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sábado, 27 abril 2024

Líder: o ‘termômetro’ da comunhão na igreja

Comunhão e liderança. Foto: Reprodução
Comunhão e liderança. Foto: Reprodução

Saiba como a liderança pode contribuir para a harmonia entre os crentes na comunidade de fé

Por Patricia Scott

A comunhão pode ser considerada um estilo de vida que deve ser praticado diariamente, envolvendo relacionamentos saudáveis e construtivos. No dicionário, a palavra significa a realização de algo em comum. Dessa forma, no contexto da igreja, essa explicação fica evidenciada pelo desejo de cumprir a missão de anunciar o Evangelho e fazer o nome de Cristo conhecido em todo o mundo.

Assim, conseguir o cumprimento desse propósito de maneira uniforme a partir do envolvimento da diversidade de pessoas inseridas na comunidade de fé, que carregam histórias, alegrias, dores e expectativas diferentes, não é uma tarefa das mais fáceis. Por isso, a postura do líder fará toda a diferença na preservação ou não da comunhão entre os membros da congregação.

Na opinião do pastor Jorge Monteiro, é evidente que o papel da liderança na manutenção da comunhão e unidade na igreja é de extrema importância. “Através da adoção da liderança servidora e transformacional, inspirada pelo exemplo de Jesus, os líderes da igreja podem desempenhar um papel central na construção de uma cultura de cooperação, humildade e foco no bem comum”, assinala o especialista em Liderança.

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Monteiro observa que a vertente transformacional conduz a um objetivo de modificar tanto indivíduos quanto organizações e comunidades. “Ao adotar a abordagem situacional, o líder se torna, notavelmente mais eficaz e estratégico, uma vez que lidera cada pessoa de acordo com sua fase em relação ao assunto ou tarefa, e encara cada situação de forma específica, levando em consideração as particularidades e dimensões”.

Então, ele considera que a construção e o desenvolvimento contínuo da unidade e comunhão na igreja não é apenas uma tarefa, mas uma missão primordial, que requer líderes que estejam dispostos a deixar de lado a vaidade e a ambição pessoal em prol de um objetivo maior. “O desafio não é apenas liderar, mas ter a coragem de aprender e buscar uma forma que glorifique o nome de Jesus”.

Eficiência e precisão

É inegável que toda igreja tem a própria cultura, principalmente em meio a uma variedade de modelos de governança. Elas são estruturadas em ministérios, departamentos e outras subdivisões, que são ocupados em sua maioria por voluntários com diversos dons, talentos, comportamentos, opiniões e ambições. “Muitos investem seu tempo na igreja por pura dedicação ao serviço e senso de comunidade, enquanto outros enxergam uma oportunidade de prestígio e posições”, afirma Monteiro.

Segundo o líder religioso, essa postura não é errada; pelo contrário, quando a motivação é genuína, é válido e significativo. “Entretanto, reconhecer e compreender essa dinâmica são pontos fundamentais para que a liderança atue de forma eficaz e precisa”.

A partir desse cenário, Jorge Monteiro salienta que o líder precisa ter a capacidade de unir as pessoas em torno de um propósito, de uma missão, de uma visão atraente, que as una de tal forma que suas ambições pessoais passem a ser um instrumento a favor de um objetivo maior, e não um desejo de conquista isolado. Para tornar isso possível, de acordo com o pastor, é necessária uma liderança servidora, com foco transformacional e uma abordagem situacional.

Liderança de Jesus

“Isso implica aprender e adotar o estilo de liderança de Jesus. É hora de cessar a busca por referências de liderança no mundo. Compreender de uma vez por todas que Jesus é o maior modelo de liderança, e a Bíblia, o mais valioso e completo manual”, orienta Jorge Monteiro.

O pastor explica ainda que na liderança servidora o interesse pessoal do líder deixa de ser o foco primordial. Isso porque ele prioriza o melhor interesse dos outros. “Esse estilo de liderança substitui a competição pela cooperação, o individualismo pelo espírito de Corpo, o medo pela confiança e o orgulho pela humildade e unidade”, enfatiza, acrescentando que é fundamental compreender que essa visão começa pela liderança.

Para exemplificar, Monteiro cita o ensinamento de Cristo, que lavou os pés dos discípulos, conforme João 13.13-15: Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. “A liderança começa pelo exemplo, que deve partir sempre do líder”.

Evangelho e igreja

Para o teólogo Lourenço Stelio Rega, o Evangelho deve ser encarado como um tripé missional: anunciar, viver e ser, o que resume o ensino do Novo Testamento sobre a vida de uma pessoa convertida a Jesus. “Há enorme ênfase na pregação do evangelho, representada por uma espécie de intencionalidade missionária [o Ide], que é bíblica. No entanto, é preciso dar um toque na dimensão missional, que envolve viver na prática a mensagem verbal da pregação e ser transformado”, esclarece o doutor em Ciências da Religião e professor da Fabapar e da Faculdade Teológica Sul Americana.

Ele assevera que a pessoa aceita Cristo, torna-se salva, mas apenas teria como um “cartão magnético” para ingressar no céu, porque não aplica na prática a mensagem do Evangelho, mantendo os mesmos hábitos e posturas, assim como a forma de lidar com os relacionamentos. “Surgem os conflitos, que fazem desabar a comunhão na igreja”, afirma Lourenço, que continua: “Percebe-se o uso desmedido de poder, ciúmes, inveja, maledicência”.

Para modificar essas atitudes, Rega diz que o líder precisa resgatar o viver e o ser entre os membros. É fundamental ainda, assegura ele, não considerar a igreja como um ponto de encontro de final de semana, uma espécie de “monte da transfiguração” em que se vive um “evangelho romântico”, um transe de final de semana, quando na segunda-feira tudo volta ao normal para o crente. “Evangelho e igreja se vivem em tempo integral e devem alcançar cada esfera da vida pessoal”.

‘Companheiros de jugo’

A partir dessa percepção, Lourenço enfatiza que a igreja não é um espaço para aonde o cristão vai, mas vidas que foram salvas e representam o Evangelho onde estão inseridas, em qualquer momento e dia da semana. “Para que haja essa mentalidade e a comunhão seja preservada, a liderança precisa estimular o estudo da Bíblia, o se ocupar com os ‘domésticos da fé’, unir em pequenos grupos de comunhão, compartilhamento, como ‘companheiros de jugo’”.

Ele destaca que a ampliação do nível de amizade gera mais comunhão entre os membros da igreja. “Assim, cada um pode compreender as limitações pessoais, como também as do outro, sendo sensível para ajudar os que precisam”.

Para atingir essa maturidade espiritual, Lourenço adverte que é necessário redescobrir a essência do Evangelho, que gera transformação e mudança de vida e de caráter. “Não somos salvos pelas obras, mas elas devem se tornar presentes em nossa vida, inclusive na comunhão e unidade da igreja”.

Construção coletiva, mas sob uma liderança que a incentive consistentemente, a comunhão na igreja é fundamental para o alcance dos objetivos maiores do Corpo de Cristo. E, para viabilizar isso, os líderes devem dar ênfase ao ensinamento das Sagradas Escrituras. Em contrapartida, cada membro do Corpo de Cristo precisa estar disposto à mudança de mentalidade, para que verdadeiramente seja sal da Terra e luz do mundo dentro e fora da igreja.

Esta matéria foi originalmente publicada na Revista Comunhão – setembro/2023. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi originalmente escrita.

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