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sábado, 27 abril 2024

Reforma e Igreja – Fogo Estranho?

Temos muito o que debater e provocar a igreja ao pensamento crítico, olhando para a vida da igreja contemporânea e reascendendo o seu fogo

Por João Carlos Marins

Não raro, as práticas de agrupamentos cristãos passam por ‘abuso de autoridade’, ‘abuso espiritual’, ‘malversação de recursos financeiros’, ‘atos proféticos que beiram ao espiritismo’, ‘constrangimento de fiéis a fazerem aquilo que não é bíblico ou que é contrário ao desejo pessoal ou coletivo’ etc. Em muitos casos, a Palavra de Deus não é utilizada para o confronto destas práticas. Ainda poderíamos refletir sobre pregações ou canções que guardam pouca, ou nenhuma, associação com a sã doutrina.

Logo após a minha migração do cristianismo romano para a chamada ‘igreja evangélica’, um fenômeno sócio-religioso deixou o mundo perplexo, e a mim também: a morte de quase mil pessoas participantes de uma seita religiosa liderada por Jim Jones. A história de Jim Jones, como líder religioso remonta os idos dos anos 1950, nos Estados Unidos e se conclui em Jonestown, na Guiana. A sua morte, em novembro de 1978, e a dos membros do Templo dos Povos, se deu pela ingestão de cicuta ou por suicídio, numa espécie de Pacto de Morte, que deveria ocorrer caso a seita sofresse algum tipo de ameaça grave, o que realmente aconteceu.

Intitulei estas considerações como ‘Fogo Estranho?’ apenas para trazer à reflexão o quanto, eventualmente, podemos estar distantes da verdade, cujo entendimento pode estar relacionado às subjetividades individuais, e ou à forma como cada pessoa, de per si, enxerga e ou interpreta informações ou fatos testemunhados. Não é incomum que pessoas, como qualquer de nós, tenham dúvidas em relação àquilo com o que lidamos em nosso dia; e isto não é privilégio dos menos cultos. Você já ouviu falar de Pilatos? Ele não era uma pessoa qualquer, e acumulava requisitos importantes, que lhe conferiram uma posição de poder como Governador da província romana da Judéia. Em seu encontro com Jesus, ele perguntou ao Senhor quanto ‘o que seria a verdade’?

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Este conflito sobre o que é a verdade, em especial, em alusão às práticas denominacionais, e à forma como as lideranças entendem seus dogmas, pode ser a causa das tantas diferenças entre as práticas de uma denominação cristã em relação a outra, bem como da existência de práticas estranhas, inclusive se comparadas com o texto das Sagradas Escrituras, sobretudo o do Novo Testamento.

Meditando sobre esta questão, pensei o quanto seria bom se, sinceramente, pudéssemos, ao olhar o conteúdo das nossas comunidades cristãs, considerássemos, por exemplo, se cada uma das nossas práticas são realmente bíblicas. Ou, ainda que sejam bíblicas, se essas práticas são cristãs, pois pode ser que algo que seja bíblico não aplicável à igreja. Afinal de contas, o cânon do Antigo Testamento tem a ver com o Judaísmo, e o cânon do Novo Testamento com o Cristianismo; os ensinos de Jesus, descritos no Evangelho, fazem parte do que ele chamou de ‘Um Novo Mandamento’ (João 13.34); Ele mesmo, Jesus, nos falou da ‘Nova Aliança no meu Sangue’ (Mateus 26).

Ainda sobre o que fazemos ou o que deixamos de fazer, ainda há algumas perguntas para a nossa reflexão: Há alguma diferença entre ‘fazer o que Deus não mandou’ e ‘não fazer o que Ele mandou’? E, o que dizer de pessoas que dizem ‘Deus me falou isto ou aquilo’ quando, na verdade, Ele não o fez, conforme Ezequiel 22.28?

Voltando ao texto inicial, pode ser que muitos de nós, membros das várias comunidades cristãs, estejamos sendo vítimas de ‘abuso espiritual’, ‘abuso de autoridade’, ou que estejamos sendo alvo de práticas de manipulação, por parte de líderes cristãos, que se valem até do uso da Palavra de Deus para o alcance dos seus propósitos. Temos conhecido, por exemplo, práticas relacionadas ao mau uso do dinheiro, desde à forma como a comunidade é convencida a fazer a sua doação (não são poucas as vezes em que é utilizado o argumento de Malaquias sobre o ‘roubar a Deus’), até a forma como este dinheiro é utilizado (distante do padrão bíblico neotestamentário).

E, o que poderíamos dizer de atos proféticos que beiram ao ‘espiritismo’ ou às práticas pagãs? Já presenciei pregações de longa duração, proferidas com o único intuito de constranger a comunidade a decisões não harmônicas com a Bíblia, ou com a intenção de fazer com os irmãos sejam levados a tomar decisões contrárias ao seu próprio desejo pessoal. Ainda poderíamos refletir sobre pregações ou canções que guardam pouca, ou nenhuma, associação com a sã doutrina.

Teríamos muito o que debater, e provocar a igreja ao pensamento crítico, ao olhar para a vida da igreja contemporânea na comparação da vida vivida pela igreja primitiva. Mas, seria muito útil se pudermos fazer a mesma pergunta que fez Pôncio Pilatos: o que é a verdade?

Nisto pensai!

João Carlos Marins é pastor e especialista no tema responsabilidade social.

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