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sábado, 27 abril 2024

O risco de uma interpretação equivocada das profecias bíblicas

Líderes eclesiásticos precisam ser muito cuidadosos para não criar expectativas falsas em sua congregação a partir de uma interpretação errada dos textos proféticos

Por Joarês Mendes de Freitas

Quando Ageu foi chamado por Deus para o ministério profético, ele recebeu a incumbência de exortar os remanescentes de Israel quanto à reconstrução do templo. A obra havia sido iniciada por Zorobabel logo após o retorno, mas agora paralisada já por 14 anos. Em seu trabalho, Ageu ouvia do povo o seguinte comentário: “Ainda não chegou o tempo de reconstruir a casa do Senhor” (Ag 1.2).

Nessa época, se contava 16 anos desde que os judeus haviam voltado do exílio por deliberação de Ciro, o rei da Pérsia, que também devolveu os utensílios do templo, que tinham sido levados para a Babilônia, de modo que fossem recolocados em seu lugar de origem.

Por qual razão, depois de tanto tempo, a nação usava essa justificativa para a sua negligência? Havia uma espécie de resignação fatalista uma vez que os inimigos articularam e convenceram o rei Artaxerxes a suspender a autorização dada pelo seu antecessor. J.S. Baxter argumenta que isso ocorria por uma interpretação equivocada das profecias. Textos como II Reis 25, Jeremias 25 e 52, Ezequiel 24, Daniel 9 e Zacarias 1 falam sobre os acontecimentos relacionados ao exílio e a duração desse período é previsto em 70 anos. Esse é o tempo que Deus usaria para tratar a infidelidade daquele povo.

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Ocorre que são duas situações diferentes, uma delas conta o tempo do domínio exercido pelo império babilônico sobre as nações, ou seja, até a queda desse governo opressor. 70 anos é o período que Deus prescreveu para a Babilônia (Jeremias 25.14). A outra situação tem a ver com o tempo em que os israelitas deveriam permanecer longe da sua terra. Considerando a primeira deportação sob Jeoaquim em 606 a.C, os 70 anos se completaram em 536 a.C. quando Zorobabel lidera os remanescentes de volta ao seu território. Para Baxter, “Uma coisa é o tempo que Deus estabeleceu “para” a Babilônia, outra é o período do exílio dos judeus “na” Babilônia” (Examinai as Escrituras, v.4, p. 261). Esses períodos foram confundidos e isso implicou de certa forma no atraso das obras do templo.

Ao longo do tempo, temos testemunhado muitos equívocos na interpretação de profecias bíblicas, isso por motivos os mais diversos, em alguns casos envolvendo interesses pessoais ou de grupos e até mesmo por má fé. A falha mais gritante nesse sentido foi a rejeição do Messias pelos seus contemporâneos, quando de sua primeira vinda, resultado de uma leitura deficiente do que foi dito pelos profetas.

Nessas últimas décadas, reincidentemente, e em diversos lugares do mundo, pessoas têm marcado data para a segunda vinda de Cristo, fazem isso a partir de uma verdadeira acrobacia com textos bíblicos diversos. Evidentemente todas essas predições têm falhado.

Líderes eclesiásticos precisam ser muito cuidadosos para não criar expectativas falsas em sua congregação a partir de uma interpretação errada do que dizem os textos proféticos. Essa mesma precaução precisa ser tomada por todo leitor da Bíblia para não incorrer em falha como aconteceu com os israelitas no tempo de Ageu.

Joarês Mendes de Freitas é Ex presidente da Convenção Batista do Espírito Santo.

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