“É um documento histórico sobre uma comunidade, sobre o Rio de Janeiro que revela muito da alma do Adriano”, enfatizou a diretora da produção
Geralmente reservado e avesso a entrevistas, Adriano Imperador fez o que não gosta muito de fazer: falou por uma hora com a imprensa nesta terça-feira. O ex-jogador de 40 anos, no entanto, se sentiu à vontade em abordar diferentes assuntos conectados à sua vida e carreira, muitos felizes, outros nem tanto.
Ele sentou na cadeira da sala de imprensa do estádio do Morumbi para dar seu relato sobre “Adriano Imperador”, documentário produzido com a ideia de revelar um Adriano que poucos conhecem por meio de um relato em primeira pessoa do próprio ex-jogador, que está ansioso para ver a reação do público com a série documental. “Mas não quero seguir carreira como ator, não”, brincou.
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Na conversa ao lado da diretora do documentário, Susanna Lira, Adriano se recordou da infância feliz na favela; o período na Inter de Milão; a rivalidade com os argentinos quando defendeu a seleção brasileira; comentou a respeito de sua relação com Ronaldo Fenômeno; relembrou a morte de seu pai, Almir Leite Ribeiro; falou sobre a depressão que enfrentou; as cobranças e a pressão; elencou os motivos de ter se afastado do futebol por mais de uma vez e de ter abreviado sua carreira e afirmou ter se sentido um dos jogadores mais incompreendidos pela opinião pública em virtude de suas decisões.
“Eu era mal compreendido naquela época”, resumiu Adriano, a respeito das pessoas que o questionaram por ter pausado a sua carreira sem saber, na época, que a morte de seu pai, em 2004, quando vivia o auge na Inter de Milão, tirou a sua alegria de jogar bola. “As pessoas meio que não aceitavam que eu tomasse aquela decisão de me afastar do futebol. Mas, para mim, não importava. Importava realmente o que eu estava sentindo. Mas eu fico triste porque eu não era tratado como um ser humano. Só viam o lado do futebol”, afirmou.
A proposta do documentário, que será lançado no serviço de streaming Paramount+, na quinta-feira, é exibir as conquistas, lutas pessoais e familiares e, acima de tudo, o amor que “Didico”, como é carinhosamente chamado, sempre sentiu pela Vila Cruzeiro, favela do Rio de Janeiro onde nasceu e foi criado e para onde retornou quando deu uma pausa no futebol.
“É um documento histórico sobre uma comunidade, sobre o Rio de Janeiro que revela muito da alma do Adriano”, enfatizou Susanna Lira, a diretora da produção. Ela teve uma preciosa e inesperada ajuda de Pedro Paulo, um dos tios do ex-atacante.
“Tio Papau”, como é chamado, documentou mais de 20 anos da vida de Adriano com uma câmera VHS. As valiosas imagens do ex-jogador e deu seus familiares e amigos na Vila Cruzeiro têm destaque na série documental. “É um tesouro que encontramos”, reconhece a diretora. “O tio foi o grande documentarista porque cada frame traduz o Adriano.”
O ex-atacante quis voltar para seu povo, sua comunidade, para ficar com a família e os amigos que o conhecem desde quando era o “Adirano”, apelido criado sem querer pela avó, dona Wanda, que não conseguia pronunciar o nome do neto. Antes, portanto, de ele surgir na base do Flamengo, de ganhar a alcunha de Imperador em Milão e de deixar em prantos os argentinos na conquista da Copa América de 2004 com a seleção brasileira.
“Não me arrependo de nada do que aconteceu. Se pudesse, faria de novo. Voltei à favela pela minha felicidade. Pô, saí da favela para ser Imperador na Itália. Precisava dar uma recuada na minha vida. Naquele momento foi uma decisão pensada que eu tomei”, explicou.
A série documental tem depoimentos de Aloísio Chulapa, Dejan Petkovic, Javier Zanetti, Léo Moura, Ronaldo Fenômeno e Massimo Moratti, presidente da Inter de Milão na época e uma das pessoas mais queridas por Adriano. Foi o empresário italiano que ajudou o Imperador quando teve de lidar com a depressão que o acometeu principalmente em decorrência da morte de seu pai. Poucos, segundo ele, davam atenção ao ser humano Adriano. Só se lembravam do Imperador, um atacante forte e impetuoso e dono de um chute potente em seu pé esquerdo, mas que tinha suas fraquezas.
“Na época eu decidi fazer aquilo tudo porque eu não estava a fim, não estava com a cabeça legal. Ganhava muito dinheiro na época, mas, pela educação que minha família me deu, isso era totalmente errado”.
Com informações Agência Estado