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quarta-feira, 11 DE setembro DE 2024

Você tem buscado seguidores ou discípulos?

Fazer discípulos é muito diferente de angariar views e likes. É uma ordenança do próprio Cristo e exige um processo contínuo, intencional e relacional

Por Patrícia Scott

Discípulos ou seguidores? Em tempos de redes sociais, compartilhamentos e visualizações são bastante valorizados e desejados. Não só os influenciadores digitais, mas quase todo mundo busca ser visto, ouvido e admirado. Desfrutar de popularidade e, se possível, monetizar seus conteúdos, já que as plataformas digitais possibilitam ganhos financeiros.

Um estudo recente realizado pela Nielsen revela que o Brasil é o país dos influenciadores. Existem 500 mil deles com ao menos 10 mil seguidores espalhados pelas diversas plataformas. De outro lado, um levantamento das agências Hootsuite e We Are Social posiciona o Brasil como o segundo país que mais segue influenciadores (44,3% dos usuários da internet), atrás das Filipinas (51,4%), mas à frente de todas as outras nações emergentes.

O mesmo estudo aponta que, no país, o Whatsapp reúne 165 milhões de usuários, o YouTube conta com 138 milhões, o Instagram tem 122 milhões, o Facebook contabiliza 116 milhões, e o TikTok, 73,5 milhões. Diante desse contexto, não é de se estranhar que o Brasil ocupe o terceiro lugar mundial no tempo gasto em redes sociais, com os usuários dedicando às telas em média 3h37, diariamente, conforme o “Relatório Digital 2024: 5 Billion Social Media Users”, publicado em parceria entre We Are Social e Meltwater.

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O mesmo relatório aponta ainda que o Brasil é o segundo país em que os usuários passam mais tempo on-line, com média de 9h13, atrás apenas da África do Sul, com 9h24. Outro dado que chama a atenção: no país, as pessoas passam aproximadamente 16 horas do dia acordadas. No entanto, mais da metade desse tempo (56,6%) é destinado ao uso de smartphones e computadores, revela o levantamento da plataforma Electronics Hub, um site de informações eletrônicas, a partir da pesquisa “Digital 2023: Global Overview Report” da DataReportal, que considerou 45 nações.

Interesses compartilhados

Todas essas informações mostram que a internet desempenha um papel significativo na vida diária dos brasileiros, que passam grande parte do tempo dedicados às atividades on-line. Nesse sentido, John Dempsey, da Wieden+Kennedy, e Krystel Watler, do TikTok, “anunciaram” o fim das redes sociais como são conhecidas atualmente, inaugurando uma nova abordagem, centrada nos interesses compartilhados.

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Eles delinearam seis estratégias a serem desenvolvidas. Uma delas é criar conteúdo que provoque respostas. “Ao desenvolver conteúdo que ressoe com os interesses e valores de uma subcultura específica, surge oportunidade de se integrar organicamente às conversas em andamento, estabelecendo conexões mais autênticas e duradouras com o público-alvo”, detalham e acrescentam: “Ao serem sensíveis e receptivas às nuances culturais, é possível criar um ambiente propício para o engajamento genuíno e construtivo, fortalecendo, assim, a presença e relevância”.

Presença e relevância são duas palavras-chaves quando se trata da propagação do Evangelho, tendo em vista que o “Ide” ordenado por Jesus envolve relacionamento focado na transformação de vidas, que engloba crescimento e amadurecimento espiritual. Assim, as Sagradas Escrituras exortam: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações. […] Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mateus 28.19,20).

Grande Comissão

“O discípulo é aquele que intencionalmente deseja ser parecido com Jesus” – Josué Campanhã, autor
“O discípulo é aquele que intencionalmente deseja ser parecido com Jesus” – Josué Campanhã, autor

“A origem do discipulado, do ponto de vista bíblico, é Jesus e seus discípulos, e a essência é a Grande Comissão de Cristo”, explica Josué Campanhã, que é autor do livro “Discipulado Que Transforma”. Segundo ele, talvez o maior significado do discipulado a partir do mandamento de Jesus seja a formação de “pequenos Cristos”. “Cada pessoa tornar-se mais parecida com Jesus no caráter, integridade, passos, forma de pensar e agir”.

Campanhã afirma que o conceito popular de discípulo é aquele que imita seu mestre. No entanto, de acordo com a Bíblia, “é muito mais do que uma imitação, é fazer o que Paulo falou: ‘Já não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim’ (Gálatas 2.20)”. Sendo assim, ele expõe que é possível seguir alguém, pessoalmente ou nas redes sociais, mas jamais fazer o que essa pessoa diz. “Seguidor não significa imitador. O discípulo é aquele que intencionalmente deseja ser como Jesus e fazer tudo o que Ele mandou”.

Por isso, o discipulado objetiva tornar uma pessoa cada vez mais próxima de ser 100% parecida com Jesus. “É alguém olhar para você e dizer que está vendo os atos, falas e personalidade de Jesus em sua vida”, observa Campanhã. “O papel do discipulador é ser parecido com Jesus para ser um exemplo físico e próximo de Jesus para as pessoas que está discipulando”, complementa.

Josué lembra que é comum a utilização carinhosa da expressão ‘meus discípulos’. No entanto, na verdade, ninguém faz discípulos para si, mas, sim, para Cristo. “Este é o papel do discipulador, imitar Jesus para que outros também imitem o Mestre”. Já o discípulo é alguém que olha para Jesus e permite que o Espírito Santo trabalhe em sua vida para que se torne cada vez mais como Jesus.

“Sua referência é a pessoa mais próxima dele que já é um discípulo de Jesus e em quem ele pode se inspirar”, ressalta Campanhã. O pastor conclui: “Além disto, o discipulado de Jesus envolve – relacionamento, ensino vivencial e não apenas teórico, transparência, vulnerabilidade, caminhada de longo prazo e não apenas aulas, jornada”.

Você tem buscado seguidores ou discípulos?

Processo intencional

No Brasil, o discipulado voltou a ser alvo de atenção nas últimas duas décadas. Entretanto, apesar de muitos líderes e pastores estarem interessados nesse tema, poucos sabem exatamente o que é o discipulado e como criar uma cultura de discipulado na igreja, opina o teólogo Thiago Faria, autor do livro “A Igreja Que Faz Discípulos”. Ele considera que ainda hoje muitos acreditam que o discipulado é apenas um período curto de apresentação das bases do Evangelho, que é feito quando a pessoa se converte.

Entretanto, o discipulado é muito mais que isso, diz Thiago, é o caminho de seguir a Jesus de forma intencional. “Isso exige uma mudança significativa na cultura da igreja: deixar de ser uma igreja movida a atividades e programas, e começar a ser uma igreja focada em um processo estruturado e intencional de levar as pessoas a crescerem na fé, tendo em vista que a base do discipulado de Jesus é relacional, processual, orgânica, individual, em grupo, contínua, vivencial e feita em amor”.

Assim, Thiago analisa que, quando a igreja tem um processo de discipulado claro e eficaz, as pessoas são estimuladas a se relacionarem, são acompanhadas por outros, são incentivadas a crescerem na fé e a darem passos consistentes de mudança de vida.

“Alguém que vive mudança de vida constante no discipulado e está engajado em fazer outros crescerem na fé dificilmente sairá da igreja”.

Por outro lado, Thiago destaca que a igreja sem o foco no discipulado sofre, porque se torna uma comunidade de pessoas imaturas, desfocadas do seu propósito de vida e sem entender como se cresce na fé. “A falta de discipulado é a principal causa do aumento do número de desigrejados. As pessoas saem da igreja por alguns motivos, mas o principal é que elas não foram envolvidas em um processo de discipulado eficaz, que as acompanha em sua jornada de relacionamento com Deus”.

Missão do cristão

“Muita gente hoje está à procura de facilidades e prefere atividades que exijam pouco de si” - Joarês Mendes de Freitas, pastor emérito da PIB em Jardim Camburi
“Muita gente hoje está à procura de facilidades e prefere atividades que exijam pouco de si” – Joarês Mendes de Freitas, pastor emérito da PIB em Jardim Camburi

Na visão de Joarês Mendes de Freitas, pastor emérito da 1ª Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória (ES), o discipulado significa ajudar a pessoa a se tornar um seguidor de Cristo, apoiar o seu crescimento em maturidade até que se torne um multiplicador. “O discipulado dá ao crente a oportunidade e a responsabilidade de ver o seu estilo de vida sendo reproduzido por um novo convertido. Isso é inspirador e altamente compensador”.

Dentro dessa perspectiva, o maior impacto do discipulado tem a ver com o crescimento e a estabilidade, aponta Joarês. “O seguidor desiste da jornada com maior facilidade, ao passo que o verdadeiro discípulo permanece no caminho (João 15)”. Assim como o teólogo Thiago, o pastor acredita que se o discipulado fosse prática comum nas igrejas, não haveria tanta evasão na membresia como se vê atualmente.

“A falta de discipulado, na maioria das igrejas, tem associação com a dificuldade das pessoas em assumir compromissos que demandam certo preço”, avalia Joarês. “Discipulado não é barato. Muita gente hoje está à procura de facilidades e prefere atividades que exijam pouco de si”, argumenta.

Já o pastor Tomás Mackey, presidente da Aliança Batista Mundial, enfatiza que diante de um mundo cheio de problemas e mazelas, o Cristianismo é uma resposta valiosa, justa, amorosa e santa à sociedade contemporânea. “Mesmo imperfeita, a igreja sempre precisa se reformar, corrigir-se e se superar, porém tem uma resposta de esperança em meio aos desafios, diretamente treinando e preparando discípulos. Pessoas que aprendam de Jesus, da Bíblia e dos conteúdos centrais que Cristo quer que Seu povo saiba”.

Você tem buscado seguidores ou discípulos?Ele assevera que existem muitas pessoas e povos, no mundo, para alcançar para Jesus, e o número de cristãos é pequeno em relação à população total. Por isso, Tomás alerta que é preciso investir no discipulado, que não é somente alcançar com o Evangelho, mas é transformar de dentro para fora com o poder de Jesus na vida das pessoas, fazê-las novas criaturas, de maneira que voltem da cultura contemporânea e assumam uma missão na vida que é a de Cristo. “E, como cristãos, viver para refletir sobre a verdade do poder, da graça de Jesus”.

‘Discípulo Radical’

No livro “O Discípulo Radical”, John Stott [1921-2011] explica que o título relembra aos leitores que os primeiros seguidores de Cristo eram chamados “discípulos”. Segundo ele, o termo em si é mais significativo que cristão, já que denota a ideia da existência de um relacionamento entre aluno e professor.

O autor argumenta que o discipulado cristão possui um caráter radical, que exige de cada discípulo um retorno às raízes ou, seja, aos compromissos fundamentais com o Mestre.

Logo, o objetivo de Stott ao ministrar sobre o assunto é conduzir os cristãos a uma reflexão sobre a necessidade de submeter-se radicalmente à autoridade de Cristo.

Stott escreve sobre a necessidade de o discípulo de Cristo tornar-se semelhante ao seu Mestre, “pois semelhança com Cristo é a vontade de Deus para o povo de Deus”. Ele reforça as bases bíblicas para tal afirmação e aponta os principais exemplos de Cristo que os discípulos devem seguir, além de apresentar três consequências práticas acerca da semelhança com Cristo. Para o teólogo, o maior do século XX, “o enchimento com o Espírito Santo é a forma pela qual Deus faz os cristãos se tornarem como Cristo”.

Esta matéria está na Revista Comunhão de número 318, publicada em julho de 2024. Para ler a edição completa, clique aqui!

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