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sábado, 4 maio 2024

Usos e costumes: pastores falam sobre regras que norteiam hábitos de fiéis

"Não somos salvos pela roupa que usamos, pelo cabelo que cortamos ou pelas unhas que pintamos. Somos salvos unicamente pela suficiência do sacrifício de Cristo", afirma pastor Simonton. Foto: Freepik

Estudo revela que os principais motivos que levam as pessoas, principalmente os jovens, a abandonarem a igreja estão ligados a mudanças comportamentais

Por Cristiano Stefenoni

A mudança de hábito faz parte da vida daqueles que aceitam Jesus como salvador, afinal, não dá para viver na luz com atitudes das trevas (Efésios 5:8).

O trecho bíblico faz referência ao comportamento dos cristãos. No dia a dia das igrejas, existem regras para nortear a forma como os membros se portam, são os chamados usos e costumes. Em muitas denominações, houve a flexibilização deles, enquanto em outras ainda há normas rígidas. Isso influencia na permanência dos fiéis?

Estudo da LifeWay Research revela que os principais motivos que levam as pessoas a abandonarem a igreja estão ligados a mudanças comportamentais (96%). Desse total, 70% têm entre 18 e 22 anos, ou seja, trata-se exatamente dos jovens, aqueles que têm mais dificuldades para mudar hábitos e costumes.

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Comunhão ouviu dois pastores experientes para mostrar mostrar visões divergentes, com seus respectivos argumentos, a respeito desse mesmo tema. 

Com 48 anos de ministério, o pastor Simonton César de Araújo, da Missão Praia da Costa, explica que o estilo de vida pregado por algumas igrejas é moldado com base em uma cultura local e histórica.

“Temos que considerar que a liderança que formula as leis, os paradigmas e os dogmas da igreja, geralmente, é formada por homens. Ainda há no Brasil uma grande direção machista e não jovem, que carrega paradigmas e costumes que não são desta época. É claro que prezamos pela moral, pelos princípios e pelos valores bíblicos., mas a tradição cultural muda. Nosso objetivo maior é ajudar pessoas a encontrarem Cristo, não é apertar ainda mais o caminho que já é estreito”, explica o pastor.

Simonton dá um exemplo sobre essas mudanças que acontecem com o passar dos anos. “Eu venho de um tempo em que, nas igrejas tradicionais, o homem não podia ter cabelo comprido. Hoje essa cultura mudou, a aceitação mudou e isso não causa escândalo, pois não há nenhuma base bíblica para embasar tais fatos. Alguns usam versículos isolados para tentar justificar seus costumes, colocando uma carga pesada sobre a nova geração”, ressalta.

Para o pastor, usos e costumes não salvam ninguém, pelo contrário, tendem a afastar as pessoas de Cristo. “Esse é um problema gravíssimo. Pessoas são colocadas no céu ou tiradas de lá a partir de usos e costumes. Não somos salvos pela roupa que usamos, pelo cabelo que cortamos ou pelas unhas que pintamos. Se fosse assim, os homens escoceses, que usam saias, estariam perdidos. Somos salvos unicamente pela suficiência do sacrifício de Cristo na cruz em nosso lugar, pelo sangue derramado, pelo amor de Deus que nos deu o seu filho”, justificou.

Simonton lembra, ainda, que a única coisa imutável ao longo das eras é exatamente a pessoa de Cristo. Ele cita, inclusive, o texto de Hebreus 8:13, que diz “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”. As demais, segundo o pastor, estão passíveis de mudanças, desde que não firam os princípios morais descritos na Bíblia.

“Os princípios da decência e da ordem têm que passar pela cultura, pelo conhecimento das épocas, por aquilo que é local. Tudo que se torna antiquado, envelhecido, vai desaparecer. E Hebreus 8:13 diz que a única coisa que a gente não mexe é o fato de que Jesus é o mesmo ontem, hoje e será para sempre”, afirma.

O pastor faz outro importante alerta sobre pessoas que julgam as outros porque não seguem seus usos e costumes.

“Mateus 18:15 deveria ser decorado por todos os cristãos. ‘Se o teu irmão pecar contra ti, vai ao teu irmão’ no objetivo de ganhá-lo, ajudá-lo, aproximá-lo mais do Reino de Deus e não de afastá-lo. Mas o que se faz, quando as pessoas se escandalizam com algum costume, é espalhar nas redes sociais, em vez de procurar a pessoa para saber o que realmente houve. A fofoca é uma desgraça no meio cristão que realmente coloca muitas pessoas para fora da igreja. Deus deixou bem claro que não constituiu juízes aqui na terra. Quem não usa de misericórdia jamais alcançará misericórdia”, destaca Simonton.

Cristão deve ser sal da Terra, mas com equilíbrio

Já o pastor Leonardo Mercier, presidente da Igreja Assembleia de Deus em Novo México (ADENOM), diz que costumes fazem parte de todas as instituições e que essas práticas são diferentes das doutrinas de uma religião.

“Por muito tempo se confundiu costumes com doutrina, mas há diferenças significativas entre esses conceitos. Costume é um hábito repetidamente adotado por um determinado grupo social e faz parte da identidade de uma instituição. Já a doutrina bíblica é a ‘exposição sistemática e lógica das verdades extraídas da Bíblia, visando ao aperfeiçoamento espiritual do crente’, ou seja, o resultado do ensino teológico adotado por uma denominação ou religião”, explica.

O pastor lembra que os pentecostais e os tradicionais se diferenciam por alguns costumes, mas partem do princípio de seguir as doutrinas fundamentais. “Cada igreja tem seus usos e costumes. Geralmente, elas têm o Regimento Interno no qual são definidos os costumes daquele ministério”, diz.

Mercier pondera que é preciso ter equilíbrio para que não se vá aos extremos, nem para altas restrições nem para a liberalidade. “Hoje, com o surgimento de várias igrejas e denominações, surgem também diversos usos e costumes. Com isso, observamos alguns extremismos e também algumas libertinagens, levando, assim, ao escândalo e também ao afastamento de muitas pessoas do verdadeiro evangelho do Senhor Jesus”, alerta.

Para ele, o cristão deve ser o “sal da Terra”, ou seja, fazer a diferença no seu modo de agir, andar e se vestir, sempre dentro dos princípios bíblicos, mas não adianta cuidar do exterior e esquecer o interior.

“Jesus Cristo disse ‘vós sois o sal da Terra’. Sal demais estraga qualquer comida, mas, sem ele, não há sabor. Isso mostra que a igreja deve ser equilibrada na questão dos costumes, observando sempre as doutrinas fundamentais da Palavra de Deus. Lembrando que não adianta usar a saia lá no pé, ter o cabelo comprido, mas não amar o próximo e falar mal dos irmãos”, argumenta.

“Devemos, sim, observar e praticar os bons costumes como um cidadão do Céu e demonstrar, como praticantes da Palavra, a evidência do Fruto do Espírito em nossa vida. O verdadeiro cristão vive a essência do Evangelho do Senhor Jesus”, conclui o pastor.

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