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sábado, 27 abril 2024

Evento é vento!

Igreja é muito mais do que evento, é uma comunidade terapêutica, provedora de acolhimento e comunhão compartilhamento, socorro, serviço, testemunho, aprendizagem e disciplina

 
Por Lourenço Stelio Rega
 
Já ouvi diversas pessoas mencionarem que sua igreja é movida a eventos. E até que não é difícil gerenciar (isso não seria pastorear) uma igreja assim, basta colocar a “tropa” em movimento, agitar a todos para que se engajem em atividades e mais atividades em um ocupacionismo frenético a cada “final sagrado de semana”. Tirar fotos, fazer releases para as redes sociais da igreja, para mostrar que o “palco” está em movimento e repetir eventos e mais eventos, pois o show não pode parar.
 
Muito movimento, mas será que está havendo deslocamento? Deslocamento no sentido de cumprir o desafio que Deus nos dá em anunciarmos e vivermos as Boas Novas de modo a sermos tradutores dele por meio de vidas transformadas e transformadoras que transpirem seu agradável e atrativo perfume?
 
Não há como negar o ativismo, pragmatismo e utilitarismo que estão por trás de todo esse movimento em que os participantes possam ser considerados como inocentes úteis para manter o “palco” em movimento. Isso tudo pode estar nos levando a sermos consumidores da realidade, do show, da aeróbica gospel, em vez de necessários construtores da realidade.
 
Cultuar, adorar, louvar a Deus, pregação e ensino de sua Palavra fazem parte do culto, do momento em que consagramos nossa vida a ele. Mas se a adoração for meramente um evento será como um vento (vento é vento) que vem e some.
 
Nosso papel como líderes é ter o cuidado em avaliar o caminho que estamos palmilhando e levando nossos liderados considerando o quanto desses impulsores culturais, filosóficos, vão modelando nossa maneira de legitimar nosso modo de pensar e agir. No fundo poderemos estar sendo “vítimas” ou subproduto destes movimentos sem agirmos como os cristãos de Bereia que conferiam nas Escrituras tudo o que ouviam (Atos 17.11ss). Vamos lembrar que quem não reflete se torna vítima das ideologias!
 
Quando colocamos o ativismo pragmático como ponto de partida poderemos estar reduzindo o Cristianismo a atividades, programas, estruturas, estratégias, eventos, de modo que ser cristão significa simples e meramente trabalhar na igreja, estar envolvido, produzindo como que em uma linha fabril de produção.
 
Nesse sentido o pastor da igreja passa a ser gerente de calendário em vez de pastorear, cuidar do rebanho. O afeto, tão caro ao espírito do pastoreio, é substituído pelo poder, pelo comando, pela visão fabril e produtiva.
 
Ser igreja no mundo, como Jesus nos desafiou como sal e luz, me parece que ficou assim reduzido em ir a um lugar que estabelecemos como sagrado em um dia da semana, que era para ser um dia de descanso e celebração e tem se tornado em dia do cansaço e entretenimento em muitos casos.
 
Precisamos de ação, de prática, mas tudo revestido de fundamentação nas Escrituras, de forma que estruturas, programas, atividades e até mesmo eventos, sejam meios e não o fim de tudo.
 
Igreja é muito mais do que evento, é uma comunidade terapêutica, provedora de acolhimento, comunhão, compartilhamento, socorro, serviço, testemunho, aprendizagem, disciplina também, capacitação de seus membros a serem sal e luz diante de um mundo cruel e sem Deus. É um ambiente fértil para o desenvolvimento da vida em adoração e glorificação a Deus. O resto é vento.
 
Lourenço Stelio Rega é teólogo, especialista em Bioética e Ética, e escritor

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