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sábado, 27 abril 2024

Filhos e os perigos da cultura do cancelamento

O youtuber PC Siqueira, 37 anos, e a jovem Jéssica Vitória, 22 anos, foram vítimas de fakenews e condenados pelo “tribunal da internet”. Foto: Reprodução

As mortes de PC Siqueira (37) e Jéssica Vitória (22) ligaram o alerta dos pais, que tentam blindar os filhos dos ataques nas redes sociais e evitar que o pior aconteça

Por Cristiano Stefenoni

As mortes do youtuber PC Siqueira, 37 anos, na quarta-feira (27), e da jovem Jéssica Vitória, 22 anos, na sexta-feira (23) têm algo em comum: ambos foram condenados pelo “tribunal da internet”, que usa da cultura do cancelamento para promover um linchamento público virtual. Os dois foram vítimas de fakenews, também sofriam de depressão e tiraram a própria vida. As tragédias ligaram o alerta dos pais, que tentam, de alguma forma, blindarem seus filhos para que situações semelhantes não aconteçam dentro de suas próprias casas.

O doutor em Psicologia e psicanalista especialista em Neurociência, pastor Édson de Oliveira Pinto, afirma que toda informação caluniosa, injuriosa e difamatória trazem um impacto muito grande na vida das pessoas. Ele explica que o cérebro humano tende a assimilar mais as informações ruins do que boas e que esse estrago é ainda maior quando a vítima sofre algum tipo de transtorno mental ou de personalidade.

“Por exemplo: se você estiver em um lugar e 50 pessoas te elogiarem, mas apenas uma te criticar, sua mente tende a esquecer os elogios e a se concentrar nas críticas. Nosso cérebro é assim. Essa sensibilidade às coisas negativas se agrava muito caso a pessoa tenha algum tipo de transtorno mental ou de personalidade, como depressão e ansiedade. A situação ainda piora quando a família é daquelas que veem tudo do lado negativo”, explica Oliveira.

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O doutor alerta que, muitas vezes, uma pessoa aparenta ser saudável, mas dentro de sua mente está um caos. Ou seja, geralmente, não dá para saber como será a reação de alguém que é submetido ao bullying, seja ele de forma presencial ou virtual.

“Essa ideia que muitos falam que ‘não me preocupo com o que dizem a meu respeito’, não é verdade. Todos nós nos preocupamos, sim, com o que falam da gente. Por isso é importante ter toda a responsabilidade ao falarmos de alguém, cuidar com o dizemos a respeito das pessoas”, orienta o pastor.

Cuidado redobrado com os filhos

Para ele, os pais devem ter uma atenção especial em relação aos filhos. “Os pais devem observar, nos filhos, qualquer alteração de comportamento, em sua rotina e o que tem motivado essa mudança. Alterações no sono, no apetite, na forma de andar, no jeito de falar, se está com muita ou pouca energia, se fica agressiva por qualquer coisa, reativa, chora ou quer brigar, e a questão também da alteração cognitiva, tendo um baixo rendimento escolar. Isso vale não só para criança, mas para adultos também”, justifica.

Caso note alguma alteração, o Dr. Édson afirma que o melhor caminho é conversar com os filhos, de forma calma e educada, para que eles tenham a confiança e a segurança de contarem tudo o que realmente está incomodando.

“Pais ou responsáveis precisam ter uma postura suave para criança se sentir confortável e realmente falar o que está acontecendo. Procure um horário em que a criança esteja bem tranquila. Sente-se ao lado dela, comece a brincar e tocar no assunto para ver se ela se abre. Conte uma história que tenha acontecido com você, do tipo, ‘olha, quando eu era pequeno, um dia o menino me bateu na escola’. Isso ajuda a criança a se identificar e poder realmente contar”, ensina.

Prevenção é fundamental

De acordo com o doutor, é fundamental que os pais hajam de forma preventiva para evitar que o pior aconteça com seus filhos. Algumas medidas simples podem ajudar:

“Podemos atuar para prevenir situações como essa enfrentada pela Jéssica e sua família, protegendo as crianças das redes sociais. Os pais têm que saber o que seus filhos estão vendo, acessando. Após uma certa idade, fica mais difícil esse controle, porém, os limites se aprendem desde cedo, tais como fixar um determinado horário para uso da internet, não levar telefone para a cama na hora de dormir, entre outras medidas”, ressalta.

Frustrações são necessárias

O pastor também sugere os pais a educarem seus filhos sobre como passar pelas frustrações da vida. “Hoje, um dos problemas que nós enfrentamos é um nível muito baixo de resistência à frustração, ou seja, tudo que nossos filhos querem eles têm, então, ninguém pode falar mais nada para uma criança. Eles não se frustram, então, quando surge uma situação que frustra, aí vem o desespero, a ansiedade e pensamentos até mesmo de morte”, justifica.

Além disso, pastor Édson lembra que toda a educação dos filhos deve passar pelas orientações divinas e que Deus deve fazer parte do processo de crescimento deles. “A criança precisa ter não apenas confiança nos pais, mas principalmente em Deus, na Bíblia. Tenho visto muitas pessoas terem a vida preservada, exatamente por contar com a esperança que Deus mudará sua realidade, operará um milagre”, finaliza.

As tragédias frutos do cancelamento

PC Siqueira, 37 anos, vinha sendo massacrado nas redes sociais desde 2020, quando teve seu nome envolvido em uma investigação da polícia contra a pedofilia. Mas em 2021, a Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC), da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), afirmou que não havia encontrado provas para indiciar o youtuber. Mesmo assim, Siqueira continuou sendo hostilizado na internet, até que tirou a própria vida.

Jéssica Vitória, 22 anos, também foi alvo de fakenews, quando a página de fofocas Choquei publicou uma informação de que a jovem estaria tendo um caso amoroso com o humorista Whindersson Nunes. Os envolvidos afirmam que a troca de mensagens nunca ocorreu. Mesmo assim, os fãs do artista bombardearam Jéssica com ofensas, inclusive, o próprio autor da página, o empresário Raphael Sousa, debochou da situação. A menina também se matou.

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