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sexta-feira, 26 abril 2024

Você conhece os crentes “Inadequados”?

Crentes Inadequados
Os Inadequados é composto por cristãos que não se sentem mais representados pela igreja tradicional. Foto: Reprodução / Freepik

“A igreja não é um ambiente, a igreja é um movimento vivo na sociedade”

Por Marlon Max

Cresce mundo afora o números de cristãos que não se veem mais representados por uma instituição religiosa. São pessoas, em sua maioria, que cresceram nas igrejas e receberam a doutrina bíblica e específica de determinada denominação. No Brasil, com o fervor político e dogmático que tomou conta da agenda da população cristã, muitos não encontram lugar para congregar por diferenças de pensamentos.

Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo alerta sobre as mudanças que viriam a ocorrer no mundo. Muito embora, o contexto político e filosófico da época eram diferentes, a recomendação continua pertinente. “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”, diz Paulo em Romanos 12:2. Essa não conformidade, ou inadequação, leva um grupo cada vez mais crescente a dispensar a instituição religiosa, mesmo que não abram mão da fé cristã. Mas afinal, como conciliar as duas coisas?

Um grupo no Brasil, se autointitula, “crentes inadequados”. Segundo o próprio manifesto apresentado por eles, “O Inadequados é uma resposta ao sistema religioso tradicional e fundamentalista. Uma resposta a um cansaço de vermos a discrepância que há entre a igreja de Cristo e o Cristo da Igreja”. Entre outros, à frente deste coletivo está o pastor, escritor e filósofo, João Paulo Berlofa, que organiza semanalmente uma reunião, agora apenas virtual, chamada Garagem. Ele conta que em 2018 passou a receber muitas mensagens de pessoas relatando um certo desconforto dentro das igrejas e com isso deu-se o pontapé inicial dos Inadequados.

“Muita gente me enviava depoimentos dizendo que se sentem inadequadas para a igreja que frequentavam. Nosso movimento é constituído por pessoas 100% inadequadas. Somos inadequados dentro da teologia, ou seja, a teologia que é o grande senso-comum da igreja, nós não nos adequamos. E mesmo fora do campo da fé e da teologia, também somos inadequados, porque fazemos o acolhimento das minorias, aquele grupo de pessoas que são subjugadas”, explica.

Berlofa conta que percebe que a Igreja vive de momentos, e aderem a movimentos de tempos em tempos. Essa suposta mudança de modelo que as igrejas passam, não traduzem uma ressignificação da crença. Para o teólogo, muitos cristãos cansaram da maneira que se expressa a fé em Cristo. “O que acontece é que se professam uma fé mas não há atuação coerente. A ficha está caindo, as pessoas estão notando que os grandes figurões da fé, que estão na mídia, não tem absolutamente nada a ver com o evangelho”, aponta.

A igreja de Cristo mantém seu status histórico de ação social e atuação do Espírito Santo. Mas as instituições, que a maioria das igrejas se transformaram, deixaram de contemplar a urgência em se dialogar com as novas gerações. Berfola traduz essa necessidade de se realinhar com o Cristo da igreja como uma forma de permanecer fazendo o trabalho de Jesus no mundo. “Em meio a templos e sinagogas — lugares que as pessoas se reuniam para prestar culto, Jesus pede uma Igreja (Ekklesia), ou, povo que se reuniriam em seu nome para pensar o bem comum da sociedade”, destaca.

Esse pensamento traduz a crença do pastor que diz que, “a igreja não é um ambiente, a igreja é um movimento vivo na sociedade. A igreja não é um ajuntamento de pessoas, é justamente a diáspora, um espalhamento de pessoas”. João Berlofa é categórico em dizer que não é a intenção do coletivo levar pessoas para dentro de uma igreja (espaço físico), mas criar um lugar de pertencimento para elas. “Nós queremos que as pessoas congreguem, mas não é em um ambiente, mas ter essa congregação de fé cristã posta na sociedade”, frisa.

Inadequados desde quando?

Nascido e criado na igreja evangélica, o líder dos inadequados afirma que também já esteve à frente de vários ministérios na igreja que cresceu. Ele explica que sua mudança ante ao que havia vivido desde criança começa nas diversas tentativas de concluir seminários teológicos. “Eu era inadequado para a teologia deles, então eu fui para o campo da filosofia. Fui para uma faculdade católica de filosofia e teologia”, diz João Berlofa, que conta que também se dedica em pesquisar uma saída para a criação de uma teologia Latinoamericana.

O movimento Inadequados conta hoje com duas sedes físicas: uma em Mogi das Cruzes, em São Paulo, e outra no Rio de Janeiro. Mas Berlofa assume que a presença online do coletivo é muito maior do que as ações presenciais. O movimento que surgiu para ser abrigo aos que se sentiam inadequados, ainda não encontrou uma forma de interlocução com a igreja histórica e tradicional. O pastor diz que tem se esforçado em construir essa ponte.

“Essa é uma chateação minha, a gente não ter uma linha de diálogo posta com os mais tradicionais. Por dois motivos e por causa dos dois lados. Há dificuldade de diálogo com essas pessoas, Eles não aceitam uma conversa diferente. Ao mesmo tempo, do lado de cá, nós criamos uma resistência a essas pessoas. Então hoje, se existe algum tipo de diálogo, é muito pequeno. Mas tenho tentado encontrar formas para que isso aconteça”, concluiu.

A maneira de se pensar a igreja talvez tenha ganhando novos contornos com movimentos como o liderado pelo pastor Berlofa, mas a atuação dos evangélicos seguem acontecendo de formas diferentes, a depender da denominação, localização e orientação teológica. Os cristãos que encontraram refúgio após a “inadequação”, pretendem o mesmo que um crente tradicional: glorificar a Deus, amar ao próximo e ser luz na escuridão do mundo.

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