Por Patrícia Grossman

Em uma das mais profundas e conhecidas parábolas de Jesus, a Parábola dos Talentos (Mt 25.14-30), encontra-se uma poderosa lição: mais do que multiplicar, é preciso aprender a transbordar

A história contada no Evangelho de Mateus de um homem rico que, antes de partir para uma viagem, confia seus bens a três de seus servos pode parecer uma narração antiga e distante sobre bens materiais e dinheiro. Mas seu significado profundo está intrinsecamente relacionado com uma vida abundante e em conformidade com os desejos de Deus para Seus filhos de maneira ampla.

Segundo a história, a cada servo o senhor dá uma quantidade diferente de talentos, uma moeda de grande valor na época. Ao primeiro servo, dá cinco talentos, ao segundo, dois, e ao terceiro, um, “conforme a capacidade de cada um” (Mateus 25.15). Os dois primeiros servos investem e multiplicam os talentos que receberam, dobrando sua quantidade. O terceiro, porém, temendo perder o talento, opta por enterrá-lo para não correr riscos.

“Jesus, nessa parábola, está ensinando que você tem que aprender a viver e a multiplicar aquilo que Deus te deu. O talento pode ser financeiro, mas também pode ser o talento de alegria, um talento de um sorriso, um talento de comunhão. Por exemplo, se Deus nos deu um talento de saúde, então, eu vou multiplicar saúde na vida das pessoas que não têm saúde, visitando-as, cuidando delas. Na minha visão, isso é inclusive empreender”, explica o pastor Kennedy Sobrinho, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério de Madureira, em Campo de Caldas Novas/GO, para quem a parábola dos Talentos mostra uma perspectiva de vida transbordante.

Ele destaca que Deus dota todos de dons e talentos únicos, incluindo alegria, saúde e muitos outros, para serem multiplicados e partilhados em prol dos irmãos. De acordo com suas palavras, a parábola convida a uma jornada de autoconhecimento, incentivando todos a descobrirem dons e potenciais dados por Deus, multiplicando-os com sabedoria.

A lição do transbordar

Mas multiplicar talentos por quê? Segundo os entrevistados pela revista Comunhão, isso significa exercitar a fidelidade na administração dos recursos a quem Deus os confiou. “Você recebe o talento, multiplica, transborda, compartilha e assim todos vivem em abundância”, resume pastor Kennedy.

“Nossa fidelidade passa pela responsabilidade de empregarmos na obra de Deus tudo quanto dEle temos recebido”, explica Clésio Guimarães, ensinando que inclusive bens materiais e dinheiro podem transbordar na vida do cristão. Clésio é autor do livro “A Bíblia e as Finanças”, no qual discute a importância do dinheiro para o crescimento da Igreja. “Nem o próprio Jesus prescindiu de recursos financeiros para sua missão”, reforça ele, ressaltando, porém, que isso não é tudo.

Ao que o pastor Kennedy adiciona: “Tem gente que não tem dinheiro, mas é rica. A pessoa tem vários amigos, uma família que a ama, os patrões ou os colaboradores, os funcionários ou os amigos de trabalho. Esse multiplicou seus talentos e está transbordando”.

“O dinheiro foi criado para ser servo, não senhor dos homens. Em economia, o dinheiro é classificado como um intermediário para as trocas”, diz Clésio. Entretanto, tudo isso faz parte de um processo de aprendizagem, como ele explica: “é semelhante ao trabalho de um lavrador, que semeia as sementes com o propósito de colher os frutos. Para que esse processo frutifique, é essencial possuir uma boa terra, aplicar os fertilizantes adequados, empregar técnicas apropriadas e exercitar a paciência, a fim de que todas as etapas ocorram no tempo certo”.