“É equivocado pressupor que os pequenos não compreendem ou passam despercebidos em meio às tensões cotidianas”
Por Patricia Scott
Infelizmente, a violência doméstica está presente na realidade de muitas famílias. O ato costuma incluir, além de agressões físicas, abusos emocionais, psicológicos, morais, patrimoniais, verbais e até sexuais.
No Brasil, em 2023, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas, conforme informação da Rede de Observatórios da Segurança divulgada no boletim Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver.
A 10ª Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher aponta que, de cada dez brasileiras, três já foram vítimas de violência doméstica. No meio desse ambiente familiar tão conturbado e conflituoso estão os filhos, que, muitas vezes, ainda são crianças, em fase de desenvolvimento e formação característicos da infância.
“É equivocado pressupor que os pequenos não compreendem ou passam despercebidos em meio às tensões cotidianas, isso precisa ser desconstruído”, afirma a advogada de família Barbara Heliodora.
Para a advogada, muitas vezes, mesmo com precauções, é possível não perceber a presença e a sensibilidade dos pequenos. “É recomendado buscar apoio psicológico para as crianças. O objetivo é garantir o bem-estar delas, mantendo o afeto entre os pais com respeito e consideração”, enfatiza, acrescentando que “as crianças prezam, acima de tudo, pela felicidade e pela estabilidade dos pais.”
Apesar das dificuldades, diz Barbara, é importante que os pais sejam cuidadosos na preservação das crianças. Ela orienta evitar discussões na presença dos pequenos, reconhecendo que eles absorvem mais do que se imagina. “Esse cuidado não apenas protege a saúde emocional das crianças, mas também orienta os adultos na delicada tarefa de explicar e esclarecer dúvidas, promovendo, assim, um ambiente mais saudável e compreensivo para todos os envolvidos”.
A advogada alerta, ainda, que as crianças assimilam as diferentes nuances da violência, que pode ser, por exemplo, uma manipulação ou até mesmo o tom de voz. “Elas percebem esse contexto, ainda que silenciosamente. Portanto, mesmo diante das inúmeras questões entre os pais, é muito importante que compreendam a necessidade de preservar os filhos em um contexto tão delicado”.
Barbara avalia que, nesse cenário, é essencial reconhecer que as mulheres, motivadas pelo amor à família, muitas vezes hesitam em tomar medidas de separação. “Essa relutância pode ser alimentada por dependência emocional, preocupações com o impacto na família ou a dedicação aos filhos”, expõe e emenda: “Nessa circunstância, o agressor, por vezes, rejeita buscar ajuda, enfrentando um preconceito que o impede de reconhecer a necessidade de apoio psicológico ou psiquiátrico”.
A advogada ressalta que é importante a análise cuidadosa dos sinais de um relacionamento abusivo, pois é uma ferramenta poderosa para interromper o ciclo prejudicial, antes que alcance estágios irreversíveis.