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quinta-feira, 2 maio 2024

O aprofundamento das divisões no cristianismo brasileiro

Os valores centrais do evangelho são o que devem constituir a agenda principal para a unidade e convivência harmoniosa dos cristãos

Por Joarês Mendes

Parece que a cada dia ficamos mais distantes do desejo expresso pelo Senhor Jesus Cristo, o fundador do cristianismo, no sonho que traduziu em palavras quando orou pelos seus discípulos de outrora e de agora. Em João 17, por três vezes ele pediu ao Pai pela unidade entre os seus seguidores: “Para que eles sejam um, assim como nós somos um” (v.11), “Que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu estou em ti” (v. 21), “Que eles sejam um, assim como nós somos um” (v. 22). Nessa oração Jesus diz ainda: “Que eles sejam levados à plena unidade” (v 23).

Ainda na igreja nascente, começaram a surgir discordâncias e divisões entre os discípulos. Nos séculos subsequentes a igreja enfrentou heresias e dissensões que resultaram em fragmentação tanto teológica quanto eclesiástica, apesar do trabalho dos pais da igreja para refutar os erros e defender os ensinos de Jesus e dos apóstolos. Com o grande cisma de 1054 d.C. o cristianismo se dividiu entre ocidental (igreja romana) e oriental (igreja ortodoxa). A partir de 1517 d. C. com a eclosão da reforma protestante, iniciada por Martin Lutero, várias correntes foram criadas e estas, com o passar dos anos, tiveram as suas variantes.

Com os descobridores do Brasil chegam aqui os representantes da Igreja Católica Romana e décadas mais tarde aportam em terras brasileiras os missionários das confissões evangélicas e estas mantêm a sua integridade por um bom período até que dissensões internas começam a gerar divisões e novos segmentos vão surgindo. A partir da segunda metade do século 20, essa fragmentação se acentua e se torna uma característica dos evangélicos no Brasil. Dados recentes dão conta de que são registradas 25 novas igrejas evangélicas por dia no solo brasileiro. Boa parte delas surge como divisão de outras e isso devido a conflitos de liderança, personalismos  e discordâncias tanto teológicas quanto administrativas. 

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Mais recentemente, e sobretudo no contexto das últimas eleições, talvez as mais radicalizadas da história recente do país, parece que um novo componente surge nesse horizonte nada luminoso das divisões entre os cristãos. As discussões político-partidárias e ideológicas adentraram as igrejas e surgem como uma nova ameaça nesse universo já tão fragmentado. Radicalismo, intolerância e até mesmo perseguição podem separar ainda mais os cristãos, suas igrejas e denominações.

Está na hora de baixar as armas, admitir os exageros, confessar os pecados e buscar uma convivência harmoniosa com os diversos. Não temos que pensar igual para nos amar uns aos outros, para respeitar nossas diferenças. Encontrar os pontos de convergência é fundamental na construção da unidade em meio à diversidade que caracteriza a igreja de Jesus Cristo. Os valores centrais do evangelho devem constituir a nossa agenda principal e por eles devemos estar unidos. Enquanto nos aspectos não  essenciais, a liberdade de cada pessoa, igreja ou denominação para transitar por aqueles espaços que lhes sejam peculiares deve ser preservada. 

Joarês Mendes de Freitas, pastor emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória, ES e ex-presidente da Convenção Batista do Espírito Santo.

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