Qualquer pessoa é capaz de tocar um instrumento e de cantar, do mesmo modo que é capaz de falar, de enxergar e de ouvir
Por Atilano Muradas
Ministro aulas de música há mais de 40 anos. Em todo esse tempo, lembro-me de ter encontrado apenas dois alunos completamente desafinados, mas que, com o tempo, consegui recuperar. Digo “recuperar”, porque no DNA dessas pessoas já havia uma capacidade inata de cantar e tocar algum instrumento musical. O problema é que, até aquele momento, tal capacidade ainda não havia sido desenvolvida.
Essas duas experiências me fizeram acreditar que qualquer pessoa é capaz de tocar um instrumento e de cantar, do mesmo modo que é capaz de falar, de enxergar e de ouvir. E se não consegue, é porque algo de errado aconteceu no meio do caminho, tipo a pessoa possuir alguma limitação física ou intelectual que a impede. Só não fala, não enxerga e não ouve, quem tem algum impeditivo. Se uma pessoa tem dedos que funcionam normalmente, ela será capaz de aprender a tocar um instrumento, da mesma forma como aprende a usar o computador, o garfo e a faca. Se tiver pregas vocais, será igualmente capaz de cantar. Simples assim!
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Não se precipite! Não estou afirmando que qualquer pessoa pode, apenas pelo treino, cantar como os melhores cantores e tocar como os melhores instrumentistas. Absolutamente! Em qualquer área, sempre existirá uma gradação de 1 a 10. Uns serão nota 10, outros, 7, e outros, 2. Mas, TODOS, sem exceção, poderão cantar e/ou tocar em algum nível. Para comprovar essa afirmação, basta entrarmos em uma igreja e observarmos as pessoas cantando. Mesmo em tons inadequados, o povo vai se virando pra cantar junto, e é fácil perceber que praticamente todos estão afinados. Quem, porventura, “aparenta” desafino ou falta de ritmo, são apenas os menos treinados. Caso recebam alguma instrução musical básica, na certa, ficarão melhores.
Sejamos sinceros: toda pessoa, em algum momento da vida, “sonha” cantar e tocar um instrumento musical. Todavia, mesmo aqueles com quadro genético favorável, acabam não cantando ou tocando, e isso, por inúmeras razões, dentre as quais: falta de treinamento, falta de incentivo, desinteresse, preguiça, falta de alguém por perto que seja da área artística, etc. E o lamentável é que boa parte dos que rompem esses obstáculos e, finalmente, se aventuram no estudo da música, desiste já nos primeiros meses, ou diante da primeira palavra depreciativa que recebe. E isso acontece porque essas pessoas esperam que a formação musical se complete em apenas seis meses. Como isso seria possível, se qualquer curso técnico tem duração média de 1 a 2 anos, e um curso superior dura, no mínimo, 4 anos? Música é uma ciência tão complexa como qualquer outra, que requer disciplina, esforço e, sobretudo, anos de estudo e dedicação. E não falo isso para desestimular. Muito pelo contrário. Meu objetivo é que as pessoas estudem música, mas entendendo que poderá demorar um pouco mais do que imaginam até que se desenvolvam a contento. O segredo será a persistência.
A música, portanto, está acessível a todos, e quem se dispuser a estudá-la, seja profundamente, ou apenas superficialmente, aprenderá, em algum nível – o que já será muito útil –, por duas razões bem simples: primeiro, porque vai melhorar a própria vida da pessoa, pois, comprovadamente, a música ajuda em muito no desenvolvimento mental; e, segundo, porque essa pessoa passaria a entender, minimamente, o que os músicos estão fazendo. Está esperando o que pra começar a estudar música?
Atilano Muradas é pastor, jornalista, teólogo, escritor, compositor e palestrante. Possui 11 CDs gravados e 5 livros publicados. Recebeu o Prêmio Areté, pelo livro “A música dentro e fora da Igreja” (Editora Vida) e participou como comentarista da Bíblia Brasileira de Estudos (Editora Hagnos). Morou por 7 anos nos EUA, onde foi Secretário da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABIInter) e pastor-titular da Brazilian Presbyterian Church, em Houston, no Texas. É autor de vários musicais e articulista de periódicos no Brasil e no exterior
Este artigo foi publicado originalmente em 19 de Outubro de 2021 no portal da Revista Comunhão. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.