25.9 C
Vitória
sexta-feira, 3 maio 2024

“Missões são a Igreja”, com Humberto Aragão

“É necessário que o Evangelho seja pregado em todas as nações”. Foto: Divulgação

Por Patrícia Scott 

O pastor e missionário Humberto Aragão analisa o papel do Corpo de Cristo na obra missionária

Há mais de quatro décadas, ele dedica sua vida à causa do Evangelho em várias frentes. O pastor e missionário Humberto Aragão já liderou a Operação Mobilização (OM), além de participar de viagens ao redor do mundo no navio Doulos. Atualmente, ele é presidente da DFN Brasil (Dignity Freedom Network) — entidade que busca, por meio da mobilização de recursos humanos, educacionais e financeiros, sustentar os quatro pilares principais de transformação de vidas: Educação, Saúde, Desenvolvimento Econômico e Justiça Social.

“Por 42 anos, trabalhei e estudei culturas e costumes, deixando-me atrair pela diversidade encontrada em cada um dos mais de 90 países e povos que conheci e com os quais convivi em seus diferentes níveis sociais, econômicos e políticos. Isso me deu as bases para o ensino intercultural e transcultural para indivíduos e executivos de companhias multiculturais em períodos de residência internacional”, relata o pastor da área de Expansão Global da Igreja Batista do Morumbi, em São Paulo (SP).

Respeitado no cenário evangélico, Aragão é autor dos livros O Líder Cristão e Sua Identidade Cultural e De Volta às Raízes. Em entrevista à Comunhão, o pastor destaca aspectos mais importantes que englobam a obra missionária.

- Continua após a publicidade -

Como as frentes missionárias estão atuando diante das transformações globais?

Estamos vivendo em um mundo humanista em que as instituições estão se separando, completamente de Deus. E a igreja está cada vez mais voltada para dentro dela mesma, enclausurada nas quatro paredes. Assim, precisa repensar o seu papel numa sociedade em que o cristão não tem mais espaço nas escolas, nas instituições e nos cenários públicos. Então, não é somente analisar as frentes missionárias, mas também como está a missão de Deus no Brasil. É necessário levar o Evangelho, mas com discipulado intenso, que leve ao batismo, ao ensino. Esse é o mandado de Jesus a ser realizado pelo mundo. Esse desafio será cada vez maior devido às questões de fronteiras e linguísticas, o que pode ser amenizado pela tecnologia. Isso porque uma pregação pode ser traduzida na mesma plataforma para diferentes línguas. Então, como a igreja vai aproveitar? Talvez os grandes desafios não sejam nem a questão das transformações globais, mas como a igreja as está enxergando e se envolvendo com esse tipo de transformação.

As igrejas brasileiras investem como deveria em missões transculturais? Por quê?

De um modo geral, as igrejas ainda não colocam em prática o conceito de missões desenvolvido pelas instituições de ensino teológico. Creio que as denominações trabalham muito para dentro e não para fora. Teologias que propagam que, se Deus vai salvar, não há necessidade da anuência humana. Sem dúvida, isso é verdade em parte. No entanto, Ele deu um mandado a partir de Jesus para que o Evangelho seja pregado. Uma vez que o ser humano não é onipresente, onipotente e onisciente, então, não consegue saber quem será salvo. Só o Senhor tem esse conhecimento. Então, é necessário que o Evangelho seja pregado em todas as nações. No entanto, alguns crentes dizem que não têm chamado missionário. A obra missionária começa onde a pessoa está e termina onde Deus quiser. Por outro lado, o investimento da igreja brasileira em missões transculturais é mínimo, levando-se em consideração o seu tamanho.

“O investimento da igreja brasileira em missões transculturais é mínimo”

Como realizar a obra missionária em países onde a perseguição é acirrada?

Todo cuidado é pouco. Muitos países não dão liberdade para o Cristianismo. Governos ainda são totalitários. Então, para manter o regime é necessária uma religião que seja flexível, que não faça prosélitos e nem um Deus que tenha ordem. Tudo isso quebra o poder político, como também das religiões locais. O Cristianismo, ao pregar o Evangelho do amor, da graça e da misericórdia, transforma as pessoas locais, que se sentem dignas de direitos que possuem, mas lhes são negados. Trabalhar em um lugar como esse precisa ser muito maduro, espiritualmente, emocionalmente e fisicamente. Não é qualquer pessoa que pode ser enviada.

“Missões são a Igreja”, com Humberto Aragão
Humberto Aragão – Pastor e missionário, atualmente é presidente da DFN Brasil (Dignity Freedom Network). Foto: Divulgação

Como o senhor analisa o trabalho missionário com os povos indígenas no Brasil?

Há um trabalho muito bonito realizado pelas organizações que operam com as tribos indígenas. Participei de um congresso em que 70% dos jovens indígenas presentes possuíam diploma universitário: engenheiro-agrônomo, advogado, médico. Devido às dificuldades que eles têm nas tribos, enviam os filhos para cursar faculdades, sempre preservando sua cultura, a língua e os costumes, porém com viés cristão. Assim, com dignidade, esses jovens promovem apoio e recursos para seus povos, dentro de suas áreas de conhecimento. Entretanto, ainda há muito a realizar. Muitas tribos ainda não foram alcançadas pelo Evangelho.

E a obra missionária no sertão?

No Nordeste, há grande campo missionário. No interior de Pernambuco, Ceará, Bahia, muita gente está afastada do desenvolvimento comunitário e político. Pessoas que andam 20 quilômetros para levar os filhos para a escola em pleno século 21. A igreja, principalmente a nordestina, precisam olhar para dentro de sua região para realizar o papel de evangelização, como também de fortalecimento do povo com estrutura de ensino. Jesus transforma o coração, o ser humano como um todo. No entanto, quando há a formação necessária, o entorno também é modificado.

A liderança precisar impulsionar os membros para o desenvolvimento de uma visão missionária bíblica? Por quê?

Sim. Não creio que missões seja um departamento da igreja. Missões é a igreja. Deus não deixou um mandado para uma ou duas pessoas, mas para os discípulos: sejam discípulos fazendo discípulos de todas as nações. O Senhor amou o mundo. É uma questão teológica, e não de sentimento. Todo cristão é chamado para ser testemunha, sal e luz. Isso começa onde ele está dando frutos, e à medida que cresce na presença do Senhor, mais desejo sente de ser bênção para muitas pessoas. E o resultado será fazer missões. Seja no Brasil ou onde Deus colocar os Seus olhos. Isto porque não é mais ele quem vive, mas Cristo vive nele.

“Não vejo missões e ação social desconectados”

Como equilibrar a missão com ação social, para que a obra não se torne meramente assistencialista?

Não vejo missões e ação social desconectados. O Senhor Jesus pregou o Evangelho aos pobres e cativos, curou pessoas e ainda libertou outras da prisão. Não tem relação somente com questões espirituais. Na Índia, por exemplo, os dalits não têm direitos. Não podem ir à escola ou entrar na casa de um membro do sistema de castas. São totalmente excluídos. Não têm direito de enviar os filhos à escola. Quando o Evangelho chega a esses lugares há um confronto com a cultura. Essas pessoas vão se desenvolver e entender a verdade de Deus, que transformará o coração delas. Isso significa que, muitas vezes, tem que entrar a bondade de Deus [o lado assistencial da missão]. Em várias situações, Jesus caminhava, via a necessidade do povo e a supria. Não é o papel que Ele veio cumprir. Cristo foi enviado para morrer pela humanidade para dar a salvação. Essa salvação gera mudança de mentalidade, que precisa ocorrer em todo crente. Há essa diferença que a igreja não percebeu.

A salvação não é uma passagem para o céu, mas uma mudança de mentalidade parecida agora com a do Jesus. É preciso carregar a marca de Cristo. Isso confronta e faz com que os cristãos entendam o seu papel, que é de caráter, e não de assistencialismo. Se o crente vê uma necessidade e não ajuda, está pecando. Cristão faz aquilo que Jesus faria se estivesse no lugar dele. Não existe assistencialismo, mas uma folga grande por parte de crentes que não percebem que o seu papel é amar a Deus e amar ao próximo. É preciso compreender a passagem bíblica de Mateus 25.34-10: “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

- Publicidade -

Matérias relacionadas

Publicidade

Comunhão Digital

Publicidade

Fique por dentro

RÁDIO COMUNHÃO

VIDA E FAMÍLIA

- Publicidade -