseguirem fazer um planejamento, Vitorino salienta a falta de conhecimento sobre o assunto, a falta de tempo e a falta de apoio e adesão da família. “Muitas pessoas têm dificuldade de aceitar a realidade: muitos de nós somos procrastinadores. Adoramos deixar as coisas para depois e só fazemos nossa obrigação na última hora, com alguma pressão sobre nós para terminar a tarefa”.
Para driblar esse tipo de situação, Victorino, com base na neurociência, ele recomenda: “aceite que você não sabe tudo, e nem saberá, ou seja, nunca estará pronto, mas comece assim mesmo. Separe um tempo para fazer isso (sem nenhuma interrupção), afastado de tudo, e com foco 100% no planejamento. Crie algum alerta na rotina mensal para verificar o planejamento com certa frequência”.
Ele diz ainda que o processo de se planejar financeiramente envolve várias etapas e pode ser ajustado conforme as necessidades. Antes de tudo é importante definir os objetivos financeiros, pois podem variar – desde objetivos de curto prazo, como economizar para um feriado, até objetivos de longo prazo, como garantir uma aposentadoria mais confortável. “Também é essencial avaliar a situação financeira atual (receitas, despesas, dívidas e investimentos) para obter uma compreensão clara de sua situação financeira atual”.
Para finalizar, João afirma que tendo noção da situação financeira é possível desenvolver um plano de ação, que pode incluir a criação de um orçamento, estratégias para reduzir dívidas, planos de investimento e medidas para aumentar a renda. “Depois disso, é importante implementar o plano, o que exige disciplina e ajustes em seus hábitos de consumo. Por fim, vem o monitoramento e a reavaliação. Afinal, o planejamento financeiro é um processo contínuo. Seu plano deve ser revisado e ajustado regularmente para refletir mudanças em sua situação financeira ou em seus objetivos”.
10 dicas para a elaboração de um bom planejamento financeiro
1. Entenda suas finanças atuais: antes de fazer qualquer mudança, é essencial entender para onde está indo seu dinheiro, ou seja, acompanhar receitas e despesas. Ferramentas de orçamento, como planilhas ou simplesmente um caderninho podem ajudar a visualizar isso.
2. Estabeleça orçamento: com base na sua renda e nas suas despesas, crie um orçamento que reflita seus objetivos financeiros, como economizar uma certa quantia por mês.
3. Crie um fundo de emergência: um passo crucial na organização financeira é construir, gradativamente, um fundo de emergência. Aquele dinheiro que fica guardado para situações inesperadas, como perda de emprego ou despesas médicas. Automatizar os depósitos no seu fundo da reserva de emergência, por exemplo, pode ser interessante.
4. Corte despesas desnecessárias: revise suas despesas e veja onde você pode cortar sem comprometer seu bem-estar. Isso pode incluir gastos com entretenimento, assinaturas não utilizadas ou despesas com jantares fora. No entanto, é importante fazer cortes ponderados, para não se sentir privado e desistir.
5. Estabeleça metas que façam sentido para você: metas financeiras devem ser claras, significativas e pessoalmente motivadoras. Pessoas são mais propensas a economizar e gerenciar bem seu dinheiro quando suas metas financeiras estão alinhadas com seus valores e aspirações pessoais. Considere dividir seus objetivos em metas menores, isso vai dar a possibilidade de você conquistar várias pequenas vitórias consecutivas, te incentivando a alcançar os grandes objetivos.
6. Revise e ajuste regularmente: sua situação financeira pode mudar, assim como seus objetivos. Por isso, é importante revisar regularmente seu orçamento e ajustá-lo conforme necessário.
7. Busque conhecimento: aprender mais (não somente a respeito de finanças pessoais), é primordial. Quanto mais você souber, melhor será capaz de tomar suas próprias decisões sobre seu dinheiro. A curiosidade é um forte diferencial.
8. Conheça seus hábitos de consumo: o que você leva em conta na hora de realizar uma compra? Satisfazer necessidades básicas ou impressionar outras pessoas? Você busca um pouco de conforto, mas com moderação? Você tem uma visão de longo prazo para suas prioridades? É preciso definir o que você quer.
9. Necessidades versus Desejos: cortes drásticos podem levar a um sentimento de privação, o que, por sua vez, pode fazer com que você desista dos esforços de organização financeira.
10. Não tenha pressa: comece devagar, fazendo ajustes pequenos e sustentáveis que não farão você sentir que está se sacrificando excessivamente. Celebrar pequenas vitórias ao longo do caminho também pode ajudar a manter a motivação.