“Apegado ao caráter sagrado da vida desde o seu início, mas consciente de viver numa sociedade secularizada e pluralista, o Conselho Nacional dos Evangélicos da França (CNEF) está preocupado com os riscos que esta constitucionalização representa”
Por Patricia Scott
Na França, os evangélicos contestam a inclusão do aborto na constituição francesa baseada em preocupações relacionadas às liberdades de consciência, expressão e opinião. Com a aprovação na última segunda-feira (4), o país se tornou o primeiro a aprovar o “direito ao aborto” em uma constituição nacional. Entretanto, a prática já era legalizada desde 1974.
O parlamento alterou o Artigo 34 da Constituição para especificar que “a lei determina as condições em que é exercida a liberdade das mulheres, que lhes é garantida, para recorrer ao aborto”. Aprovou a medida a maioria esmagadora dos parlamentares. O presidente Emmanuel Macron deve promulgar a decisão nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Segundo ele, o direito ao aborto agora se tornará “irreversível”.
“Apegado ao caráter sagrado da vida desde o seu início, mas consciente de viver numa sociedade secularizada e pluralista, o Conselho Nacional dos Evangélicos da França (CNEF) está preocupado com os riscos que esta constitucionalização representa”, divulgou o Conselho Nacional das Igrejas Evangélicas de França (CNEF), que é conhecida por reunir o maior número de evangélicos no país.
“O CNEF teme que o direito dos profissionais de saúde à objeção de consciência seja enfraquecido”, afirmou a instituição, acrescentando que “a liberdade de expressão e de opinião também podem ser ser prejudicada.” A organização enfatizou, inclusive, que em uma “sociedade democrática, as opiniões e convicções podem divergir, mas seriam bem-vindas garantias de respeito nestas matérias, conforme previsto no artigo 10º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.”
Proteção à vida
A instituição declarou ainda que, na França, a intenção original da legalização do aborto a partir da Lei Veil de 1975 era proteger a vida e apoiar o aborto somente em circunstâncias extremas. “A lei Veil estabeleceu a interrupção voluntária da gravidez como último recurso para situações sem saída. A exceção tinha que ser o princípio. A situação de angústia, o critério”.
O CNEF observou também que a autora da lei, Simone Veil, incentivou a sociedade a dissuadir o aborto tanto quanto possível. “Cinquenta anos depois, as duas câmaras do parlamento, unidas no Congresso, preparam-se para colocar a liberdade das mulheres de recorrer ao aborto no topo da hierarquia de padrões”.
Segundo a organização, “a liberdade garantida se torna o princípio. A situação de angústia foi retirada da lei. De uma disposição de descriminalização e de uma medida excepcional, caminhamos para um direito constitucional.”
Cabe destacar que o CNEF oferece o amor, a graça e a vida do Evangelho às mulheres francesas que abortam. “Resolutamente ao lado das mulheres em situações frágeis, e particularmente conscientes, como Madame Simone Veil, de que o aborto é sempre ‘um fracasso quando não é uma tragédia’”.
Na nota, a organização mencionou que “os protestantes evangélicos da França apelam ao governo que garanta – para mulheres que gostariam – a liberdade e os meios para manter ou confiar os seus filhos”. Por fim, o CNEF deixou claro que “para eles e para aqueles que fariam outra escolha, nossas comunidades são lugares acolhedores que manifestam o amor, a graça e a vida que o Evangelho de Jesus Cristo traz”.
O Comitê Protestante para a Dignidade Humana também demonstrou uma postura firme diante da aprovação parlamentar. De acordo com organismo, a mudança constitucional faz com que o aborto tenha se tornado “um dogma político” na França, conforme relatado pela televisão estatal conservadora francesa, CNews.
O Comitê também representa os protestantes na França. A entidade reúne reformados, luteranos, evangélicos, pentecostais e adventistas. Combinados, os protestantes representam cerca de 3% da população do país, conforme a FPF. Com informações da Baptist Press