Em entrevista à Revista Comunhão, teóloga Alana Farias fala sobre a importância da amizade feminina

Por Lilia Barros

A teóloga Alana Carla Lucena Farias é uma entusiasta dos temas sobre mulheres de um modo geral. Ela é da Paraíba e se dedica a instruir e servir ao público feminino por meio de palestras, conversas, mentoria e estudos sobre os que as personagens bíblicas nos traz de ensinamento. Confira a entrevista:

Comunhão: As mulheres modernas têm algo a aprender com as do passado?

Alana Farias: Sim, com certeza! É importante olharmos para as mulheres do passado e para tudo o que elas passaram para que nós não venhamos a cair nos mesmos erros ou, até mesmo, nos submeter às mesmas coisas. Eu acredito que é essencial olhar para trás, ou seja, para a história, para que possamos caminhar para frente. Precisamos também aprender com as mulheres no decorrer da história, com suas vidas inspiradoras que tanto podem nos ensinar.

O que elas ganharam e o que perderam de lá para cá?

É difícil falar em poucas palavras o que as mulheres ganharam ao longo da história, mas sem dúvida elas lutaram por melhores condições na sociedade, como igualdade de oportunidades, direito ao voto, leis que as protegem e garantiram direitos essenciais. Essa trajetória não foi fácil e devemos reconhecer a importância das muitas mulheres que arregaçaram as mangas e decidiram batalhar por melhorias sociais. Ao mesmo tempo, creio que essa sede por conquistar o mundo acabou gerando perdas, uma vez que muitas mulheres esqueceram a sua essência e acabaram abandonando a própria potência da feminilidade para se encaixar em um mundo masculino.

No universo feminino, o que predomina numa relação de amizade?

Infelizmente ainda existe muita rivalidade e competição nas relações entre mulheres. Muita gente diz que mulheres são assim mesmo, desunidas e competitivas, mas isso não é verdade. Deus não nos criou dessa forma. Somos ensinadas desde cedo que “amizade entre mulheres não é verdadeira” ou que “homens são mais fáceis de lidar”; somos levadas, por uma sociedade machista, a acreditar que outras mulheres são nossas rivais e que precisamos ser melhores que elas, mas esse pensamento é pecaminoso e não pode definir nossas relações.

A família contribuiu para chegarmos a esse ponto?

Crescemos ouvindo nossas mães, avós e tias falando mal de outras mulheres, criticando seus corpos ou suas roupas. Somos formadas achando que mulheres são perigosas, venenosas e traiçoeiras. Isso tem poder sobre a nossa percepção de mundo, mas não deve nos dominar.

Como se livrar dessa cicatriz?

Devemos questionar esses pensamentos que são perpetuados e aprender em Deus a verdadeira identidade feminina. Precisamos nos unir, nos desafiar dia após dia a levantar outras mulheres, elogiá-las e fazê-las crescer. A vitória de outra mulher não significa a sua derrota. Elogiar e incentivar suas amigas não te faz retroceder. A vida já é bastante dura com as mulheres, então precisamos nos unir e tornar o mundo um lugar mais leve de se viver.

Entre os homens é diferente? Por quê?

O universo masculino não lida com tantas cobranças e estereótipos, diferente do feminino. Os relacionamentos entre os homens são vistos como mais leves, com menos preconceitos e até mesmo livres dessa rivalidade. Os meninos são ensinados desde cedo dessa forma, com mais praticidade e

O que é sororidade e como funciona?

Sororidade é um conceito recente que visa descrever a união entre as mulheres, seja através da empatia, do acolhimento, da confiança ou do apoio mútuo. Ela pode ser considerada a versão feminina de fraternidade e vem do latim sóror, que significa “irmãs”. Essa palavra nasceu com o objetivo de incentivar a parceria entre as mulheres e combater a falácia de que mulheres são naturalmente rivais entre si.

A sororidade existe na prática ou é apenas um conceito?

Sororidade existe sim, mas é preciso que mulheres de todas as idades comecem a quebrar os preconceitos e as ideias equivocadas que elas aprenderam. Para que a sororidade aconteça e se desenvolva é preciso da ação de cada mulher, do esforço mútuo para que ela se torne uma realidade paupável na sociedade. Enquanto estivermos ligadas a essa ideia de rivalidade feminina, será difícil encontrarmos uma sororidade verdadeira.

É um estigma dizer que as mulheres não são amigas de verdade?

Isso é um pensamento disseminado pela sociedade que acabou se enraizando no entendimento geral das pessoas. Não há nada na estrutura feminina que indique que mulheres tem a predisposição a serem competitivas e rivais entre si, ou seja, nós não nascemos com essa condição. Dessa forma, podemos concluir que é algo internalizado ao longo da nossa formação, que acaba prejudicando as relações interpessoais e impedindo mulheres de viverem uma bela união.

Das mulheres na Bíblia, cite as que mais te encanta e que tiveram sororidade

Acho linda a história de Rute e Noemi. As duas estavam em uma situação de vulnerabilidade, eram mulheres e viúvas, mas elas decidiram se ajudar. Da mesma forma que Rute ficou ao lado da sua sogra e a acompanhou em seus momento difíceis, Noemi incentivou sua nora a vencer os desafios e a crescer. Elas se apoiaram e juntas conseguiram superar o luto, as dificuldades e os julgamentos. Elas sofreram juntas e, no final, se alegraram juntas na presença do Senhor. Elas são um grande exemplo de como a sororidade é impactante e transformadora.

Algum exemplo bíblico de rivalidade entre mulheres?

A Bíblia aponta para o exemplo de mulheres que competiram entre si, como por exemplo, Lia e Raquel, esposas de Jacó. O texto aponta que elas brigavam pela atenção do marido e, como Raquel era estéril e Lia tinha muitos filhos, isso acabou gerando uma competição destrutiva entre elas, que afetava o bem estar de toda a família. Ao mesmo tempo vemos exemplos de união como Rute e Noemi, que se ajudaram em períodos de crise, ou seja, nós podemos escolher como nos comportar e precisamos combater essa rivalidade.

Estamos no Mês da Mulher. Deixe uma mensagem para elas.

Ser mulher é ser criada à imagem e semelhança de Deus, com um valor inegociável e intransferível. O Senhor nos chama para vivermos o privilégio da feminilidade livremente, sem as amarras do pecado ou de falsos ensinos. Nós temos a benção de servirmos a um Deus que nos ama e nos dignifica, por mais que vivamos em uma sociedade machista. O nosso Deus vem como o nosso libertador e salvador, o único que pode nos preencher e nos satisfazer. Ser mulher diante desse Deus é algo lindo. Portanto, minha irmã, abrace a sua feminilidade, sabendo que o Senhor te fez preciosa aos olhos dele!