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quinta-feira, 2 maio 2024

Olhares: Pregadores e eloquentes

Decidi meditar sobre inúmeros pontos e trazê-los aos pastores e pregadores deste tempo: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17)

Por Pr. João Carlos Marins

Não sei em que percentual, mas a Bíblia que grande parte dos cristãos lê é aquela porção semanal, que é lida nos encontros periódicos dos crentes, que ocorrem e suas comunidades. Muitos de nós ‘assistimos’ apenas a um ‘culto’ semanal. A questão não está na quantidade de horas que a gente passa em reunião com os irmãos, semanalmente, mas o quanto nos expomos à Palavra de Deus. Provavelmente, nestes tempos esquisitos, a maioria de nós tem mais tempo de permanência sob a sombra das Redes Sociais do que sob a luz da Palavra de Deus, e eu me incluo nessa estatística.

Somado a isto, pregadores eloquentes, que têm despejado sobre nós a sua retórica, muitas vezes servem como ‘encantadores de serpentes’, com as suas frases de efeito, o uso de verbetes em hebraico e grego, muitas vezes para impressionar seus públicos, e mensagens que agem como agentes motivacionais, além de não gerarem transformação em nós, causam-nos uma sensação de satisfação; nossos copos são enchidos nos ‘cultos dominicais’ e já não nos vemos ‘necessitados’ de voltar a enchê-los ao longo da semana. Claro que isto não vale para todos, mas, certamente, para grande parte de nós.

Desde muito tempo venho ouvindo que ‘brasileiro não gosta de ler’. Sendo isto verdade, considerando os argumentos introdutórios, temos um corpo de crentes reprodutores das ideias dos pregadores, quaisquer que sejam, que não têm, como liturgia diária, a leitura (crítica) da Palavra de Deus, e que não consegue discernir o que ouve. Vou citar um caso, começando por uma pergunta: Zaqueu (Lucas 19.1-10) era ladrão? Certamente, diremos que sim! Dizemos que Zaqueu era ladrão, mesmo que a Bíblia não o declare.

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Dizemos que Zaqueu era ladrão porque os pregadores que ouvimos, ao longo da nossa caminhada, o disseram. Dizemos que Zaqueu era ladrão porque a tradição dos judeus nos diz que publicanos exorbitavam na cobrança das taxas, em benefício próprio. Assim que você puder, vá para o texto e responda se Zaqueu era realmente um ladrão. Por outro lado, nunca ouvi ninguém dizer que Mateus, aquele que escreveu o primeiro livro que aparece no Novo Testamento, era ladrão, apesar dele ter sido também publicano.

Se Jesus nos disse ‘e conhecereis a verdade, e a verdade nos libertará’ (João 8.32), seja a Verdade o próprio Jesus, ou seja, a Verdade a própria Palavra de Deus, temos que conhecer tanto a Jesus quanto à Palavra para sermos libertos. E, lembremo-nos do versículo introdutório, que nos diz que ‘o ouvir vem pela Palavra de Deus’. Se lemos em I Tessalonicenses 5.21 ‘observai todas as coisas, e retém o que é bom’, como poderemos checar aquilo que temos ouvido em nossos encontros periódicos se não conhecemos a Palavra de Deus suficientemente?

Estive, por alguns anos, no exercício da liderança cristã, tendo sido formado da mesma forma que a grande maioria dos líderes cristãos o foram. Confesso que também fui um reprodutor das coisas que ouvi ao longo da minha carreira. Mas, a partir de um tempo passei a me dar ao questionamento do que lia na Bíblia, cotejando seu conteúdo com o modelo contemporâneo da igreja cristã. Isto acontecia dentro de determinados parâmetros e, ainda que alguma prática comum nas comunidades cristãs atuais não ‘batessem’ com as praticadas pela igreja do primeiro século, em nome do zelo, e para não confundir os meus ouvintes, fui reservando minhas críticas apenas para mim mesmo.

Com a minha renúncia aos papéis de liderança formal, o que ocorreu no ano de 2006, me permiti expandir a minha curiosidade bíblica, e a minha crítica. Para muitos, a crítica é do Diabo, é perigosa, e pode causar algum tipo de desvio de rota. A crítica, no entanto, pode aprofundar o entendimento, e nos colocar mais intensamente em contato com a busca pelo conhecimento da vontade Deus, que é boa, agradável e perfeita (Romanos 12.2). Aos poucos, comecei a procurar saber o que, no escopo da Palavra de Deus, é exclusivo dos judeus e do Judaísmo, e o que é preceito para os cristãos, e o que diz respeito a todos os homens. Assim, passei a perceber, salvo erro de juízo, que havia, e há, coisas que são bíblicas, mas que não são cristãs.

Qualquer um de nós pode fazer este movimento, e isto apenas pela leitura da Bíblia, muito embora o uso da literatura deixada por pensadores cristãos, antigos e contemporâneos, nos ajude a compreender até que ponto estamos sendo honestos para com as conclusões que tiramos, os nossos pontos de vista.

Passei, então, a anotar estas minhas percepções até o ponto que entendi que, assim como se deu a Reforma Protestante, em 1517, sacudindo os alicerces da Igreja Cristã Romana, vejo como necessária uma nova reforma que sacuda as bases do atual cristianismo. Ao meu olhar, a igreja cristã contemporânea pouco se parece com a igreja do primeiro século, aquela igreja que nos é apresentada nos escritos do Novo Testamento. Você pode até não concordar comigo nisto.

Assim, decidi meditar sobre inúmeros pontos, escrever sobre eles, trazê-los a público, para que, se possível, possa gerar curiosidade entre os crentes, interesse pelos assuntos bíblicos, ainda que não sejam o cardápio preferido dos pastores e pregadores deste tempo. Se a Bíblia nos diz que ‘o povo está sendo destruído por que lhe falta conhecimento’ (Oseias 4.6), então, que nos voltemos para o conhecimento, e isto não é possível com a leitura de um único texto num culto dominical. É o tempo do Lugar Secreto, da conversa constante com Deus, do contato com a Sua Palavra que encurtará o nosso caminho. Já não nos basta um Gamaliel (Atos 22.3) moderno!

Com isto, vamos considerar, numa série denominada Olhares, sobre temas que possam ser úteis para Deus sedimentar em nós a sua verdade, e assim venhamos a conhecê-lo mais e mais, até que atinjamos a estatura de varão perfeito (Efésios 4.13). Nisto pensai!

João Carlos Marins é pastor e especialista no tema responsabilidade social.

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