Pastores relembram a Reforma Protestante e alertam sobre momento atual da igreja.
Por Cristiano Stefenoni
Mais do que o rompimento com as doutrinas católicas, a Reforma Protestante, que nesta terça-feira (31) completa 506 anos, impactou a Europa em todos os aspectos: culturais, políticos, educacionais e religiosos. Ao fixar as suas 95 teses na capela de Wittemberg, na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546) jamais poderia imaginar as proporções históricas que isso tomaria. Mas e hoje? Será que o evangélico tem honrado todo sacrifício feito pelos reformadores como João Calvino, John Wycliffe, entre outros?
“A Reforma Protestante, encabeçada por Martinho Lutero e outros reformadores, sinaliza para os cristãos que a fé não pode ser estratificada, nem se acomodar. Se queremos ter uma fé operosa, que influencia a nossa geração, precisamos viver essa renovação diariamente”, afirma o pastor Josué Ebenézer de Sousa Soares, da Comunidade Batista Atos 2 de Nova Friburgo (RJ).
Para ele, a igreja vive hoje um momento delicado, onde prevalece uma religião rasa. “Percebo um contingente muito grande de cristãos vivendo uma fé superficial, de resultados e de emoções baratas. Parte da culpa disso advém de lideranças que têm focado no crescimento das igrejas – desde o surgimento de modelos eclesiásticos nos anos 1980, calcados em estratégias empresariais –, em detrimento de uma vida responsável, calcada em princípios e valores, que para os cristãos bíblicos é inegociável”, alerta Soares.
Necessidade de reforma
O teólogo Lourenço Stelio Rega, Ph.D. em Ciências da Religião, também acredita que a igreja atual precisa passar por uma “reforma” espiritual. “Parece que a igreja tem se transformado em um lugar, um ponto de encontro de final de semana. Então, qual a diferença nesse tipo de igreja e da igreja oficial do Estado na época de Lutero? Parece que ‘frequentar’ o culto é como ir à missa. O culto se transformou em sacramento e meio de graça ou somos salvos por Jesus?”, questiona Rega.
Ele também critica a forma como muitos membros da igreja atual vivem a sua vida espiritual. “Para algumas pessoas, Deus passou a ser uma espécie de “personal guru”, colocado à disposição do crente para que seu projeto pessoal de vida possa dar certo. A pessoa vai ao culto como se fosse a qualquer show de um artista famoso, para ver o espetáculo, dançar, pular, bater palmas, como uma aeróbica gospel. O Deus Criador-Rei está se transformando em Deus-servo e garçom”, afirma o teólogo.
Legado é poderoso, mas não o suficiente
Já o pastor Leonino Barbosa Santiago, mestre em Liderança pela Andrews University, ressalta o legado que a Reforma deixou até hoje. “O legado é poderoso e impactante, pois marcou um retorno do cristão à Bíblia Sagrada como base da fé e da comunhão, a salvação pela graça de Deus por meio da fé, Cristo como centro e não o homem e a Igreja como povo de Deus e não uma instituição apenas”, afirma.
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Por outro lado, ele lembra da importância da igreja em buscar uma reforma espiritual diariamente, principalmente, para se proteger das teorias que tentam minar a fé cristã. “Hoje a Igreja precisa retomar essas crenças e posições num movimento de reavivamento, afinal, o relativismo, o subjetivismo, o pós-modernismo e outros ‘ismos’ ameaçam a fé do cristão moderno, como foi no passado também. Assim, uma volta às Escrituras Sagradas como regra de fé e prática pode dinamizar a igreja”, enfatiza o pastor.