Infectologista esclarece alguns questionamentos sobre o novo imunizante, que pode ser aplicado em quem ainda não teve a doença
Por Patricia Scott
O Brasil registra mais de 715 mil casos de dengue, 135 mortes e 481 óbitos em investigação, segundo o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde. O Espírito Santo e o Rio de Janeiro decretaram, nesta quarta-feira (21), estado de epidemia da doença. Outras quatro unidades federativas que já haviam reconhecido a emergência diante do avanço no número de pacientes: Acre, Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais.
A partir desse cenário, a vacinação gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já começou em pelo menos seis dos dez estados selecionados pelo Ministério da Saúde para receberem o lote inicial de 712 mil doses. A distribuição do imunizante foi iniciada no último dia 8 de fevereiro. A escolha dos estados ocorreu a partir do registro de alta taxa de transmissão de dengue tipo 2.
A infectologista Rebecca Saad, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”), destaca os principais sintomas da dengue: febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda de apetite, cansaço e manchas vermelhas pelo corpo são alguns dos principais sintomas da dengue.
Segundo a especialista, em casos mais graves, a doença pode, ainda, causar dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes e sangramento de mucosas. Por isso, “ao apresentar algum desses sinais, é essencial buscar ajuda médica imediatamente na unidade de saúde pública mais próxima de sua região”.
A nova vacina, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, é a Qdenga. Ela fornece proteção contra os quatro sorotipos e pode ser aplicada em quem ainda não teve a doença. Ela representa um avanço significativo no enfrentamento da doença, que é uma das mais prevalentes no Brasil. No entanto, apesar de um marco na saúde, a novidade ainda gera dúvidas.
Confira, abaixo, os esclarecimentos da infectologista Rebecca Saad:
Qdenga é uma melhor opção, comparada à Dengvaxia?
Sim! A Qdenga chega com mais segurança para a população, pois aqueles que nunca tiveram dengue também podem tomá-la. A Dengvaxia mostrou benefício em quem já teve dengue, e aqueles que não tiveram corriam o risco de passar por situações até mais graves com o seu uso.
Existe um tempo de imunidade garantido pela vacina?
Estudos acompanharam, durante 51 meses, pacientes que receberam as duas doses da Qdenga, e esses ainda mostraram altos títulos de anticorpos no sangue. Até o momento, quatro anos depois, essas pessoas ainda mantêm a imunidade. No entanto, como é uma vacina nova, é necessário realizar estudos adicionais para compreender realmente o tempo de eficácia da imunização.
Qual o período entre as duas doses da vacina?
A nova vacina consiste em duas doses, que devem ser administradas com um intervalo de 90 dias.
Existem grupos prioritários até o momento?
O Ministério da Saúde dará prioridade à vacinação de pessoas entre 10 e 14 anos, considerado o grupo com o maior volume de internações por dengue no país.
E os bebês, as grávidas e os idosos?
O estudo em torno dessa vacina incluiu pacientes de quatro a 16 anos e se estendeu até pessoas de 60 anos, por uma questão de ponte imunológica. É importante ressaltar que pacientes abaixo de quatro anos e acima de 60 anos não podem tomar a vacina ainda, por falta de estudo nesse sentido.
Gestantes, lactantes e pessoas com o sistema imunológico comprometido também não poderão se vacinar inicialmente, devido ao fato de a vacina ser de vírus vivo atenuado, o que pode levar a manifestação da doença.
A pessoa que tomar a vacina corre o risco de ter dengue?
Não, a pessoa não terá dengue, mas poderá ter sintomas leves como reação à vacina. Geralmente, essa viremia, em que a pessoa pode sentir sintomas semelhantes aos da dengue, ocorre na segunda semana após a vacinação, podendo incluir dor no corpo, muscular, nas articulações e dor de cabeça. Há também a possibilidade de manchinhas na pele, totalmente benignas. Importante destacar que esses sintomas são raros na segunda dose, sendo mais comuns na primeira, devido à fabricação de anticorpos já presentes no organismo da pessoa entre a primeira e a segunda dose.
O Brasil tem poucas vacinas para disponibilizar à população?
Inicialmente, serão disponibilizadas cerca de seis milhões de doses para vacinação neste ano de 2024, esse sendo o número limite da capacidade de produção do laboratório responsável pelo imunizante. É importante ressaltar que são necessárias duas doses por pessoa.