Período sabático no casamento. O casal decide ficar longe um do outro, sem perder o vínculo conjugal por um ano. O que diz a Bíblia?
Por Lilia Barros
“Sabático no casamento” — termo emprestado do período em que o profissional se afasta da carreira, sem perder o vínculo com ela — tem sido opção cada vez mais aceita, principalmente em decorrência da intensa convivência forçada durante a pandemia.
É uma espécie de férias da relação, diferente da máxima “dar um tempo”, porque o casal se separa fisicamente, mas segue compartilhando problemas, decisões e outras providências da vida em comum.
A pastora Eristela Bernardo, de Minas Gerais, ressalta a definição de casamento à luz da Bíblia. “Como cristã entendo o casamento como a Bíblia orienta; segundo Gênesis 2:24 “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”, os dois se tornam uma só carne a partir do casamento e ele só encerra quando um dos cônjuges falece.
Acerca do intervalo de tempo entre o casal, a pastora afirma: “Não vimos na Bíblia nenhum modelo, nenhuma direção para que o casal pudesse, em algum tempo, afastar-se do seu cônjuge, não existe essa possibilidade segundo a Bíblia.”
Autoridade sobre os corpos
Ela explica a mensagem central do texto de Corintios 7:4,5 muito utilizado por aqueles que querem fundamentar a defesa do tempo de descanso entre marido e mulher.
“O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que Satanás não os tente por não terem domínio próprio.” (1 Co 7:3-5)
A exceção
“A única exceção a essa regra seria o acordo entre o marido e a mulher para se absterem de ter relações sexuais por tempo limitado a fim de se dedicarem à oração. Esse texto bíblico não vale para aquelas pessoas que precisam de um fundamento para se afastar do seu cônjuge, biblicamente não existe essa hipótese, segundo esse texto só para relação sexual não no sentido de se tornar independente, morar em outra casa, como se a vida fosse de solteiro, mas por tempo determinado, com objetivo específico de consagração e oração, e desde que seja em comum acordo”, ensina ela.
Longe de satanás
Para evitar problemas após o período de consagração à oração, a pastora Eristela completa. “A própria palavra diz: depois disso devem unir-se novamente tendo relações para que satanás não possa tentá-lo por causa da sua falta de domínio próprio. O casamento traz essa segurança de não se entregar a paixões infames justamente por ter uma vida sexual ativa e saudável.”
O casal que pensa em fazer um sabático no casamento, segundo a pastora, precisa de ajuda. “O sabático não funciona no casamento, precisa avaliar o que está acontecendo com esse casal para desejar estar longe um do outro; quando se chega nesse nível é necessário analisar o que está acontecendo. Quem sabe pensar em fazer algo juntos, viajar, passear para fortalecer a união e não para separar”, sugere.
O que diz o Código Civil?
O Código Civil em seu art. 1.566 diz a respeito dos deveres de ambos os cônjuges no casamento, com sendo: a fidelidade recíproca; a vida em comum, no domicílio conjugal, a mútua assistência, o respeito e consideração mútuos, além do sustento, guarda e educação dos filhos.
Logo, com estes deveres do casamento, como adotar um ano sabático na vida a dois? Como manter a fidelidade, se o propósito do ano sabático pode ser a infidelidade? E, a guarda e educação dos filhos, na hipótese do ano sabático, como fica?
Escritora tira ano sabático do casamento
A escritora americana Robin Rinaldi, de 44 anos, decidiu tirar um ano sabático do casamento. Ela estava casada com Scott Mansfield há 17 anos mas queria ter outras experiências fora do casamento.
No ano passado, o feito acabou virando um livro, publicado com o nome “The wild oats project: Woman’s midlife quest to passion at any cost” (“Projeto puberdade: Uma mulher de meia-idade em busca de paixão a qualquer custo”, em tradução livre).
O casal estabeleceu algumas condições para que a ideia desse certo, como não transar com amigos em comum e usar sempre camisinha. Apesar disso, Scott se deu mal com a experiência, já que a escritora não conseguiu manter o casamento após o término do ano sabático e resolveu voltar a sair com um dos homens que havia conhecido.
A origem do termo vem da cultura judaica:
“Também conhecido por Shemitá (“libertação”, na tradução literal do hebraico), o ano sabático é descrito no Torá (livro sagrado do povo judeu) como o período de descanso da terra, onde os judeus não podiam cultivar a agricultura. De acordo com as regras da bíblia judaica, o ano sabático deve ser feito de sete em sete anos, ou seja, seis anos de cultivo da terra e o sétimo é dedicado ao seu descanso e recuperação. Lembrando que esse sistema também é seguido semanalmente pelas leis do judaísmo, sendo seis dias de trabalho e o sétimo de descanso (shabat).”