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quinta-feira, 2 maio 2024

Discípulos, seguidores, mestres ou influencers?

O discipulado fomenta seguidores que miram em Jesus e nas Escrituras como ideais, enquanto o mestre é apenas um “recurso” do maior Mestre

Por Lourenço Stelio Rega

O núcleo imperativo da chamada Grande Comissão focaliza o desafio em fazermos discípulos. Robert Martin-Achard que missão “é uma questão de presença – a presença do Povo de Deus no meio da humanidade e a presença de Deus no meio de seu povo”.

Somos convidados a participarmos de forma comprometida como povo de Deus dentro da história do mundo com a Sua redenção da criação envolvendo a vida como modelo para mobilizar a igreja de Jesus Cristo a ser como que uma sociedade de impacto diante desse mundo que vive um cenário complexo composto por corrupção, promiscuidade, injustiça, egoísmo, cultura de gênero, dilemas ambientais, guerras etc.

O discipulado envolve mudança radical de mindset, muito mais do que apenas ser possuidor de um “cartão magnético” para entrar no céu. O aceitar a Cristo a pessoa faz uma opção de “reobjetivação” de seu projeto de vida, reorientação nos alvos, metas ideais, valores éticos etc.

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Me parece que cresce hoje a caracterização do que de fato é ser discípulo com a figura do ser “seguidor” nas redes sociais e o ser mestre com ser influencer. Até no meio evangélico se amplia a contabilização do número de seguidores nas redes sociais se tornando até referencial para a valorização de ministérios, de funcionalidade e até priorização de investimentos.

Em termos gerais, o influencer ou influenciador atrai seguidores por meio de postagens que chamam a atenção e são compatíveis com suas percepções, desejos e intenções. Há aí uma atração por identificação e não necessariamente por novos desafios que ultrapassem a linha da zona de conforto do seguidor, diferente do discipulado, que necessariamente não está ligado com as preferências do discípulo.

Ser “influencer” implica em buscar “agradar” seus seguidores para conseguir mais seguidores, aumentar sua contabilidade de visualizações e viralizar suas mensagens. Necessariamente o “influencer” não precisa ter vida modelo a ser “copiada”.

Por sua vez, o discipulado é como que uma “transfusão vivencial”, isto é, em que o mestre transfere seus valores e ideais bíblicos para o discípulo, requerendo que o próprio mestre seja modelo de vida referenciado na vida de Jesus, como Paulo nos bem lembra “sejam meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11.1). Além de vida exemplar, ser mestre implica buscar investir em melhores condições de vida do discípulo, mesmo que isso implique em lhe introduzir em processo de admoestação que contradiga suas preferências, suas identificações, que passam a serem avaliadas à luz também dos ideais e valores bíblicos.

O discipulado fomenta seguidores que miram em Jesus e nas Escrituras como seus ideais, o mestre é apenas um intermediário, uma “ferramenta”, “recurso” do maior Mestre para que Sua vida seja “impressa” na vida do discípulo para que também se torne mestre.
É errado então ter seguidores nas redes sociais, não necessariamente. Mas não há como confundir o discipulado com esse cenário de “influencers”, seguidores, “likes e visualizações.

Vamos lembrar do desafio de John Stott: “Não devemos perguntar: ‘O que há de errado com o mundo?’ Esse diagnóstico já foi dado. Em vez disso, devemos perguntar: ‘O que aconteceu com o sal e a luz’?”

Lourenço Stelio Rega é eticista e escritor, licenciado em Filosofia pela UNIFAI-SP, bacharel e mestre em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, mestre em História da Educação e doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP, especialista em Bioética. É missionário da SEPAL.

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