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quinta-feira, 25 abril 2024

A alegria que brota no cenário da dor

Há um sorriso no rosto banhado de lágrimas de quem confia em Deus mesmo mergulhado em circunstâncias difíceis
Abrindo a série Ladrões da Alegria, apresentada na edição anterior (março, nº 180) da revista Comunhão, você vai conhecer o primeiro e um dos principais inimigos da alegria do crente: as circunstâncias. São situações alheias à nossa vontade, que nos envolvem em experiências que roubam nossa paz e o sentimento de satisfação, não podem ser subestimadas, nem superestimadas, mas sim vistas em seu real contexto, o humano.

Este tema tem sido alvo de debate, norteado por questionamentos diversos. Por que as circunstâncias afetam tanto nosso estado interior, se Jesus, que é o príncipe da paz, mora em nós? Poderia Deus provocar situações difíceis e de dor para executar um plano Seu na vida de um crente? A depressão como resultado de experiências ruins é normal na vida de um crente?

As respostas para tantas perguntas dependem da experiência de cada um, de seu contexto e história de vida, porém todas encontram base nos ensinamentos bíblicos reunidos pelo reverendo Hernandes Dias Lopes em seu livro Ladrões da Alegria, que inspirou esta série.

A ordem de Deus: “Alegrai-vos no Senhor, regozijai-vos sempre”, registrada em Filipenses 4:4, deixa claro que o cristão não deve ser uma pessoa triste, mesmo em momentos adversos. Ainda assim, o sofrimento trazido por circunstâncias atingiu também alguns grandes profetas e líderes que compõem a galeria de homens de fé encontrada em Hebreus 11, e no nosso dia a dia não é diferente. Circunstâncias desfavoráveis teimam às vezes em invadir nossos lares e igrejas, ameaçando tirar um dos bens mais preciosos que o cristão recebeu de Deus: sua alegria. Pastor Hernandes nos leva a um passeio de reflexões sobre as implicações dessa verdade na vida de qualquer pessoa.

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De acordo com o líder da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória, o fato de crermos em Cristo e termos a convicção de que Ele habita em nós não nos tira nossa característica humana – estamos sujeitos a toda sorte de problemas, que afetam nossos sentimentos e emoções. O que nos diferencia não é o fato de não sofrermos, mas de entendermos que, mesmo que sejamos injustiçados ou passemos pelo vale da dor, Deus nos consola e refrigera a alma. Porém, a capacidade de superar circunstâncias negativas é algo que varia de pessoa para pessoa, ou seja, as reações de cada um não são as mesmas, por isso o comportamento diante da dor não é termômetro para se medir a fé de quem sofre.

“Deus não nos fez como robôs, que reagem de forma previsível diante das experiências da vida. Mesmo quando bombardeados por uma dor, podemos ter esperança. Deus nos dá o direito de chorar. No Antigo Testamento as pessoas pranteavam seus mortos e no Novo Testamento lemos que Jesus chorou”, disse.

O pastor Hernandes afirma que se nos permitimos ficar infelizes por causas sem muita importância, estamos nos esquecendo do fato maior: a presença de Deus em nossas vidas. Ao deixar que tais forças nos subtraiam a felicidade, pecamos contra um imperativo de Deus que diz: “Alegrai-vos”.

“A alegria do cristão, fruto de seu íntimo relacionamento com Deus, deve estar presente mesmo em momentos em que derramamos lágrimas. Parece um paradoxo, mas o cristão, mesmo em circunstâncias infelizes, deve nutrir a felicidade íntima de ser filho e herdeiro de Deus. Ele está no comando, e tudo o que Deus faz é bom”, reforça.

A diferença entre ser e estar alegre
A nossa paz brota no cenário da dor, há um sorriso no rosto banhado de lágrimas daquele que confia em Deus. Essa afirmação é verdadeira quando o crente entende o conceito de alegria não como sentimento ou emoção. A alegria verdadeira é mais que sentimento, é uma pessoa, é Jesus Cristo.

O imperativo de Deus foi lembrado por Paulo a todo momento, especialmente quando esteve na prisão. Em Atos 16: 23-25, a Palavra registra: “E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco. E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam”. Segundo lembra o pastor Hernandes, “o cristão não tem o direito de ser triste. A nossa alegria é supracircunstancial, porque ser alegre quando tudo vai bem até o ateu consegue. Nossa alegria e cristocêntrica”, arremata.

Ele explica que existe uma diferença entre ser e estar alegre. Claro que ninguém está alegre quando está doente ou com o casamento em crise. Mas essa pessoa que não está alegre por causa dos problemas é alegre por causa de Cristo. A verdade é que ser sempre alegre é possível quando estamos ligados ao Senhor, e não às circunstâncias da vida.

Quando a circunstância gera fraqueza
A Bíblia nos garante que as circunstâncias não têm, de fato, a capacidade de nos roubar a alegria e que situações de desconforto são normais na vida de qualquer pessoa, em qualquer tempo e em qualquer cultura. Ela relata a experiência de Asafe, no Salmo 73, para mostrar que sofrimento e tristeza podem ser sinônimos de fraqueza, e cita Jó para mostrar que nem sempre isso acontece.

Asafe passou por uma crise quando olhou para a vida de um ímpio que passava por situações mais favoráveis que ele. Com saúde, sorte, prosperidade, o ímpio falava contra Deus. Asafe, homem piedoso, que lavava a mão na inocência, era a cada manhã castigado. Então, ele pensava que o ímpio tinha uma vida melhor do que a dele. Explicando a experiência de Asafe, pastor Hernandes lembra que a vida cristã não nos impede de ter dores, e que Deus não nos proíbe de dizer que está doendo.

Jó questionou sua sorte, mas não fracassou quando perdeu seus bens, filhos, saúde, o apoio da mulher e dos amigos. Durante seu sofrimento, Jó fez 34 queixas a Deus e ficou sem explicação para a dor que vivia. E quando Deus resolveu falar não foi para explicar o sofrimento de Jó, mas para reafirmar Sua soberania e a Jó fez 70 perguntas, o que levou seu servo a conhecer melhor o Deus a quem servia com sinceridade.

Com base nessa experiência, o pastor explica que sofrer só se constitui um sinal de fraqueza se o crente duvidar de que Deus é soberano. “Mesmo no vale da sombra da morte, Deus está conosco, no controle. E mesmo que nossa vida seja ceifada, lembramos que, se vivemos ou morremos, o fazemos para o Senhor”, diz ele.

Desfazendo o ninho
“Eu não posso impedir que os pássaros voem sobre minha cabeça, mas posso impedir que eles façam ninhos nela…” disse Martinho Lutero. A afirmação do autor da Reforma Protestante mostra que, embora não possamos evitar que nossos pensamentos sejam invadidos por ideias negativas, que nos afligem ou nos fazem pecar, podemos nos recusar a acolhê-los e alimentá-los em nossas mentes. Por isso, não abrigue e não alimente maus pensamentos, que podem levá-lo à depressão – que, aliás, é assunto de outra matéria nesta edição.

Porém, caso isso aconteça, a restauração é perfeitamente alcançável para os que esperam em Deus. Os exemplos bíblicos dessa afirmação são muitos, como o do profeta Elias; Noemi, que depois de perder a família em Moabe, encontra em Deus alento; Paulo, que mesmo enfrentando martírio disse: “Eu sei em quem tenho crido e estou bem certo que é poderoso…” No entanto, nada se compara à experiência amarga de Jesus no Jardim de Getsêmani. Essa não tem paralelo com a experiência humana. Ele não foi alvo dos ladrões da alegria.

Em Isaías 53, a Bíblia revela que Deus lançou sobre Ele a iniquidade de todos nós, e que Ele levou sobre seu corpo no madeiro todo nosso pecado. Sendo santo, fez-se pecador; sendo bendito, se fez maldição. Nenhum teólogo jamais pôde transmitir em palavras o sofrimento pelo qual Jesus passou.

O nosso Senhor disse: “Minha alma está profundamente angustiada até a morte”. Ele não disse isso porque estava com medo da dor ou da morte, mas porque, sendo um Deus santo e puro, estava se fazendo pecado em carne por nós. Fez isso para aplacar a ira de Deus sobre a humanidade, justificando-nos diante do Pai para não recebermos o que merecíamos. Fez isso para mudar a nossa vida, o nosso rumo e as circunstâncias que nos eram contrárias para toda a eternidade. Então, quando estiver triste, lembre-se: “Mas a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo 30:5).

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