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sexta-feira, 26 abril 2024

Barbie: Tudo o que você precisa saber sobre o filme para assistir com seus filhos

Barbie: Tudo o que você precisa saber sobre o filme para assistir com seus filhos

As diversas Barbies e Kens podem levar a debates sobre inclusão social e atividades econômicas desenvolvidas por homens e mulheres na sociedade

Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro

De quando em quando um filme causa controvérsia dentro das igrejas. Principalmente quando é um assunto envolvente e atrativo aos nossos filhos, a preocupação parece aumentar. Há pouco o filme Barbie começou a ser exibido e conquistou rapidamente as maiores bilheterias dos últimos tempos. Mesmo antes de chegar às telas dos cinemas, a polêmica já havia se instalado. Seria um filme nocivo aos nossos filhos? Traria ideias erradas sobre a família e sobre sexualidade? Faria com que nossas filhas se sentissem diminuídas por não corresponderem a estereótipos femininos inalcançáveis?

Em pouco tempo surgiram textos e vídeos na internet trazendo discussões a respeito de assuntos em torno do filme, muitos dos quais feitos por pessoas que sequer o haviam assistido. As reações eram totalmente opostas: enquanto alguns aprovavam assistir ao filme, conhecer seu conteúdo e discutir com os filhos a respeito, outros o “demonizavam” como sendo algo tão malévolo que sequer poderia ser mencionado em casa. A polêmica gerou até reações contrárias à boneca, chamada por alguns de elitista e ausente do cotidiano da maioria das casas brasileiras pelo seu custo elevado de compra.

Mas a verdade, é que toda menina nascida após os anos 80 ou teve pelo menos uma Barbie em sua vida ou alguma boneca-cópia, mais baratinha, mas com os mesmos atributos de boneca-mulher.  Não há como negar que Barbie mudou o mundo das brincadeiras infantis. As bonecas-bebês passaram a dividir espaço com as bonecas-mulher. As brincadeiras mudaram. Não que as meninas deixassem de brincar de trocar fraldas e dar “papinha”, mas, também podiam brincar de trocar roupas, sapatinhos, e começar a se projetar quando adultas se vendo na boneca-mulher.

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Barbie encarnava a princesa que toda menina sonhava ser. Claro que o mercado não ficou alheio a este encanto e logo apareceram variações da boneca para que todas as meninas desejassem ter mais de uma, mais roupinhas e mais itens colecionáveis. E claro, o mercado paralelo também tratou de equipar-se com as cópias para aquelas com menor poder aquisitivo também poderem sonhar com esta riqueza de acessórios.

Chega até a ser engraçado que hoje, 40 anos depois que a boneca Barbie começou a ser vendida no Brasil, questionem o padrão de beleza trazido por ela. Sim, com certeza Barbie representa um estereótipo, mas também não o eram as bonecas-bebês também existentes no mesmo período? Todas de pele branca, na maioria do sexo feminino (exceto o Joãozinho e o Feijãozinho), bem nutridas, loirinhas e de olhos azuis.

Você provavelmente possuiu e brincou muito com uma destas bonecas-bebê. E isto fez de você uma racista e androfóbica? Da mesma forma, ter tido uma Barbie não faz de alguém uma pessoa anoréxica. Brinquedos se relacionam com fantasia. E no universo da fantasia, tudo é possível e tudo é divertido. Quem traz esse tipo de questionamento não deve ter tido uma infância feliz.

Mas, se você gostava dos contos de fada e principalmente, se gosta da história de Pinóquio ou gostou do filme “Inteligência Artificial”, o filme Barbie é para você. Não é um filme infantil. Não porque tenha linguagem imprópria ou cenas de sexo. NÃO! Muito pelo contrário, o filme é uma reflexão-crítica sobre o confuso mundo adulto em que vivemos hoje, apesar de regado em uma atmosfera cor-de-rosa.

O filme começa com uma metáfora do filme “2001: uma odisseia no espaço”. Só quem conhece este filme pode perceber a imagem utilizada pela diretora, Greta Gerwig, que é novamente trazida ao meio do filme quando Ken percebe o valor dos homens no mundo real em comparação com o mundo-Barbie.

O filme desenvolve uma crítica não só aos papéis masculinos como também aos femininos nos dois mundos: real e fantasioso. Feminismo e patriarcado são colocados como distorções extremas que só prejudicam a sociedade. As diversas Barbies e Kens, e é claro, o Alan, mostram a diversidade étnica e podem levar a debates sobre inclusão social e atividades econômicas desenvolvidas tanto por homens como mulheres na sociedade.

Realmente, é um filme para adultos, mas que pelos seus personagens carismáticos e baseados em bonecos atrai com certeza crianças e adolescentes. Se este é o caso de sua família, vá assistir com eles, mas antes, prepare-se para uma boa conversa na volta. Veja aqui alguns dos assuntos abordados numa perspectiva bíblica:

Criados à imagem do Criador

O filme Barbie remete muito à história de outro filme: “Inteligência Artificial”. Neste filme, um menino-androide busca pelo seu criador, da mesma forma que Barbie percebe que só encontra as respostas para seus dilemas quando conhece sua criadora, Ruth Handler (que idealizou a boneca). No encontro entre Barbie e Ruth é revelado que esta deu nome de sua filha, Bárbara, para a boneca, nome que Barbie assumirá após tornar-se humana. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Cada ser humano tem suas singularidades e mesmo assim espelha a Deus. Homens e mulheres também são igualmente representações de Deus, sem diferenças hierárquicas.

O texto original de Gênesis 1.27 nos diz: “Deus criou a humanidade à Sua imagem e semelhança. Macho e fêmea os criou”. Quando nos encontramos com nosso Criador, recebemos o nome de seu filho, Jesus, pelo qual passamos a ser conhecidos. “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2 Co 3.18).

Gêneros e papéis sociais

No relato da criação (Gn 2.23) o homem diz que a mulher, tirada de seu próprio corpo, é o seu espelho, onde ele encontra sua plenitude física, social e espiritual. Possuem a mesma natureza e atingem sua plenitude um no outro.  A expressão em hebraico utilizada no versículo 18 em relação à mulher é “complemento adequado”, um “complemento em frente dele”.

A mulher é auxiliadora na medida em que completa e aperfeiçoa o homem. Não é uma relação de complementariedade no sentido de que o que está presente em um, está ausente no outro. Também não é uma relação de igualdade. É uma interdependência (1Co 11.11-12). O filme Barbie ajuda-nos a perceber isto a medida em que mostra que quando os gêneros se distanciam, isto gera tristeza, sofrimento e intolerância. Ken e Barbie existem um para o outro, mas também precisam descobrir seus próprios valores na construção de uma sociedade equilibrada.

Perfeccionismo

Em uma das cenas mais fortes do filme, Barbie percebe que precisa aceitar-se como é. Ela aceita suas imperfeições, desde a celulite até os pés chatos e, eventualmente, sua própria sexualidade. A cena é seguida de uma sequência de imagens de mulheres reais em diversas situações, incluindo a relação entre gerações: corpos femininos regulares e imperfeitos, mas verdadeiros.

Barbie percebe que a beleza da feminilidade não deriva do perfeccionismo, mas sim dos ecos de sua criadora. Todos nós temos imperfeições, com certeza, tanto interna quanto externamente, mas nossa verdadeira beleza brilha quando nos parecemos com nosso Criador, Deus. Aceitar-nos como somos, destaca a criatividade de Deus, nosso Criador e nossas imperfeições são características que nos tornam especiais e singulares aos olhos de Deus. (Sl 139.13-16)

Sobrecarga feminina

Em outra cena forte, a mãe, Glória, explica a Barbie sobre as fortes cobranças lançadas sobre a mulher no mundo real. Ela diz: “Temos de ser sempre extraordinárias, mas parece que sempre fazemos algo errado.” E assim relata as dificuldades em conseguir atender as expectativas da família, do trabalho, da sociedade e até mesmo das demais mulheres, a “irmandade feminina”. Um pouco mais adiante, a própria Glória percebe que “não há problema algum em querer ser apenas uma mãe”.

A autocobrança que muitas vezes lançamos sobre nós mesmas acaba por nos impedir de realizar nossas tarefas da melhor forma. Assim como temos imperfeições físicas, também temos o direito de não sermos perfeitas em todas as tarefas. Mas, se as fizermos, sejam quais forem, “em nome do Senhor Jesus, dando por ele, graças a Deus Pai” (Cl 3.17) veremos a diferença. Um coração grato torna as tarefas mais leves. Da próxima vez que tiver dificuldade no trabalho, agradeça antes por ter um trabalho. Quando for difícil as relações na família, ore por seu esposo e seus filhos. A sobrecarga não vai deixar de existir, mas ficará mais leve, se a partilhar com Jesus.

Feminismo

Embora o feminismo tenha surgido como uma luta pelos direitos das mulheres, o que o cristianismo apoia (Gl 3.28), após muitas vitórias o movimento perdeu seu foco principal atuando em diversas causas que contradizem a Bíblia, como a defesa do aborto. Hoje é necessário separar o feminismo em diversas frentes, sendo que algumas ainda conversam com o cristianismo enquanto outras até o negam.

Patriarcado

Um regime de governo onde o homem desvaloriza a mulher e o feminino. O patriarcado não tem base bíblica. Na Bíblia encontramos patriarcas, que são os líderes masculinos de um povo ou família alargada. Os patriarcas da Bíblia sempre dividiram suas tarefas com as matriarcas, que geralmente eram suas esposas. Enquanto o patriarca era responsável pela segurança do grupo, a matriarca preocupava-se com a gestão econômica e familiar. Como é bem demonstrado no filme, o patriarcado não é a resposta, mas também não é um mundo onde as mulheres mandam em tudo. A busca pelo equilíbrio à luz da Bíblia é a única forma de vivermos dentro do padrão estabelecido por Deus.

(Obs: Minha gratidão especial às irmãs da Comunidade Presbiteriana Reviver, Portugal, que me enviaram seus questionamentos após assistirem juntas ao filme)

Lidice Meyer Pinto Ribeiro é antropóloga bíblica, doutora em antropologia e professora no mestrado em Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, Portugal.

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