Como ter sabedoria para criar filhos à luz da Bíblia e em meio às mudanças do mundo
Por Andressa Rodrigues
“Há 17 anos nasceu meu primeiro filho. Não consigo descrever a mistura de emoções que vivi. Depois, experimentei o mesmo com minhas outras duas crianças. Desde a confirmação da gravidez da minha esposa até o nascimento deles, foram momentos diários de extrema alegria, e isso vai se estendendo à medida que vão crescendo.” É assim que o cantor Fernandinho tenta descrever sua experiência com a paternidade. Como ele, outros homens experimentam o impacto da chegada de um filho, um marco que impõe como essencial o envolvimento em cada etapa do processo para a construção da família. A escolha de ser pai pode impulsionar a vida. Até o eventual medo causado por essa nova realidade gera também ação. É o que afirma o psicólogo e pastor Julio Maia. “O homem ama a mulher e o patrimônio emocional que constrói com ela. O filho faz parte desse patrimônio. O impacto da chegada de um filho para ele pode até provocar temor, mas é um medo ligado à responsabilidade, à luta por correr atrás, de prover e de não deixar faltar.”
Mesmo que não haja uma idade certa para ser pai – há jovens e maduros que desempenham bem sua função –, o especialista explica que existe um ciclo natural que deve ser observado. “A faixa de idade não é fixa, mas há uma diferença de gerações que precisa ser contada. Quando nasce o filho, o pai não tem tanto poder aquisitivo assim, mas nessa fase o filho também não demanda tanto poder aquisitivo. Conforme o filho vai crescendo, a produtividade do pai também cresce. Quando chega a uma idade em que ele precisa muito do apoio do pai, é a época também que o pai está mais producente. No momento que o pai começa a perder a força física, perde o seu poder de produtividade, de mando de tenacidade, mas o filho já é responsável por si, já está adulto. Os ciclos vão invertendo. Se a pessoa demora muito a ter filho, ela erra esse ciclo”, defende.
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Para Yuri Reis, pai da recém-nascida Isabelle, o amor paterno é algo sobrenatural. “O desejo de ser pai sempre foi algo presente em minha vida. Eu e Polyana (esposa) nos planejamos, oramos e entendemos que esta seria a hora, após quase cinco anos de casamento. Minha primeira reação ao ver minha filha foi ter vontade de gritar para o mundo que ela havia nascido. É um amor inexplicável, que nunca havia experimentado. Foi quando entendi um pouco sobre o amor de Deus por nós. Ele nos ama de tal forma que deu Seu filho por nós. Nossa rotina mudou a partir do momento que ela nasceu. Nós nos adaptamos e entendemos que ela é uma bênção do Senhor nas nossas vidas. Faço de tudo para ficar perto delas o maior tempo possível. Meu maior desejo é que ela me veja como um exemplo de ser humano, que ama Jesus”, disse.
Cleres Maciel Azeredo, pai de Pedro e Davi, é outro que participa de perto da criação dos meninos mesmo com a agenda apertada, já que é administrador e trabalha como supervisor do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) para a Região Leste Fluminense. “Toda noite oramos juntos e recitamos o Salmo 4: ‘Em paz me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes habitar em segurança’. A minha prioridade é saber e executar o papel de pai, investir no convívio familiar, sempre ouvir o que eles têm a dizer, sem menosprezar a visão deles e fazendo os ajustes necessários, brincar bastante com eles… Tenho imensa alegria de tê-los ensinado a andar de bicicleta e sempre temos o jantar com toda a família reunida, o que é maravilhoso! Não posso deixar de dizer que tenho nesse grato papel de pai, que é meu e do qual não abdico nem abro mão, uma mulher maravilhosa, a minha esposa”, conta.
Cleres não atribui sua participação ativa à obrigação, mas garante que é a boa lembrança que tem da infância com o seu pai que o leva a querer marcar a memória dos dois filhos. “Lembro-me da minha alegria durante as férias em ir ‘trabalhar’ com ele e de como ele me apresentava aos colegas de trabalho. Como seu trabalho era administrativo, influenciou a escolha da minha profissão. Espero que meus filhos tenham no futuro a lembrança e o exemplo que eu tive do meu pai.”
Fernandinho também não “terceiriza” sua função e investe na formação do caráter cristão dos seus três filhos: “O que tenho de maior valor para oferecer a eles é ensinar o caminho em que devem andar, e este caminho é Cristo. Eu e Paula (a esposa) lutamos para que os valores do Reino sejam estabelecidos neles. Graças a Deus temos colhido frutos desse investimento em suas vidas. As experiências são muitas, mas algo que tem sido marcante é nossa insistência proposital com a intercessão. Cremos que nossa oração constante em favor de nossos filhos é o que pode livrá-los do dia mau.”
No livro de Efésios, Paulo fala que os pais devem criar seus filhos na disciplina e na admoestação do Senhor e não irritá-los. Precisam ser exemplos de espiritualidade. “Dependendo de como se vive a paternidade, os filhos poderão ter uma visão saudável de Deus, o Pai, ou não”, alerta Pr. Gilson.
Segundo Pr. Paulo Roberto de Oliveira Ramos, da Igreja Monte Horebe, no Rio de Janeiro, a Bíblia apresenta três papéis fundamentais do pai: direção, proteção e provisão. “Como sacerdote de seu lar, é função básica do homem dirigir sua família em acordo com os preceitos da Palavra de Deus. Outro ponto é que quando Deus cria o homem e o coloca no Jardim, Ele dá uma ordem ao homem de o guardar e o cultivar (Gênesis 2: 15). O papel do homem em proteger sua família está baseado em submetê-la aos mandamentos divinos. Guardar o que Deus nos manda é garantia de proteção. Até porque os mandamentos de Deus não são prisões que Ele nos impõe, mas limites que nos protegem. Por último, o papel do homem está em ser provedor”, ensina.
Para o treinador de Educação de Filhos da Universidade da Família (UDF), Jorge Fagundes, um dos melhores exemplos bíblicos sobre esse tema vem de José, pai de Jesus. “Contra as circunstâncias que o rodeavam, honrou seu casamento, que é um princípio que defendemos para uma boa paternidade. A Bíblia o relata como um homem justo, honesto e carinhoso. Certamente dedicou seu tempo à paternidade; Jesus tinha inclusive o mesmo ofício que ele”, analisa. Esse tempo dedicado é o que Pr. Paulo Roberto classifica como presença que faz a diferença. “Para ensinarmos nossos filhos, precisamos ser exemplos e estar presentes. Não podemos ser ausentes na criação, crendo que eles estarão supridos emocionalmente se trocarmos nossa presença por presentes. Na verdade, o maior presente que podemos dar a eles é nossa presença. Portanto, nossa preocupação deve ser ensinar a Palavra de forma perseverante através de nosso exemplo e presença.”
Há coisas que apenas o pai vai oferecer ao filho, como a busca pela própria identidade, de acordo com Julio Maia: “O homem faz o processo de individualização (a mãe foi um ser só com o bebê. O pai, ao puxar a criança para ele, quebra um pouco esse cordão umbilical e favorece a criação do filho como indivíduo). O homem dá limites sem envolver as emoções dele, consegue ser contundente sem necessariamente ser bravo”, assinala o psicólogo. Exatamente por essas contribuições únicas, Jorge Fagundes também orienta que a figura masculina seja valorizada, para o bem dos filhos. “Existem hoje movimentos que tentam desqualificar a figura do homem na sociedade. O feminismo tem liderado esse movimento e tem, inclusive, entrado em nossas igrejas. Precisamos estar atentos a essas ideias que procuram tirar o homem do lugar que lhe cabe dentro da família, e a Igreja tem essa grande responsabilidade. O impacto da ausência da figura masculina na vida de uma criança pode ser muito prejudicial. Basta verificar a população carcerária. A grande maioria teve mães presentes, mas os pais eram ausentes ou com uma presença daninha. A falta da figura do pai tem um impacto negativo na formação da sexualidade, em toda a personalidade, com certeza.”
Segundo Pr. Gilson Bifano do Ministério Oikos, a desvalorização social do lar é o início dos males. “Antigamente, até a década de 1970, era mais fácil transmitir valores eternos do cristianismo, porque vivíamos numa sociedade pró-família. Hoje não, tudo conspira contra a família, e os pais estão praticamente sozinhos nessa tarefa. Não há apoio da educação, das leis, da mídia. Somente a Igreja é que tem ajudado. O casamento dos pais tem uma influência, positiva ou negativa, dependendo como vivem a vida conjugal. Alguém já disse que o melhor presente que os pais podem dar aos filhos é viverem bem no casamento. Se os pais viverem uma vida conjugal harmoniosa, equilibrada e saudável, com certeza, isso fará muito bem aos filhos, em todos os sentidos.”
Exemplo e informação são grandes ferramentas para a paternidade sadia num mundo cheio de desafios. “Você realmente precisa crer nos princípios que deseja passar. Nada mais devastador do que tentar transmitir uma coisa na qual você mesmo não acredita”, alerta o treinador da UDF. Pastor Paulo Roberto reforça esse argumento baseando-se no texto bíblico de Provérbios 22:6. “A Bíblia diz: ‘Ensina a criança no caminho em que deve andar’. Reparou que a Bíblia diz no caminho, e não o caminho? Por que ela faz essa distinção? Porque se eu ensino “no” caminho, indica que estou trilhando o mesmo caminho no qual guio meu filho. É impossível ensinar um caminho e trilhar outro.”
Pastor Gilson Bifano orienta a não fugir dos temas do momento, pelo contrário, é melhor buscar informação e dialogar. “Os pais devem estar inteirados, sem ter medo de conhecerem o ‘Baleia Azul’ e essas correntes. Mas é imperativo conversar, esclarecer e mostrar com sabedoria os ensinos da Palavra de Deus. Quanto à ideologia de gênero, jamais devem se dobrar às tentativas de fazer com que a sociedade aceite como verdadeiras e coerentes. É necessário ainda ter muito cuidado com a mídia, pois muitos programas infantis estão cheios desta ideologia satânica dos dias de hoje. E sobre o suicídio, precisam estar atentos aos comportamentos emocionais e psiquiátricos, procurar ajuda de profissionais logo aos primeiros sinais de depressão e comportamentos não compatíveis com a normalidade.”
E a oração é a grande arma na batalha da paternidade. Entregar os filhos a Deus e confiar nEle como o Pai dos pais. “Nossa fonte sempre vem do céu. Como pai, sempre os consagrei em cada situação ao Senhor, sempre clamei que a vontade do céu fosse manifesta na vida deles. Hoje, eles têm famílias e ministérios abençoados. É claro que ainda oro de forma incessante por eles, mas a tarefa de um sacerdote não termina em apenas uma geração. Desde já, consagro a vida, ministério e futura família do meu neto. Precisamos depender a cada dia de Deus em qualquer situação. Nenhuma questão é pequena demais para que não a depositemos em oração no trono da graça”, encerra o pastor e pai Paulo Roberto.