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sábado, 27 abril 2024

A contextualização da igreja e a integridade do evangelho

Hoje em dia, algumas pessoas querem ajustar o evangelho de Jesus Cristo a tendências da sociedade e a interesses de grupos

Joarês Mendes de Freitas

João era um comerciante. Por anos, manteve um mercadinho em sua cidade. Ali vendia frutas, legumes, verduras e tinha uma boa freguesia. Mais tarde se mudou para uma pequena vila no interior e lá decidiu se manter no ramo de hortifrúti. Abriu sua loja, mas a clientela não apareceu. As pessoas não vinham comprar seus produtos. Então se deu conta de que, naquele lugarejo, quase todas as casas tinham uma horta e produziam suas próprias frutas, legumes e verduras. O negócio do João estava fora do contexto dos seus vizinhos. Esperto que era, passou a vender mudas, sementes, adubos, produtos e implementos agrícolas. Foi um sucesso total. A estória do João ilustra o significado da palavra contextualização, que é inserir-se em um contexto, ajustar-se a uma realidade, adaptar-se a uma nova situação ou a um novo ambiente.

Quando aplicamos o termo contextualização ao trabalho da igreja local isso implica em uma leitura adequada do ambiente onde está inserida, quer dizer, identificar as características típicas da comunidade tais como sua história, cultura, suas tradições, costumes e hábitos. Além disso, conhecer as necessidades do seu público alvo e as suas demandas vai permitir que as estratégias e a linguagem sejam relevantes para aquele contexto. Haverá uma conexão, uma interação entre a igreja e a realidade do seu entorno.

Paschoal Piragine Júnior, no livro Contextualizando a igreja de Cristo, afirma que devemos considerar as peculiaridades intrínsecas e extrínsecas da igreja local, uma vez que está inserida em uma cultura própria, tem uma história atrás de si, uma tradição consolidada, ministra a um povo cuja cultura lhe é típica e tem necessidades especificas.

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Quanto ao exposto acima creio que não temos problemas. Estes surgem quando se confunde a contextualização de estratégias, de linguagem, de formas, com uma adaptação dos princípios do evangelho para ajustá-lo “ao gosto do cliente”, diluindo a essência do que Jesus ensinou e viveu. O evangelho é supra cultural, ou seja, ele é o mesmo independente do contexto onde for apresentado. A sua integridade precisa ser preservada e esse é um tremendo desafio para a igreja contemporânea.

Hoje em dia, nos vários segmentos da igreja, algumas pessoas querem ajustar o evangelho de Jesus Cristo a tendências da sociedade e a interesses de grupos. Esse contorcionismo provocado por motivações diversas descaracteriza a essência “da fé uma vez confiada aos santos” (Judas 3), com o propósito de criar uma área de conforto. Nesse sentido há tentativas de reescrever a Bíblia e de reinterpretá-la fora dos princípios hermenêuticos a fim de abonar um estilo de vida, cuja condenação é explícita na Palavra de Deus. 

Jesus é o melhor exemplo de contextualização. Primeiro, pela encarnação, sua imersão na condição humana; depois, pela sua plena identificação com aqueles que desejava alcançar, mas também pelo seu apego aos princípios e valores da Palavra de Deus. Ele nunca abaixou o nível das exigências divinas.

Joarês Mendes de Freitas, pastor emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória, ES e ex-presidente da Convenção Batista do Espírito Santo.

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