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quarta-feira, 1 maio 2024

O desafio de ser professor no Brasil

Mesmo com a tecnologia, a figura do professor sempre será necessária. Foto: Freepik

Agressões na sala de aula, baixos salários e problemas emocionais. Dia do Professor liga o alerta sobre a profissão mais importante e desvalorizada da atualidade. 

Por Cristiano Stefenoni

O sonho de ser professor no Brasil se tornou um pesadelo. Além da desvalorização crescente da categoria, a violência tem afastado cada vez mais os docentes das salas de aula. Mais de 51% dos educadores já foram agredidos nas escolas, sendo que 60% dos agressores eram alunos e 31% seus próprios pais, segundo dados da ONG Nova Escola e do Instituto Ame a Sua Mente. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, mais do que homenagens o magistério quer respeito.

Toda semana, 10% das escolas registram intimidação ou abuso verbal contra educadores. A média internacional é de 3%. E esse cenário parece piorar a cada ano. O país registrou 30 ataques às instituições de ensino nos últimos 21 anos, conforme estudo da Unicamp. Além do risco para a própria vida e do conhecido estresse diário da profissão, os professores têm sofrido com o desgaste emocional.

A Pesquisa Saúde Mental dos Educadores 2022 revelou que os problemas de saúde mental mais comuns enfrentados pelos professores são: ansiedade (60,1%), baixo rendimento e cansaço excessivo (48,1%), problemas com sono (41,1%) e ainda dificuldade de socialização e isolamento, sensação de tristeza e aumento do consumo de psicoativos e álcool.

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De acordo com o professor Dr. William Douglas, que também é desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, a pessoa do educador foi, é e sempre será o caminho para melhorar a vida das pessoas e do país, mas infelizmente, o ofício está cada vez mais desprestigiado.

“Isso é péssimo para todos. O motivo dessa falta de respeito com o professor dentro da sala de aula é exatamente a falta de educação que deveria começar em casa. O fenômeno atual da perda generalizada de respeito à autoridade também é culpa da leniência para com os alunos que agridem os docentes”, afirma Douglas.

Para exemplificar essa situação, ele cita o caso da professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jan Alyne, que foi acusada de “racismo” por uma aluna – mulher trans – ao errar na referência ao seu gênero, falando “chateado” em vez de “chateada”.

“Ela foi acusada de racismo em episódio no qual não houve a menor referência à cor das participantes. O que salvou a professora foi um áudio gravado durante a aula, o qual revela o verdadeiro teor dos acontecimentos. Sempre precisaremos dos professores, a dúvida que tenho é se alguém vai querer e essa missão”, lamenta o professor.

Carreira no magistério passa por reformulação

Mais de 3 milhões de estudantes universitários no país cursam a modalidade na Educação a Distância (EaD), uma alta de 87% comparado com 2014, segundo dados do Censo da Educação Superior 2022, divulgado no dia 10 deste mês pelo Ministério da Educação (MEC). Ou seja, aquilo que no início era apenas mais uma opção de ensino tem se tornado a prioridade dos estudantes. Com isso, há uma necessidade natural dos professores se adaptarem à nova realidade.

Tanto que o próprio MEC criou o Grupo de Trabalho de Formação Docente, onde está prevista uma supervisão específica nos cursos de licenciatura em relação à modalidade a distância. Só em 2022, por exemplo, foram registradas 1.669.911 matrículas desse tipo de curso, sendo que a graduação em Pedagogia foi a preferida por 49,2% dos professores.

O desafio de ser professor no Brasil
Fontes: Unicamp, UFRGS, OCDE, IBGE, Nova Escola, ONG Ame sua mente, Insur Tech Asus, Guia do Estudante.

“A EaD é uma realidade e diria que uma necessidade, face às dimensões geográficas de nosso país. Outros países possuem maior experiência em EaD e apresentam bons resultados. A questão que devemos encarar inclui estabelecer exigências adequadas para que um curso EaD seja aprovado e a fiscalização para que tais exigências sejam cumpridas”, ressalta o professor João Leonel, mestre em Ciências da Religião, doutor em Teoria e História Literária e também pastor da Igreja Presbiteriana de Tatuí (SP).

Contudo ele lembra que, mesmo com a tecnologia, a figura do professor sempre será necessária. “Na base de toda profissão, seja tecnológica ou não, há um professor. Ninguém consegue se desenvolver na área tecnológica, seja na produção e operação de hardwares ou softwares, ou em outras atividades dessa área tão complexa, sem que seja instruído por um educador”, justifica.

Mas para que outras pessoas sintam o deseja de serem professores no futuro, o professor João Leonel diz que é preciso que o magistério seja mais valorizado. “Acima de tudo, que os governos municipais, estaduais e federais se empenhem para reverter esse quadro. Mais verbas, planos de carreiras atraentes, manutenção e assimilação dos doutores formados nas universidades brasileiras visando a constituição de quadros científicos de ponta, são algumas iniciativas urgentes e necessárias”, finaliza.

 

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