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domingo, 28 abril 2024

Religião não é o principal motivo para rejeição da teoria evolutiva nas escolas

Religião não é o principal motivo para rejeição da teoria evolutiva nas escolas
Religião não é o principal motivo para rejeição da teoria evolutiva nas escolas. Foto: Reprodução/Internet.

Pequeno polígono é o resultado caso os cristãos no Brasil e Itália tivessem respostas iguais. Polígono azul indica maiores diferenças nos dois países do que entre os dois grupos de cristãos no Brasil

A religião influencia a compreensão e aceitação da teoria evolutiva por alunos do ensino médio, mas fatores sociais e culturais como nacionalidade, percepções de ciência e renda familiar são mais influentes, de acordo com um estudo envolvendo 5.500 estudantes brasileiros e italianos de 14 a 16 anos. Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista PLOS ONE .

Os participantes foram convidados a concordar ou discordar de várias afirmações relacionadas à idade da Terra, ao significado dos fósseis e à origem dos seres humanos, entre outros tópicos. Ao analisar os resultados, os pesquisadores concluíram que a nacionalidade era mais relevante do que a religião para a aceitação de teorias sobre ancestralidade comum e seleção natural, que era maior entre os católicos italianos do que entre os católicos brasileiros, por exemplo, enquanto o padrão de respostas era semelhante entre os católicos brasileiros e protestantes.

“Os resultados de nossa pesquisa mostram que um contexto sociocultural mais amplo influencia a aceitação da teoria evolutiva. Sociedades conservadoras como a brasileira tendem a ser mais avessas às ideias evolutivas propostas por Charles Darwin e incluídas no currículo escolar”, disse Nelio Bizzo à Agência FAPESP.

Bizzo é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) e do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF-UNIFESP) no Brasil.

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Cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no Brasil, e da Universidade de Trento, na Itália, colaboraram no estudo, que fez parte de um Projeto Temático sobre questões relacionadas à inclusão da biodiversidade no currículo escolar e realizado sob a égide da Programa FAPESP de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP).

“Queríamos investigar mais profundamente o choque entre religião e evolução porque precisávamos explorar os mecanismos da evolução para entender a biodiversidade e sua conservação. Eles estão relacionados. Os alunos entenderão melhor as consequências da extinção de uma espécie, ou extinções locais e globais, por exemplo, se estiverem familiarizados com conceitos como ancestralidade comum, seleção natural e origem das espécies”, disse Bizzo.

Verdadeiro ou falso

A análise de respostas a afirmações como “A formação do nosso planeta ocorreu há cerca de 4,5 bilhões de anos”, “Os humanos são descendentes de outras espécies de primatas” e “Os fósseis são evidências de seres que viveram no passado”, entre outras, apontaram padrões de maior ou menor aceitação pelos alunos.

Os resultados mostraram aceitação mais frequente da evolução pelos católicos italianos. O padrão de resposta dos católicos brasileiros mais se assemelhava ao dos cristãos não católicos brasileiros (protestantes de várias denominações).

De acordo com o artigo, os católicos italianos e brasileiros diferiam significativamente em sua compreensão do tempo geológico. De fato, o fosso era maior do que a diferença entre as opiniões de católicos e protestantes no Brasil. Os católicos italianos aceitaram mais a evolução e também a entenderam melhor do que os católicos brasileiros.

A aceitação da evolução foi influenciada principalmente pela nacionalidade, sistema educacional, renda e outras variáveis ​​socioeconômicas, capital cultural familiar e atitudes da sociedade em relação ao conhecimento científico em geral.

“Ambos os países têm maioria católica, mas existem grandes diferenças sociais e culturais associadas a fatores complexos como a educação”, disse Bizzo.

Embora haja poucos dados disponíveis, ele acrescentou, pesquisas do Pew Research Center, um think tank com sede nos Estados Unidos, confirmam que a rejeição da evolução não é generalizada ou profundamente enraizada na sociedade italiana. “O mesmo não pode ser dito sobre o Brasil”, disse ele. “Outro estudo do Pew mostrou recentemente que o criacionismo está crescendo entre os adultos no Brasil, e a aceitação da evolução pelos cristãos no Brasil é significativamente menor [51%] do que na Itália [74%].”

A aceitação da teoria da evolução tem sido investigada em muitos estudos nas últimas décadas por ser considerada um pré-requisito para uma melhor compreensão do tema. “Nosso estudo não era sobre se as pessoas entendiam a evolução. Ele foi um passo adiante ao analisar a aceitação, que é necessária para alcançar a compreensão. Se você não aceita a ideia de pensar sobre um assunto, seu entendimento fica inevitavelmente comprometido”, Bizzo disse.

Livros seculares

À luz dessas descobertas, os pesquisadores sugerem que os livros didáticos fornecidos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo sobre as teorias evolutivas de Darwin não deveriam se referir ao relato bíblico da criação de Deus em Gênesis, considerado sagrado por cristãos e judeus.

“Muitos livros didáticos evidentemente pensam que a religião por si só é o fator mais importante ao abordar a evolução, o que leva a teoria de Darwin a ser misturada com a narrativa do Gênesis. Nosso estudo mostra que isso está errado. Do ponto de vista teórico, poderíamos argumentar certos pontos sobre a laicidade do estado, mas nosso estudo não tem nada a ver com isso. O que mostra é que não se deve presumir que a religião deva ser incluída em qualquer relato da evolução, porque, do contrário, os alunos não a aceitariam”, disse Bizzo.

A área do pequeno polígono corresponde ao resultado esperado caso todos os cristãos tivessem respostas semelhantes nos dois países. O polígono azul indica maiores diferenças entre católicos em ambos os países do que diferenças entre os dois grupos de cristãos no mesmo país (Brasil). 

Salvo por metodologia

Em contraste, pesquisas anteriores, incluindo pesquisas em larga escala com mais de 6.000 estudantes europeus, descobriram que a religião é a principal razão para a rejeição da evolução por alunos do ensino médio. O contraste pode ser reflexo de diferenças metodológicas, segundo Bizzo, que explica que a maioria dos estudos sobre o tema envolve questionários em escala Likert, amplamente utilizados em pesquisas de satisfação do cliente.

Essa metodologia geralmente oferece cinco opções de resposta. Por exemplo, em resposta à afirmação de que a Terra tem 4,5 bilhões de anos, as opções provavelmente seriam Concordo totalmente, Concordo um pouco, Nem concordo nem discordo, Discordo um pouco, Discordo totalmente.

“O problema é que o instrumento utilizado [a escala de Likert] atribui um número impreciso às afirmações sobre fatos científicos. A variação nas respostas pode levar à imprecisão na hora de somar os escores. Por isso, é melhor oferecer as opções Sim ou Não, ou Verdadeiro ou Falso, neste tipo de questionário”, disse.

Além disso, continuou, a escala Likert não deve ser usada em estudos sobre temas científicos. “Descobrimos que quando você apresenta uma afirmação reconhecidamente científica, como “vacinas fazem bem à saúde”, quem discorda sabe que está discordando de uma descoberta científica, assim como quem concorda sabe que está se posicionando a favor da ciência”, disse Bizzo.

Outra questão metodológica é a questão do anonimato em estudos sobre temas sensíveis como a religião, por exemplo. “Pesquisas e pesquisas com implicações religiosas, especialmente em contextos conservadores, devem ser conduzidas de forma a evitar o que a literatura chama de ‘desejabilidade social’, onde os entrevistados sabem o que se espera deles e tentam atender a essa expectativa em vez de dizer exatamente o que eles pensam. As expectativas sociais podem ter contribuído para a imprecisão das medições feitas por esses diferentes estudos”, disse ele.

Com informações de phys.org/news

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