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quinta-feira, 2 maio 2024

Hernandes Dias Lopes: ‘meu empenho é levar pastores à primazia da pregação’

Reverendo Hernandes Dias Lopes. Foto: Lucas Henrique.

Com 40 anos de ministério, o reverendo já pregou em todo o Brasil e em diversos países pelo mundo e alcança cerca de 10 milhões de pessoas pelas redes sociais

Por Luciana Almeida 

Um homem que até a adolescência sonhava ser advogado e político, e que dizia que primeiro realizaria seus sonhos e depois dedicaria o restante dos seus dias para o trabalho na obra de Deus.

Apesar de ter nascido num lar cristão, o teólogo conta que sua conversão aconteceu somente aos 17 anos. Com 40 anos de ministério, o reverendo já pregou em todo Brasil e em diversos países pelo mundo.

Com mais de 100 livros publicados, o pastor que alcança aproximadamente 10 milhões de pessoas pelo mundo todo mês pelas redes sociais, fala sobre relacionamentos pós-pandemia, guerra na Ucrânia, eleições e o comportamento do cristão nas redes sociais.

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A Comunhão entrevistou o pastor Hernandes Dias Lopes, e buscou compreender à luz da Palavra de Deus, os últimos acontecimentos no Brasil e no mundo! Confira!  

Vivemos os últimos dois anos e meio em meio a uma pandemia, onde muitas pessoas perderam entes queridos, pessoas próximas. O lastro da pandemia ainda nos castiga. Nunca valorizamos tanto um abraço, a convivência com outras pessoas e a manutenção da saúde mental, por exemplo. Como com o relacionamento íntimo com Deus pode nos ajudar no processo de saúde emocional e saúde mental nesses últimos tempos?

Na pandemia de fato aconteceu algo incomum. Já tivemos epidemias na história, até mais letais do que a Covid-19, mas também mais regionalizadas como a Peste Negra, na Europa, a Febre Espanhola, no começo do século XX. A Covid-19 veio e ganha o nome de pandemia pois atinge o mundo inteiro, e abalou o mundo economicamente, politicamente e cientificamente. Não tínhamos de pronto uma vacina que pudesse imunizar a população. Isso gerou medo, isso gerou especulação. Isso gerou lockdown, isolamento. Isso trouxe sequelas emocionais, físicas, relacionais e, de certa forma, estamos retornando a uma agenda comum paulatinamente, porém, muitas pessoas ficaram sequeladas, com medo até hoje. Alguns nem retornaram, por exemplo, à comunhão da igreja, e outros talvez nem retornem. Mas eu entendo que o nosso relacionamento com Deus precisa reverberar na nossa relação com o próximo. Não posso me relacionar com Deus apenas dentro da minha casa, pois somos uma comunidade, uma família, um rebanho, um corpo. Não há cristianismo isolado. Não há crente desigrejado. Não há possibilidade de eu viver meu cristianismo sozinho. Nem é possível que eu viva numa igreja virtual apenas. Eu posso me servir, sim, do virtual. Posso ser abençoado por uma mensagem virtual. Mas eu preciso de congregar, eu preciso me relacionar, eu preciso pertencer e ser pertencido. Eu preciso abraçar e ser abraçado. Eu preciso ver gente e gente precisa me ver. Então quando sua relação com Deus está pavimentada pela Escritura, isso me leva a um relacionamento com o meu próximo de forma saudável.

E aquelas pessoas que congregavam em alguma igreja com a pandemia, com o isolamento, igrejas fechadas, acabaram se afastando de vez da sua comunhão com Deus? 

Toda tempestade mexe com as estruturas. O fato de alguém frequentar a igreja não significa que necessariamente essa pessoa é convertida. Essa pessoa teve uma experiência verdadeira com Deus. Muitos não voltaram porque nunca foram. São pessoas que frequentavam a igreja mas não eram convertidas. Não tinham a experiência de um novo nascimento. Quem de fato tem uma experiência de novo nascimento, volta. Quem é nascido de novo entende que não podemos viver separado da comunidade. Entende que é uma ovelha e que precisa de estar em seu rebanho. É possível que muita gente que não voltou porque nunca tinha sido convertido de fato. É possível que alguns que sejam convertidos não voltaram por deficiência da sua fé. Precisam amadurecer na fé, crescer na fé. Ter um melhor entendimento das verdades espirituais.

Hernandes Dias Lopes: 'meu empenho é levar pastores à primazia da pregação'
Reverendo Hernandes Dias Lopes.
Foto: Lucas Henrique.
Temos vivido tempos de guerra (Ucrânia), conflitos onde muitas pessoas têm perdido suas vidas e que tem abalado a economia mundial. Qual leitura os cristãos devem fazer neste momento? Em sua opinião, estamos próximos do fim dos tempos ou cada vez mais próximos da volta de Jesus?

Eu acredito que são sinais, mas temos que ter cuidado de não correlacionarmos tudo que acontece com a volta de Jesus naquele momento, para não corrermos o risco de marcar datas. Sempre que alguém marcou data caiu no ridículo. Esse conflito é um sinal? É. Jesus colocou isso em Mateus 24: haverá guerras e rumores de guerras, nação contra a nação, reino contra reino. O que eu não posso é afirmar que, com esse fato, Jesus vai voltar agora, nessa geração. Mas temos que ter o entendimento que todos os dias estamos mais próximos de sua volta, e nosso papel é ter olhos para enxergar esses sinais como por exemplo apostasia, falsos mestres, falsas doutrinas, guerras, rumores de guerras, fome, terremotos, esfriamento do amor. Esses são sinais. O cenário está pronto, e temos que estar atentos. Viver uma vida em paz, sem mácula, de forma irrepreensível pois temos que aguardar a vinda do Senhor.

É curioso observarmos que todos os sinais da vinda de cristo estão acelerando e avolumando. Somente no século XX aconteceram mais guerras que nos períodos anteriores. Tivemos no século passado duas sangrentas guerras mundiais com milhões de vidas ceifadas. Depois tivemos o comunismo com mais de 100 milhões de pessoas mortas. Depois as guerras étnicas, as guerras tribais, as guerras ideológicas, as guerras religiosas. Hoje estamos vendo que o volume desse sinal aponta para nós que Jesus está às portas, e temos que estar vigilantes e preparados.

Estamos em ano de eleição. Como o senhor avalia a participação dos evangélicos na política? Eles estão contribuindo positivamente para a mudança do país ou estão apenas se lançando a um projeto político de poder? Em sua opinião, o cristão deve se envolver com política?

Nós somos um ser político e isso é inevitável. Para mim, ser político não é um pecado. A vida pública é uma sacrossanta vocação. Entretanto, eu penso que para uma pessoa se apresentar como candidato a qualquer cargo, é preciso ter três características:

Primeiro, é preciso ter vocação política, ter espírito público de servir. Na linguagem de Romanos, ele é um ministro, um diácono de Deus a serviço do povo. Então, a pessoa que entra na política sem vocação, entra lá não para pensar no povo a quem ele representa, mas para pensar nele mesmo. Segundo, se tem preparo intelectual para não ser um inocente útil, para não ser massa de manobra. Sem preparo intelectual ele não terá condições de entender a conjuntura da nação tão grande quanto essa, e não conseguirá ter voz de influência onde ele está. Terceiro, ele precisa ter ética, compromisso com valores e princípios morais absolutos para não se dobrar diante da pressão e da sedução do poder. Para não se corromper.

Com essas três características, aqueles que são cristãos de verdade, que tem vocação, tem preparo e tem compromisso com a ética, deveriam entrar na vida pública sim. É lamentável que muitos que entram não tem essas três características e acabam envergonhando o nome do evangelho porque eles só têm nome de evangélicos, mas eles chegam lá e fazem pior do que os incrédulos. Mas destaco que a igreja não é um curral eleitoral, o púlpito não é um palanque e a igreja não deveria entrar no ramo da política do partidário. A igreja não devota no fulano no beltrano, mas a igreja tem valores e princípios que ela defende. Dessa forma, antes de um cristão dar o seu voto, ele precisa perguntar: qual é a plataforma desse partido? Qual é a e filosofia desse partido? Qual é a bandeira desse partido? Esse partido defende aquilo que a Bíblia proíbe? Mas qual é o histórico desse candidato? Ele defende bandeiras que são contrárias aos fundamentos da Palavra de Deus? Um cristão tem princípios e valores que ele não pode negociar. Por exemplo, valor à vida. Defende o aborto ou defende a vida? Defende a liberação de drogas, ou reconhece que as drogas são um pesadelo social? Defende o valor da família e do casamento, ou defende a bandeira de ideologia de gênero nas escolas que perverte, tantas vezes, a mente das crianças? Defende a propriedade privada, ou defende a invasão de terras e o desrespeito a propriedade privada? São inúmeros fatores que devemos observar na escolha do candidato. Essas coisas precisam ser examinadas com critério, não do discurso populista. Não podemos apoiar aquilo que condenamos.

Ainda sobre política, pois acredito que esse seja o assunto do ano, qual orientação o sr. dá para as pessoas evitarem romper laços familiares, ou de amizades, por ideologias políticas? É um assunto que deve ser discutido nas rodas de conversa, ou evitado?

Uma igreja esclarecida ela não suporta essa ideia de voto de cabresto. O crente esclarecido é uma pessoa que tem capacidade de examinar por si mesmo quem é o candidato que deve merecer seu voto. Ao se pregar princípios e valores, não apenas em épocas de campanha, as pessoas serão esclarecidas e na hora de votar terão plena condição para distinguir o que é luz e o que são trevas, o que é doce ou amargo, o que é certo ou errado.

A política hoje é um assunto que, em meio a tantas ideologias e rompimentos sociais relacionados, deve ser levado à mesa para discussões?

Acredito que deve ser levado sim. Não somos como avestruzes que colocam suas cabeças na areia e acha que está tudo certo. Eu discordo plenamente de que política, futebol e religião não se discutem. Discute sim pois toda verdade suporta crítica. Toda verdade suporta questionamento. Uma ideologia que não suporte questionamento tem que ser jogada fora. Uma fé que não suporta questionamento deve ser jogada fora. Pedro diz que você precisa estar pronto para dar razão da sua fé. Mas é preciso amar aquele que discorda de mim. É preciso respeitar as pessoas. Se você pegar os apóstolos de Jesus, havia o Mateus, que era coletor de impostos, e tinha os zelotes, que era um grupo que defendia pegar em armas. Então, temos aí, dois extremos sendo discípulos de Jesus. Agora, é preciso submeter aquilo que entendemos que é ideologia à autoridade das Escrituras. A Bíblia é a nossa única regra de fé e prática. 

Hernandes Dias Lopes: 'meu empenho é levar pastores à primazia da pregação'
Reverendo Hernandes Dias Lopes. Foto: Lucas Henrique.
O sr. sempre fala em suas entrevistas que na adolescência pensava ser político. Hoje, se candidataria a algum cargo público?

Respeito quem pensa diferente de mim, mas tenho uma posição. Sou plenamente favorável que um cristão entre na política, tendo vocação, preparo e ética. Mas não sou favorável que um pastor, ministro do evangelho, pleiteie um cargo político. Não que a politica seja algo desonroso. Porém, acho que quem tem o chamado para ser um pastor, que é pregador do evangelho, um ministro de Deus, é um embaixador de Cristo, ele deva dedicar-se exclusivamente ao seu chamado. Spurgeon dizia: meus filhos, se o rei ou a rainha da Inglaterra convidar vocês para ser embaixadores em quaisquer lugares do mundo, não rebaixem de posto. Vocês já são embaixadores do Rei dos reis, do Senhor dos senhores. Quem tem com clareza o chamado do ministério, penso eu que tem a mais sublime das vocações, sem desmerecer as outras, que é a vocação de anunciar as boas novas, a salvação em Cristo. Não há chamado mais nobre que este.

Temos visto espalhadas pelo Brasil inúmeras igrejas que arrastam milhares de fieis em seus cultos e eventos. Cada uma com sua doutrina, e muitas focadas na pregação da teologia da prosperidade. O que o sr. diz sobre isso?

A teologia da prosperidade não é uma teologia saudável pois, embora Deus, seja um Deus que dá prosperidade, é Deus quem fortalece nossas mãos para adquirirmos riquezas e glórias. O grande espectro é quando se pega um grande espectro de uma verdade bíblica e entra somente com ela, sem analisar o outro lado, você distorce essa verdade. É a proporção da verdade que é a harmonia. Afirmar, como a teologia da prosperidade afirma, que se você é crente terá riquezas materiais, não vai passar por problemas financeiros, não terá uma situação adversa em sua vida financeira, isso não é bíblico.

Pedro diz em Atos 3: não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isso te dou, e ele tinha poder – levanta e anda. Paulo, maior apóstolo, fechando a vida dele em uma masmorra, não tinha sequer uma capa para usar no inverno.  Dizer que a prosperidade é o grande sinal da bênção de Deus, é uma bobagem e não tem base bíblica. Devemos rejeitar essa teologia.

De que maneira os modismos neopentecostais tem afetado a teologia evangélica? O que falta às igrejas evangélicas hoje?

Toda igreja pode correr riscos. O ponto básico é que temos que submeter nossa fé às escrituras. Nenhuma igreja deve entrar em modismos. Todo modismo é furado. Entendemos que a igreja precisa pregar a Palavra, que foi atual ontem, é atual hoje e será atual amanhã. Se eu prego a palavra, não preciso criar mecanismos, iscas para atrair pessoas. Todo modismo é nocivo, e temos que firmar nossa fé na firmeza do evangelho.

Nos últimos 25 anos, muita coisa mudou na cultura da sociedade, principalmente quando se trata em tecnologia e acesso à informação. Esse período é exatamente o tempo de existência da Revista Comunhão, que se mantém firme no mercado cristão. Como fazer evangelismo e ser cristão, na prática, em pleno século XXI, quando temos aí a importância das redes sociais, a valorização das curtidas nas redes sociais, a necessidade de se chamar a atenção e valorizar ter milhares de seguidores?

Não podemos anatematizar as mídias sociais. Temos que agradecer a Deus por elas e usá-las com sabedoria e discernimento. Devemos usar todos os meios possíveis e legítimos para que a Palavra de Deus ganhe celeridade e abrangência. Nesse mundo virtual onde janelas estão abertas para as nações, precisamos ter sabedoria. A igreja precisa se conectar nesse mundo virtual no sentido de usar como instrumento a Palavra de Deus. O que não podemos é usar as mídias sociais para finalidades fúteis. Eu estou presente nas mídias sociais e entendo isso como ministério. Hoje eu alcanço 10 milhões de pessoas por mês nas mídias sociais, mas procurei, lá no começo, consagrar as mídias sociais para a finalidade de levar o evangelho. Se cada cristão consagrar suas mídias sociais usando essa ferramenta conscientemente para dar celeridade e amplitude ao evangelho, nós impactaremos o mundo.

Hernandes Dias Lopes: 'meu empenho é levar pastores à primazia da pregação'
Reverendo Hernandes Dias Lopes. Foto: Lucas Henrique.
Uma vez que vivemos em uma sociedade com tantos prazeres e distrações, o que a igreja vem fazendo para atrair fieis e quais os maiores desafios para se ter uma igreja saudável?

A igreja não é lugar de regrinhas legalistas. A igreja não pode ficar nesse granel de faça isso e não faça aquilo, como se o crente fosse um robozinho que precisa ser monitorado. Nós trabalhamos conscientização da verdade. O crente precisa ser uma pessoa consciente, instruída e madura na fé. Paute a sua vida, a sua conduta pelas escrituras. A igreja instrui e espera que cada um use com sabedoria e discernimento as mídias sociais para edificação.

A importância da pregação expositiva?

Sou defensor ardoroso da pregação expositiva. Prego o texto olhando o texto em sua íntegra, sem pular, olhando as lições que estão ali, dividindo o texto homileticamente mas não pulando o texto, não fugindo do texto, enfrentando o texto, aplicando o texto. A pregação expositiva está fundamentada em um tripé: ler, explicar e aplicar o texto. O pregador que lê o texto e vai embora do texto ele está falando dele mesmo, da cabeça dele. Deus não tem compromisso com o pregador. Ele tem compromisso com a Palavra. Cabe ao pregador expor as escrituras. Não pregar sobre a palavra, mas pregar a palavra. Minha esperança, meu empenho e meu ministério tem sido esse, levar pastores e colegas à primazia da pregação.

Se o senhor fosse deixar uma palavra de exortação para a igreja brasileira, qual seria ela?

O grande desejo que tenho em relação a igreja evangélica é que a igreja precisa de uma grande reforma. A igreja reformada sempre reformando. Isso significa que a igreja em todo tempo precisa checar o que ela está fazendo, o que está pregando. Voltar às origens. A igreja também precisa de um reavivamento espiritual, mesmo igrejas que permanecem numa ortodoxia saudável, precisa de um sopro de vida, voltar para as escrituras, voltar-se para o Senhor.

Parabenizo a revista comunhão por suas bodas de prata. Parabenizo pelo trabalho que tem sido feito ao longo desses 25 anos quando tantas revistas nasceram e fecharam seu ciclo, a Revista comunhão permanece trazendo informação e sendo um veículo de informação relevante no Estado do Espírito Santo e em todo Brasil.

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