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quarta-feira, 1 maio 2024

O desafio de viver uma vida ordinária em comunhão com Deus

Não precisamos refletir muito para percebermos que nosso cristianismo tende a ser mais superficial e perde sua conexão direta com Deus

Por Adriel Moreira Barbosa

“Para mim, o tempo de ação não difere do tempo de oração, e no barulho e na confusão
de minha cozinha, enquanto várias pessoas estão juntas pedindo tantas coisas diferentes,
eu possuo a Deus na mesma tranquilidade de quando estou de joelhos.”

Estas palavras foram escritas por um jovem cristão do século 17, cuja única ambição era permanecer sempre na presença de Deus. Refiro-me a Nicholas Herman, nascido na região de Lorraine, na França, entre 1608 e 1614. Aos 18 anos, Nicholas teve um encontro profundo com Deus, que marcou definitivamente sua vida. Em 1640, ele entrou para um mosteiro carmelita, em Paris, como irmão leigo.

Em pouco tempo, recebeu o hábito marrom e assumiu o nome religioso de Lawrence da Ressurreição. Ele recebeu a responsabilidade de ser o cozinheiro da comunidade, trabalho difícil, que realizou por cerca de quinze anos, até que suas enfermidades o forçaram uma mudança para a loja de sandálias, onde podia trabalhar sentado.

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Mesmo vivendo quatro séculos atrás, este simples e dedicado cristão nos
transmite uma mensagem tão poderosa e tão necessária os nossos dias. Se, para ele,
permanecer na presença de Deus foi seu maior desafio, imagine para nós que vivemos
permanentemente solicitados e pressionados ao extremo, por todos os lados, para
sermos produtivos e eficientes?

Não precisamos refletir muito para percebermos que nosso cristianismo tende a
ser cada vez mais superficial. Também não é tão difícil notar a dificuldade que temos de
permanecermos em oração por meia hora ou mais — seja pelo cansaço ou pela
enxurrada de pensamentos que nos afligem e atravessam nossa quietude. (Tem gente
que nem sabe o que isso significa).

Curiosamente, apesar de Lawrence viver em um mundo tão diferente do nosso,
suas palavras parecem traduzir muitas das preocupações do cristão atual, que deseja ter
comunhão com Deus. Lawrence disse: “Quando nossa mente contrai o mau hábito de
vaguear e se dispersar, torna-se difícil vencê-los, porque somos atraídos para essas
coisas terrenas, mesmo contra nossa vontade.”

Fico imaginando se algum leitor ou leitora poderá dizer: “Graças a Deus, eu não
luto com esse problema”. Porque, na verdade, se era difícil para alguém que vivia sem
luz elétrica, sem celular e sem ter de trabalhar das 8 às 18, de segunda a sábado, qual
será o tamanho do desafio para cada um de nós? Nada pequeno, tenho certeza.

O que aprendemos com o irmão Lawrence é que a “prática da presença de Deus”
(nome de seu livro) é um desafio para os cristãos de todas as épocas, não só para nós,
pois, na verdade, os entraves e problemas que temos para mantermos nossa comunhão
com Deus não estão relacionados com questões culturais, mas com o pecado. Por isso, a
resposta dada por ele para o problema apontado em suas palavras anteriores é:
“Acredito que o remédio para isso seja confessar nossos pecados e nos humilhar diante
de Deus.”

Seja qual for o nosso problema quando olhamos para nós mesmos e nos vemos
distantes do Senhor, devemos começar por uma autoanálise e uma profunda reflexão
sobre os nossos valores para identificarmos o pecado (ou pecados) que estão por trás de
nossas desculpas e falhas. Que Deus nos ajude a não nos perdermos dele.

Adriel Moreira Barbosa é professor na Universidade da Grande Dourados. É Mestre e Doutor pela Universidade Metodista de São Paulo. Atua com redação e revisão de textos teológicos, Bíblias de Estudo, devocionais e material didático para o ensino superior. Participou em atividades missionárias transculturais e gestão de projetos sociais e de ajuda humanitária (Bolívia, Moçambique, sertão nordestino brasileiro e ilhas do litoral paulista).

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