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sexta-feira, 26 abril 2024

As festas não são mais como antigamente

A diferença entre as festas do passado e as de hoje está tão gritante que merece uma reflexão

Por Atilano Muradas

Quem lê esse título pensa logo que se trata de um saudosista que comparará as festas de hoje com as festas de antigamente. Pois, acertou. Não tem como não comparar. A diferença entre as festas do passado e as de hoje está tão gritante que merece uma reflexão.

De qualquer festa sei que o que sobra mesmo é canseira, contas para pagar, calo no pé, alguma amizade arranhada, e muito sono, mas é um mal inevitável. O ser humano parece ter no seu DNA um gosto incontrolável por festas. Aniversários, datas comemorativas, conquistas, encontros, chegadas e partidas, campanhas, enfim, tudo é motivo para uma festinha, um churrasquinho. Festa é o que não falta hoje nas igrejas.

Lembro-me bem das festas há vinte, trinta anos. Aliás, nem chamávamos de festa. Era Culto de Ações de Graças, com hora marcada, com preletor convidado. Tinha momento de cânticos, testemunhos, pregação contextualizada, música especial, teatro… Às vezes, era enfadonho, parecido com o longo culto de domingo, mas eram reuniões proveitosas, substanciosas, no sentido de aprendizado, mereciam fotos, filmagens. Podia-se chamar o vizinho, porque ele, certamente, ouviria falar de Jesus, e veria o bom testemunho dos cristãos. Saíamos da festa comentando sobre algo marcante que ouvimos. Que riqueza!

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Considerando que existem exceções, hoje, todas as festas são iguais. As pessoas vão chegando, em geral, em horários diferentes, os “comes e bebes” já estão rolando desde o início, e ninguém mais respeita os docinhos da mesa do bolo… Programa ou liturgia para a festa não existe mais. Ninguém prepara nada. Se acontecer algo de especial, geralmente, é de improviso. Todos entram, sentam, comem, conversam sobre tudo o que deve e não deve ser dito, e voltam para suas casas. O saldo que normalmente fica é uma briga, alguém que contou 30 piadas, o casal sumido que apareceu, a criança que cortou a cabeça… Não passa disso.

Não acho que uma ou outra festa está mais correta. Talvez a mescla das duas fosse a receita ideal para uma comemoração. Para mim, o formalismo das festas do passado é menos chato que a falta de graça das festas de hoje. A coisa festa está tão sem sentido em nossos dias que todas as festas se parecem. Festa de aniversário de um ano do netinho é igual à festa de bodas de ouro do vovô e da vovó. A maioria das pessoas entra e sai da festa sem saber por que esteve lá.

Alguém pode pensar que levei uma cotovelada na última festa, então, por isso estou desabafando. Não, não é isso. Sou obrigado a ir a festas por conta do trabalho, também por ter um grande número de amigos, além de pertencer a uma igreja bem festeira. Mas a verdade é que, nos dias atuais, não discirno qual é festa de cristãos e qual não é. As conversas são as mesmas. Até as bebidas, creia, são as mesmas. Meses atrás, fui criticado numa festa cristã porque não bebia. Inacreditável! Riram de mim. Tive que levantar a voz e desabafar: “Antigamente, um cristão era criticado porque bebia. Agora é criticado porque não bebe?” Percebe como os valores estão se invertendo? Não condeno quem bebe “socialmente”, mas alguns pais estão indo a festas da igreja e bebendo na frente das crianças. Quando esses filhos forem jovens e se embriagarem com que moral esses pais exortarão seus filhos?

A pompa das festas de antigamente eram os ilustres convidados a falar, as palavras da pessoa homenageada, a música, a roupa especialmente confeccionada para o evento, o encontrar familiares distantes… As pessoas, hoje, vão mal vestidas, ninguém mais faz um discurso (se insistir em falar é cortado tantas vezes que fica sem graça e também se corta), se gasta muito mais dinheiro, e o prazer é infinitamente menor.

Por essas e muitas outras razões, tenho saudades das festas de antigamente, em que se buscava primeiramente agradecer a Deus as muitas bênçãos recebidas e, depois, agradar aos homens. Existem coisas que não precisam modernizar. Estava bom como estava.

Artigo de Atilano Muradas, extraído do livro “Se todos os artigos fossem lidos” (Editora Muradas, 2023). Disponível em www.editoramuradas.com

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