Relatório destaca a experiência de universitários cristãos de diferentes países que residem na Europa
Por Patricia Scott
Estudantes admitem ficar quietos, apesar de acreditarem que deveriam falar sobre a fé que professam. É o que aponta um documentário lançado em janeiro de 2024, baseado no estudo do Observatório sobre Intolerância e Discriminação Contra Cristãos na Europa (OIDAC — sigla em inglês), em 2022. O documento revela a realidade da autocensura, comum entre os cristãos universitários.
Foram entrevistados estudantes da Bélgica, Inglaterra, França, Viena, Espanha, Hungria, Alemanha, Irlanda e Peru. Eles compartilharam experiências e encontraram um ponto em comum: promover “uma atmosfera que permita a liberdade de expressão”.
Muitos universitários entrevistados contaram que se censuraram por aceitação social. Uma delas, identificada como Mary, da Irlanda do Norte, por exemplo, teve um professor ateu que fez “afirmações horríveis” sobre Deus na sala de aula.
Ela relatou que não queria ficar de pé em frente a outras 300 pessoas que estavam rindo e achando engraçado. “Senti que eu estava contra o mundo e que não conseguia falar”.
Já Valéria, do Peru, começou a se autocensurar ao ingressar na universidade: “Lembro-me de não esconder minha fé, mas definitivamente não estava aberta. Eu pensava: ‘Não vou dizer nada'”.
Natural da Nigéria, Yusuf mora na Hungria. Ele explicou que a educação nigeriana que recebeu teve relevância nessa autocensura. “A situação na parte norte da Nigéria está ficando um pouco ruim. Se há um evento que pode provocar alguma indignação, então, é quando os cristãos geralmente têm que temer por suas vidas”.
Ameaças
Da Espanha, Mafe foi a única aluna que expressou opiniões contra o aborto, quando um dos professores mencionou o assunto em aula. “A professora estava tentando criar uma conversa, mas isso se transformou em um ataque”, disse, acrescentando que, depois dessa conversa, ela recebeu uma ameaça de morte. “Meu colega de classe me disse: ‘Eu conheço o metrô que você pega todos os dias, então tenha cuidado'”.
Durante um mês, Mafe teve que ser escoltada para casa por policiais. “Eles sempre me fizeram sentir tão mal por compartilhar minhas crenças ou meu jeito de viver. Aprendi, ao longo do tempo, a ter muito cuidado com o que eu ia falar”.
Ao gerenciar as mídias sociais para a sociedade pró-vida na universidade, Mary, através da plataforma, ela recebia constantes ameaças de morte, além de comentários maliciosos de usuários que contavam de que maneira a prejudicariam.
“Estou mais do que feliz em compartilhar minhas crenças, mas, se isso vai resultar em ataques pessoais como esse, é muito difícil de encarar enquanto ando pelo campus com pessoas sabendo quem você é”, enfatizou Mary.
Esses comportamentos, na visão de Valéria, foram normalizados até certo ponto. “Acho que essas coisas não são vistas como uma agressão”.
Coragem e franqueza
Durante o estudo, os universitários foram questionados sobre o que poderiam fazer para criar uma atmosfera em que os princípios cristãos não fiquem deixados de lado. Daniel, da Inglaterra, citou George Orwell, que afirmou: “Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas coisas que elas não querem ouvir”.
O jovem acredita que “uma das melhores coisas que os alunos podem fazer é ser mais corajosos e francos sobre o que querem na universidade”. George considera, no entanto, que viver plenamente como cristão pode ter consequências negativas, mesmo que o crente não seja completamente rejeitado.
“Possivelmente, você pode perder alguns amigos que pensam que de repente você se tornou intolerante ou o que quer que seja”, analisou.
Outros alunos concordaram que a atmosfera social polarizada classifica algumas visões e crenças como ofensivas. Isso diminui a liberdade de expressão, de acordo com eles, tornando os debates sobre tópicos controversos menos propensos a acontecer, o que aumenta a autocensura. Com informações Christian Today