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quinta-feira, 2 maio 2024

Oração: “O colo do pai amoroso”

“Deleita-te também no SENHOR, e ele te concederá o que deseja o teu coração” Salmos 37.4 - Foto: lightstock.com

Especialistas detalham questões que envolvem uma das principais disciplinas da fé cristã, tomando como referência os ensinamentos de Jesus

Uma das principais práticas de fé do Cristianismo, a oração está presente no cotidiano dos cristãos. É certo que, para alguns, com mais frequência do que para outros. No entanto, as Sagradas Escrituras destacam amplamente a importância desse hábito, inclusive com inúmeros exemplos de pessoas que tinham uma vida pautada na oração, como Daniel, Josué, Abraão, Ana, Paulo, Raquel, Débora, Moisés, Ester, Habacuque e, claro, Jesus, a maior de todas as referências.

É fácil perceber, a partir da Bíblia, certas atividades que foram um padrão na vida de Cristo. E entre elas a oração tem uma presença notável em todos os tipos de circunstâncias. Por exemplo, depois de curar um leproso, as pessoas o procuravam, “Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava” (Lc 5.16). Em outro momento, enquanto os discípulos estavam no barco, após dispensar a multidão, “ele subiu ao monte para orar” (Mc 6.46). Da mesma forma, na última ceia, Jesus orou ao Pai diante dos discípulos (Jo 17.1-26); e nos minutos anteriores a ser preso à cruz, em meio à angústia, o Messias também orou no Getsêmani (Lc 22.41).

Oração: "O colo do pai amoroso"
“Gosto particularmente da tradução da Bíblia para Todos, cuja parte final de Gn 4.5 dispõe: ‘Foi desde então que se começou a invocar o nome do Senhor’” – Pr. Alan Litwin Igreja Evangélica Lisbonense, em Portugal – Foto: Divulgação

Louvor a Deus

A partir dessa postura de Jesus, o pastor Alan Litwin, da Igreja Evangélica Lisbonense (Presbiteriana), em Portugal, que é ligada no Brasil à Igreja Presbiteriana Independente, explica que o Senhor criou os seres humanos para Seu louvor, ou seja, para se relacionar com o Criador.

Considerando que Deus é um ser transcendental, a forma principal que o indivíduo pode se comunicar com o Criador é através da oração, o que é muito interessante. Isto porque se assemelha com a maneira que utilizamos para nos comunicar, especialmente na oração audível”, considera o líder religioso, que também é mestre em Ciências da Religião.

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Portanto, segundo ele, dentro do contexto bíblico, a oração é uma forma eficaz de a criação comunicar-se com o Criador.

O pastor pontua também que, além da Bíblia Sagrada, existem outros registros históricos sobre orações cristãs, como na obra de São Clemente de Roma, ou em fragmentos de papiros que remontam ao século III d.C., nos quais consta consignada a oração “À Vossa Proteção”. “Contudo, considere-se que esta questão demanda uma pesquisa acurada, até porque muito do que se relata como sendo registro histórico, como fonte, pode certamente se tratar exclusivamente de tradição de fé”, adverte.

Alan detalha ainda que há controvérsia sobre a primeira vez que as Sagradas Escrituras mencionam o termo oração. Há divergência de interpretação quanto à palavra traduzida do hebraico para invocar (Gn 4.26), diz o pastor, haja vista que existe a compreensão que invocar poderia não corresponder a orar. “Compreendo que este é, de fato, o primeiro registro de oração na Bíblia Sagrada, e gosto particularmente da tradução da Bíblia para Todos, cuja parte final do versículo 5 dispõe: ‘Foi desde então que se começou a invocar o nome do Senhor’”.

Neste sentido, ao entender a oração como uma ferramenta para relacionar-se com Deus, e tendo em vista este chamar (invocar) da parte do ser humano para o Criador, “seguramente, este é o primeiro registro bíblico sobre a oração”, assevera Alan. Tal registro, ele detalha, se deu após o assassinato de Abel pelo irmão Caim e a maldição deste último. “Em seguida a este ato, nasceu Sete em substituição de Abel, sendo este o terceiro filho de Adão. Sete teve um filho que se chamou Enos, e desde então se começou a invocar o nome do Senhor”, ressalta o pastor.

Orar sem cessar

Oração: "O colo do pai amoroso"
“A oração não é para manipular as forças espirituais” Pastor Sinvaldo Queiroz – Foto: Divulgação

A expressão surge quando Paulo dá as instruções finais à comunidade de Tessalônica. O apóstolo instrui para que os cristãos permaneçam fiéis às suas instruções. Ele os relembra da necessidade de ficarem vigilantes, haja vista que o Dia do Senhor viria sem aviso prévio, exortando-os, portanto, para que não fossem surpreendidos.

Era importante que os seguidores de Jesus mantivessem a esperança, a alegria, a gratidão, o respeito para com os que trabalhavam em nome do Senhor, e vivessem com sobriedade, animando-se e ajudando-se mutuamente.

“Podemos identificar, de forma evidente, instruções para que eles observassem uma vida que agrade a Deus pelo menos desde o capítulo 4 da carta. A orientação de orar sem cessar se trata de um período de preparo, de um processo até o Dia do Senhor, para que pudessem levar a bom termo as instruções do apóstolo, vivendo de forma a agradar a Deus, eles deveriam estar sempre em oração. Naturalmente, não é literal, como se fosse uma oração que nunca pudesse ter fim”, detalha Alan.

Dentro da perspectiva de constante oração, o pastor considera que não há uma estrutura obrigatória na intercessão. No entanto, ela deve ser verdadeira, de coração, sem falsas aparências.

“É claro que há indícios bíblicos que subsidiam como orar, tal como a própria oração do Pai-Nosso, ensinada pelo Senhor Jesus Cristo”, observa Alan, que continua: “Ainda que seja uma oração perfeita do ponto de vista estrutural, a partir dos versículos que a antecedem no próprio Evangelho de Mateus, é ensinado a não orar como os hipócritas, que buscam ser admirados pelas ações”.

Sempre que é consultado a respeito de como orar, o pastor Alan recorda de Jesus contando do publicano que batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”, (Lc 18.13b).
“Logo, não acredito em estruturas, mas postulo que não pode faltar humildade, fé, verdade e o desejo de que seja feita a vontade de Deus (Mt 26.39)”.

Estilo de vida

“A vida cristã deve ser analisada de uma forma integral”.
Essa é visão do professor Antonio Carlos Barro, que leciona Teologia da Missão, Liderança e Pastoral Contextualizada na Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina, no Paraná. Ele frisa também que todos os aspectos que compõem a prática da fé dos seguidores de Cristo são importantes.

“O desafio de cumprir a missão de Deus precisa de todas as disciplinas espirituais. O que adianta, por exemplo, orar muito e não fazer nada? Ou fazer muita coisa, sem a oração?”, pergunta. Assim, o professor afirma que, ao entender por hábito os momentos de oração, não acredita que o Senhor deseje que a pessoa crie uma regra ou uma hora especial.

“Certamente na caminhada cristã haverá momentos mais críticos do que outros, e nesses períodos é normal orar mais. No entanto, a oração deve ser mais um estilo de vida do que hábitos”, assevera Antonio Carlos, que emenda: “Conforme caminhamos durante o dia, vamos conversando com Deus, pedindo Sua orientação e bênção”.

Ele lembra os ensinamentos acerca da oração nas Sagradas Escrituras, que orientam aos cristãos a “orar sem cessar” (1Ts 5.17), “ser sóbrios e vigilantes em nossas orações” (1Pe 4.7), para “[ser] perseverante na oração (Rm 12.12), e ainda ser “vigilante nela [oração] com ações de graças” (Cl 4.2). “Nessas passagens bíblicas, a oração é incorporada ao viver e não em momentos isolados”, assegura o professor. Ele ensina ainda que, como judeu, Jesus certamente seguia as tradições judaicas e orava três vezes ao dia. “Todavia, não encontramos relatos no Novo Testamento afirmando que Jesus seguia esse ritual”.

Confiança em Deus

Outro detalhe importante, na opinião de Antonio Carlos, é a oração feita pelo Messias antes de morrer. Ele pediu ao Pai que o poupasse daquele sacrifício: “Passa de mim este cálice” (Mt 26.39). Todavia, Ele logo acrescentou: “Todavia não como eu quero, mas como Tu queres”. “Este exemplo de Cristo tem sido esquecido no Cristianismo, atualmente. Quando se ora, chega ao ponto de decretar o que Deus tem que fazer”, salienta e pondera: “O cristão ora e esquece, ao final, dizer: ‘Seja feita a tua vontade’. Cristo ensina que a oração não é para mudar Deus, mas para alinhar a vontade de Deus com a nossa”.

Uma lição também fundamental deixada por Jesus diz respeito às repetições durante a oração. No entanto, de acordo com o professor, a Bíblia caminha em duas direções nesse sentido. A primeira é pedir com insistência, o que está bem claro na parábola da viúva que incomoda o juiz iníquo (Lc 18.1-8). Jesus conclui dizendo: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?”. “No caso da viúva, ela clamava pela mesma coisa, ou seja: repetia sempre o mesmo pedido”, pontua Antonio Carlos.

A segunda é de fato não ser repetitivo nas orações, porque Deus sabe das necessidades de cada um, conforme explanação do professor. “Uma vez que se orou sobre algo, não existe mais a necessidade de ficar repetindo a mesma coisa. Este é um dos segredos da vida cristã: confiança que Deus tem conhecimento, o que consola e anima o nosso coração”. Em contrapartida, “discernir se clamará muitas vezes como a viúva ou se colocará diante do Senhor e descansará nas promessas Dele será determinado pelo momento vivenciado. Somente quem está passando pela situação poderá decidir o que e o quanto orar”.

Vontade do Pai

A partir dessa visão, o pastor Sinvaldo Queiroz, da Igreja Batista da Cidade, em Vitória da Conquista, na Bahia, cita o apóstolo João, em sua primeira carta, que diz: “E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve”. “Orar em nome de Jesus é apresentar diante do Pai aquilo que Cristo pediria”, prega e complementa com a mensagem de Salmos 37.4: “Deleita-te também no SENHOR, e ele te concederá o que deseja o teu coração”. Assim, ele assegura que Deus não há de responder orações que não estejam de acordo com a vontade Dele. “O Criador ouve todas as orações, mas responde somente aquelas que estão no Seu coração. Aqueles que têm prazer na lei do Senhor e nela medita dia e noite deseja viver a vontade do Pai”.

O pastor é categórico ao expor que a oração é o caminho para o relacionamento com o Senhor. Isto porque Jesus liberta o homem do medo do Deus Todo-poderoso e o coloca no colo do Pai amoroso. “A oração não é para manipular as forças espirituais, mas para construir relação com o Pai-Nosso que está nos céus. Não é um meio para receber favores divinos. É porque queremos conhecer e prosseguir em conhecer o Senhor”, salienta o pastor, que é mestrando em Teologia, observando ainda: “É impossível um Cristianismo sem se relacionar com Cristo. E uma das principais maneiras é a oração. Jesus orou, e nos ensinou a orar”.

Em Mateus 6.6, o Mestre ensina: “Mas, quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará”.
Isto significa, de acordo com o pastor, que a oração não é aquilo que Ele ouve, é o que Ele vê. “Não é o que se diz, mas o que a gente é. Por isso, há várias formas de oração, porque ela expressa o que estamos sentindo no momento. Ou seja, é despir-se diante do Pai, que nos conhece”. “E por que Ele nos convida a orar se já nos conhece?”, pergunta Sinvaldo, que responde: “Porque enquanto O conhecemos passamos a nos conhecer um pouco mais e às nossas necessidades. Oramos, inclusive, porque o Espirito de Deus, que habita em nós, intercede a nosso favor”.

O pastor é categórico em dizer não ser verdade que orar move o braço de Deus. Isto se faz com ídolos e com as experiências idolátricas. “Oramos para entrar no movimento de Deus. O primeiro ato é sempre Dele. Ele amou primeiro, por isso nós amamos. Qualquer experiência de oração que prime pela ideia de que coloca Deus em ação não está sob a perspectiva cristã. Isso é manipulação. Fruto de uma consciência idolátrica e distorcida do Evangelho”, analisa Sinvaldo, que aconselha: “Ao orar, descanse no colo amoroso de um Deus que chama você de filho amado, alegria da Sua vida”.

Exemplos inspiradores

Oração: "O colo do pai amoroso"
Ilustração: Janes Ordoñez

“A Bíblia está “recheada” de exemplos de pessoas que tiveram uma vida de entrega à oração nos mais variados momentos e, assim, encontraram refúgio e descanso, além da recompensa da intervenção divina. Conheça, abaixo, alguns deles e seja renovado.

Elias homem de oração

O profeta Elias foi muito usado por Deus. Ele era um homem de oração que viveu num tempo em que Israel experimentava um profundo declínio espiritual. Numa das passagens bíblicas mais conhecidas, Deus respondeu a oração de Elias com fogo sob o holocausto no Monte Carmelo (1 Rs 18.36,37). A partir da história de Elias, é possível aprender a manter uma vida de oração mesmo quando os caminhos do Senhor são rejeitados por outras pessoas. Até no Novo Testamento, Elias é citado como um exemplo de homem de oração (Tg 5.17).

Débora juíza intercessora

Débora é chamada na Bíblia de “profetisa” (Jz 4-5). O termo implica a ideia de que ela era uma mulher de oração. A primeira vez que a palavra hebraica para “profeta” aparece na Bíblia ocorre num contexto que não apenas enfatiza a condição de alguém que recebe revelações da parte de Deus, mas que também intercede por outras pessoas (Gn 20.7). Deus falava com a juíza Débora, e ela com Deus através da oração.

Raquel fervor na súplica

Raquel foi a segunda esposa de Jacó, que sofreu durante muito tempo com a esterilidade. Ela chegou a dizer ao marido que se não tivesse filhos, morreria (Gn 30.1). A Bíblia revela (Gn 30) que Raquel orou muito ao Senhor. Quando ela finalmente concebeu, o escritor de Gênesis registra esse evento dizendo: “E lembrou-se Deus de Raquel; e Deus a ouviu, e abriu a sua madre” (30. 22). Raquel foi mãe biológica de dois filhos de Jacó: José, que se tornou governador do Egito, e Benjamim.

Daniel clamor verdadeiro

O profeta Daniel foi um homem de oração mesmo distante de sua terra natal. Apesar de estar morando como cativo na Babilônia, ele não deixou de lado o compromisso de falar com Deus através da oração (Dn 6.10) com um estilo de vida adorador. O comportamento de Daniel, como um homem de oração, ensina que o cristão deve orar ao Senhor mesmo em terra estranha, em um ambiente hostil.

Boa leitura!

Para saber ainda mais sobre oração, confira os livros de renomados autores. Todos abordam o tema de maneira ampla e aprofundada, o que contribuirá para o seu o crescimento e amadurecimento espiritual.

O Que a Bíblia Fala Sobre Oração
Augustus Nicodemus
Mundo Cristão

Homens de Oração
Hernandes Dias Lopes
Editora Hagnos

Poder Pela Oração
E. M. Bounds
Editora Vida

Mulher de oração
Sheila Walsh
Thomas Nelson

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