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sábado, 27 abril 2024

Judia destaca as raízes do cristianismo

Foto: Reprodução

“Só podemos compreender plenamente os Evangelhos ao entendermos o significado central da aliança duradoura de Deus com o povo de Israel”

Por Patricia Scott

O Cristianismo nasceu do Judaísmo. Entretanto, ao longo dos séculos, as duas religiões têm se apresentado como antagônicas. Uma das justificativas é que a primeira recebeu Jesus como o Messias e aguarda a Sua vinda vinda, e a segunda ainda espera o Salvador.

No entanto, há pessoas que segue ambas, como a professora assistente de Teologia Sistemática no Seminário Teológico Fuller, em Pasadena, Califórnia (EUA), Jennifer M. Rosner. Ela encontrou Jesus quando estava na universidade. Mais tarde, optou pelo caminho intermediário: o judaísmo messiânico. Atualmente, Rosner segue as tradições judaicas como o Shabbat e o Hannukah, ao mesmo tempo em que crê que Cristo era Deus encarnado e retirou o pecado do mundo.

Em entrevista à Comunhão, Jennifer compartilha algumas percepções acerca da identidade judaica do Evangelho. Essa jornada na fé impactou a espiritualidade da autora do livro “Como Encontrei o Messias”, lançado pela Mundo Cristão.

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Como a senhora encontrou o Messias?
Durante a faculdade, pela primeira vez, eu me encontrei em contato próximo com cristãos muito religiosos. Comecei a frequentar a igreja e os ministérios do campus e me descobri cada vez mais investigando as afirmações da verdade do cristianismo. Quando me formei, eu já acreditava que Jesus era quem ele dizia ser.

Judia destaca as raízes do cristianismo
Foto: Divulgação

O que esse encontro resultou para sua vida espiritual?
A princípio, não fazia ideia de como reconciliar a minha identidade judaica com a crença em Jesus. Não tinha modelos de como fazer isso e não conhecia outros judeus que acreditassem em Jesus. Eu também era fascinada por religião e teologia. Estava desesperada para descobrir como dar sentido a essas duas partes aparentemente díspares de quem eu era. Essa dificuldade me fez mudar completamente a minha trilha educacional e vocacional, e decidi cursar a faculdade de Teologia em vez do curso de Direito.

Como a senhora reconciliou as suas raízes judaicas e o Evangelho?
A minha jornada pessoal de ser judia e seguidora de Jesus se expressou através do meu doutorado, em particular a minha dissertação, Healing the Schism (“Curando o Cisma”, em tradução livre), agora um livro. O que eu percebi é que a minha identidade judaica encontra a sua expressão mais plena através da minha fé em Jesus como o Messias. Seguir Jesus me fez aprofundar o significado de viver a minha vida como judia. Encontrei mais significado nisso do que jamais tive antes.

Qual a identidade judaica do Evangelho? 
Só podemos compreender plenamente os Evangelhos ao entendermos o significado central da aliança duradoura de Deus com o povo de Israel. Sem esta moldura, nós estamos fadados a interpretar mal ou deturpar o significado da vida, morte e ressurreição de Jesus. Ele veio para trazer expiação para os pecados humanos, mas também para abrir um caminho para os gentios entrarem em um relacionamento de aliança com o Deus de Israel. Ao focar apenas no aspecto expiatório dos Evangelhos, nós perdemos essa história mais ampla que se desenrola ao longo de toda a Bíblia e, muitas vezes, perdemos a importância de viver a nossa fé em atos diários de discipulado fiel. Se o Evangelho é apenas sobre ir para o céu quando morrermos, nós perdemos tanto a dimensão comunitária deste texto quanto o seu significado aqui e agora. Aprofundarmos mais no judaísmo do Evangelho nos ajuda a evitar essas duas armadilhas problemáticas.

Por que o abismo entre judaísmo e cristianismo?
Ao contrário do que os cristãos acreditam, o dilema entre o judaísmo e o cristianismo tem muito mais a ver com delimitações comuns pós-bíblicas e políticas do que com eventos bíblicos e teologia. Devido ao relacionamento tenso entre o Império Romano e o povo judeu, os primeiros cristãos gentios consideravam cada vez mais problemático serem identificados com o povo judeu. Teólogos cristãos patrísticos começaram a definir a cristandade em oposição ao judaísmo, e pensadores judeus proto-rabínicos interpretaram a fé em Jesus como antiética para a vida e a prática judaica. Enquanto, hoje, nós muitas vezes pensamos no judaísmo e no cristianismo como religiões separadas, a realidade é que eles continuaram a se definir com referências negativas em relação ao outro, revelando que o vínculo próximo entre eles, na verdade nunca foi rompido.

O cristianismo abriu mão de alguma prática judaica que deveria ter sido preservada? Por quê?
Acredito que os principais textos do Novo Testamento (como Atos 15) deixam claro que cristãos gentios não são chamados a adotar práticas judaicas. Com isso, a cristandade perdeu o seu caminho teologicamente na medida em que se desvinculou do judaísmo e das suas raízes judaicas. Nós só podemos compreender plenamente os Evangelhos se colocarmos a obra redentora de Jesus dentro do contexto mais amplo da aliança duradoura de Deus com o povo de Israel. Inúmeras outras distorções teológicas resultaram deste erro fundamental no pensamento e na história cristã.

Por que o antissemitismo dentro do contexto cristão?
A separação gradual e hostil dos caminhos entre judaísmo e cristianismo levou cristãos ao longo dos séculos a se identificarem em oposição ao povo judeu, vendo a sua eleição como substituta à eleição de Israel e sua obediência como superior à obediência de Israel. A perigosa má interpretação dos principais textos bíblicos levou a uma compreensão distorcida do povo de Israel e essa perspectiva tem sido violentamente instrumentalizada. Tudo isso deveria nos lembrar o quanto é importante compreender adequadamente o texto bíblico e o contexto original em que foi moldado e escrito.

O que representa uma declaração cristã de relevância contínua da terra de Israel?
Ao afirmar que a terra não importa mais para Jesus e seus seguidores é desvincular o Novo Testamento do Antigo Testamento. Infelizmente, essa desvinculação é predominante na interpretação bíblica cristã. Dizer que Jesus anula, de algum modo, a centralidade da terra na aliança de Deus com Israel cria um contraste entre Jesus e o povo judeu. Assim, uma declaração cristã da relevância contínua da terra é parte fundamental do compromisso cristão de solidariedade com o povo judeu. Se o povo de Israel e o corpo de Cristo se encontram unidos como um só povo de Deus, os interesses da comunidade judaica também devem ser os interesses da igreja cristã. Influência nas questões importantes e compromisso na defesa do povo judeu no mundo inteiro demonstram comprometimento concreto com o bem-estar do povo da aliança de Deus, a raiz na qual a igreja cristã foi enxertada.

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