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sábado, 27 abril 2024

Comunhão para tempos de empoderamento do “eu”

A importância vital de andar juntos em relacionamentos saudáveis e transformadores

por Syria Luppi

O fenômeno complexo do revanchismo, a cultura do cancelamento e da discórdia que permeia o trato entre as pessoas na sociedade moderna apresenta raízes profundas e com muitas vertentes.

Podemos ir ao passado, quando o entretenimento da comunidade era assistir um apedrejamento público, uma crucificação, cristãos sendo mortos nas arenas de Roma ou, mais tarde, assistir à execução de alguém na guilhotina. O ser humano se acostumou ao “linchamento” porque isso faz parte da sua história e ao longo do tempo nunca abandonou essa prática.

Os desdobramentos dessa cultura reverberam pela sociedade de maneira significativa, tanto que hoje vivemos num clima permanente de tensão entre as relações. É como se todos vivessem “à flor da pele” – basta ir aos noticiários conferir que o Brasil acumula casos de crimes de intolerância praticados por pessoas aguerridas na defesa de suas ideologias e valores.

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Os conflitos são de toda ordem, e não raro descambam para ofensas morais e até físicas, multiplicadas exponencialmente com o advento da internet e das redes sociais.

Desqualificar, menosprezar, discordar, são atitudes que transformam as mídias sociais num palco de guerra, o que pode ocorrer mesmo entre servos de Cristo. Evitar esses conflitos é um desafio permanente no ambiente digital, onde usuários podem expressar suas opiniões sobre qualquer assunto, confiando muitas vezes numa aparente possibilidade
de anonimato.

A revolução digital veio para ficar e transformou completamente a forma como nos comunicamos, interagimos e acessamos informações. Essa conectividade tem impactado todas as esferas da vida humana, desde o pessoal até o global, gerando mudanças sociais, econômicas e culturais significativas.

Mas se a cultura do “linchamento” tem adoecido a nossa sociedade, por outro lado nos incita a exercitar o amor cristão. A hiperconectividade que alcançamos hoje impactou o modo de vida contemporâneo, dando espaço para uma espécie de “empoderamento do eu” – que se traduz num certo orgulho coletivo em torno da percepção de que “ninguém depende mais de ninguém”, pois a realização de boa parte das tarefas cotidianas pode ser desempenhada individualmente numa tela – a começar pelas conversas, que se tornaram mais frias e imediatistas com o auxílio dos aplicativos, diferentemente do que ocorria há décadas.

“Nossa cultura atual tem enfatizado o individualismo, a hipervalorização da solitude, em que o indivíduo não se preocupa mais em compartilhar, é ele quem escolhe, decide, não se importa com a opinião de ninguém, nem de um familiar e muito menos com a opinião de Deus, pois a pessoa se coloca numa posição de se bastar para o mundo. Mas cabe a reflexão: isso tem sido bom para a pessoa que sente? Isso tem sido bom para a sociedade?”, pontuou o Pr. Evaldo Carlos do Santos, da Primeira Igreja Batista Praia da Costa, Vila Velha.

Embora o individualismo possa proporcionar maior liberdade de escolha e expressão, também pode gerar consequências negativas. O foco excessivo no “eu” e na vida dominada pelas telas digitais muitas vezes banaliza o sofrimento real, dificulta a empatia, a compreensão e a capacidade de se colocar no lugar do outro. Isso pode levar a conflitos, desentendimentos e à falta de colaboração em qualquer ambiente, seja em casa, no trabalho, na vida social e na participação em uma igreja.

A busca pela autonomia pode levar à alienação social e emocional, resultando em sentimentos de isolamento, insensibilidade e falta de pertencimento. Aí se entra numa situação perigosa em que as relações superficiais e a falta de conexão autêntica podem adoecer uma pessoa, levando a quadros de ansiedade e depressão.

Qual a saída?

A palavra de Deus revela que fomos criados para andar juntos – isso é observado desde o Éden (Gênesis 2:18), quando Deus criou uma mulher para Adão após afirmar “Não é bom que o homem esteja só.” Deus não criou o homem para a solidão e o individualismo, mas para relacionamentos saudáveis, de troca de experiências e partilha. Essa verdade é reforçada por exemplos como Elias influenciando Eliseu, e Timóteo sendo encorajado por Paulo. A Bíblia nos incentiva a nos encorajarmos mutuamente, a sermos suportes uns para os outros e a oferecermos refúgio nos momentos de dificuldade.

“A influência que exercemos sobre os outros e a influência que recebemos deles moldam nossas vidas. Por meio de amigos fiéis, encontramos cura para nossas feridas e recebemos encorajamento para continuar. As histórias de Davi e Jonatas, Elias e Eliseu, Paulo e Timóteo nos ensinam que, ao andar juntos, alcançamos potenciais maiores do que poderíamos alcançar sozinhos”, lembra o pastor Evaldo Carlos.

Caminhar junto nem sempre é fácil, há tropeços pelo caminho que podem nos ajudar a reconhecer as próprias fragilidades e exercitar a compreensão. “A perfeição individual não é a base da comunidade, mas sim a união entre irmãos, conscientes de suas próprias imperfeições e dispostos a caminhar juntos na busca pela superação. Essa reflexão é um lembrete poderoso de que, ao abraçarmos nossas vulnerabilidades e ao estendermos a mão uns aos outros, fortalecemos os alicerces da comunhão”, esclarece o pastor Evaldo.

Como ser promotores da comunhão

Nada melhor do que nos espelharmos em Cristo para fugir dos perigos do individualismo e sermos promotores da comunhão.As bases da comunhão desejada e ordenada por Ele estão expressas na Palavra, como destaca o pastor Joarês Mendes, da Primeira Igreja Batista de Jardim Camburi, em Vitória.

“O sentido de comunhão no Novo Testamento está explícito em Filipenses 2.2 ‘tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude’. Efésios 4.4 diz algo semelhante ‘há um só corpo, um só espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos’.Em 1 Coríntios 12.12-26, temos uma bela ilustração de comunhão. Ali está a figura do corpo humano, no qual diferentes membros estão intimamente ligados uns aos outros”.

Somos desafiados a perseverar no amor incondicional, dentro e fora da igreja, para que haja a comunhão e que ela faça a diferença neste tempo. “Quando vemos 1 Coríntios 13, o amor é paciente, bondoso, não inveja, não se vangloria, não se orgulha, não maltrata, não procura os seus próprios interesses, não fica irado facilmente… observamos que essa é a atmosfera onde a comunhão vai florescer. Quem gera comunhão é o Espírito Santo e ele faz isso por meio do seu fruto, amor, alegria, paz, bondade, delicadeza, paciência, humildade, fidelidade e domínio próprio – encontramos, então, os requisitos essenciais para a comunhão muito claros”, completou o pastor Joarês.

Na comunhão como igreja de Cristo somos edificados. Em Hebreus 10.25, lemos: “E não deixemos de nos reunir, como fazem alguns, mas encorajemo-nos mutuamente, sobretudo agora que o dia está próximo”. No partilhar diário somos fortalecidos pelo vínculo da fé. A igreja, além de um lugar de adoração a Deus, é o epicentro da nossa transformação espiritual e pessoal.

A hipervalorização do “eu”, que muitas pessoas experimentam em silêncio, está longe de ser o plano divino para nossas vidas. Deus nos criou para trilhar um caminho de relacionamentos, onde cada interação é um aprendizado, cada passo é crescimento para resplandecer o Seu amor.

9 razões para ter comunhão?

Crescimento Espiritual

A comunhão proporciona um ambiente onde os cristãos podem se fortalecer espiritualmente, aprender uns com os outros e compartilhar conhecimentos e perspectivas
sobre a fé.

Apoio Mútuo

Viver como cristão em uma sociedade cada vez mais secularizada pode ser desafiador. A comunhão oferece um espaço onde os crentes podem se apoiar, encorajar e orar uns pelos outros, ajudando a enfrentar os desafios da vida.

Testemunho Coletivo

Em tempos em que os valores cristãos podem entrar em conflito com as tendências culturais, a comunhão permite que os cristãos se apoiem mutuamente na defesa da fé e na promoção dos princípios bíblicos.

Serviço e Ministério

Trabalhar juntos como uma comunidade cristã fortalece a capacidade de servir aos necessitados e impactar positivamente a sociedade

Discipulado e Mentoria

Os cristãos mais experientes podem orientar e ensinar os mais novos na fé, promovendo um crescimento espiritual saudável.

Celebração Conjunta

A comunhão também é um espaço onde os cristãos podem celebrar juntos as bênçãos, vitórias e realizações na vida de cada um. Isso cria um senso de união e gratidão entre os membros.

Resposta a Desafios Sociais
Os cristãos podem se unir para abordar questões sociais relevantes, como pobreza, injustiça e questões morais. A voz coletiva da comunidade pode ter um impacto maior na promoção de mudanças positivas.

Culto em Comunidade

A adoração em grupo é uma parte essencial da prática cristã. A comunhão permite que os crentes se reúnam para adorar a Deus juntos, fortalecendo seu relacionamento com Ele e uns com os outros.

Unidade e Diversidade

A comunhão transcende diferenças de origem étnica, cultural e social, promovendo a unidade na diversidade. Isso reflete a visão bíblica de que todos são um em Cristo.

 

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