Antes de qualquer coisa, penso que o ponto de partida sobre qualquer reflexão a respeito da Bíblia é que ela é, segundo a profissão de fé cristã ortodoxa, infalível em tudo o que ensina. A Bíblia é, portanto, a Palavra eterna de Deus. Dito isso, precisamos analisar algumas questões, quando nos propomos a responder à pergunta “A Bíblia tem erros?”. Tal questão nunca esteve no centro da agenda dos primeiros cristãos ou até mesmo da igreja. Isso até o século 18, quando o Iluminismo, com sua crença na Razão, colocou em xeque as afirmações sobrenaturalistas da Bíblia. É nesse período, por exemplo, que surgem as raízes do chamado “Liberalismo teológico”, que descredibiliza todos os aspectos metafísicos das Escrituras e contesta a fidedignidade das afirmações bíblicas, com seu método de interpretação histórico-crítico.

No chamado método histórico-crítico, o texto transforma-se em objeto, é estudado de forma científica e histórica. Ou seja, sob essa abordagem literária, a Bíblia tornou-se objeto da estratégia de suspeita e dúvida, tão importante para a prática científica do Iluminismo. Dessa forma, alguns pequenos e periféricos “erros” ou “imprecisões” de informações passaram a ser apontados no texto bíblico. Contudo, tais aparentes contradições, erros, inconsistências e discrepâncias bíblicas são resultantes da implementação do anacronismo – quando critérios modernos de avaliação e de valoração textuais são aplicados a obras literárias antigas.

Há de se levar em conta, também, que os chamados “autógrafos” (originais dos textos bíblicos) já se perderam, restando-nos apenas cópias de cópias, que estão sujeitas a incongruências. No entanto, acima de suas aparentes inexatidões, a Bíblia Sagrada é fidedigna e infalível em tudo o que ensina, de modo que podemos confiar em seus ensinos. Conforme o apóstolo Paulo afirmou a Timóteo, seu filho na fé, as Sagradas Letras são capazes de nos tornar sábios para a salvação em Cristo Jesus e “são inspiradas por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2ª Tm 2.15,16).