Cientistas dos EUA pedem autorização à FDA para iniciar testes do útero artificial em humanos. A medida levanta questionamentos éticos, morais e espirituais
Por Cristiano Stefenoni
Imagine uma gestação sem complicações para o bebê ou o desenvolvimento do feto de uma mãe que não pode engravidar. O útero artificial, que antes parecia coisa de cinema, como no filme Matrix, começa a ganhar vida. Os primeiros experimentos já estão sendo realizados com animais, e a fase de testes em humanos está cada vez mais próxima. Mas, antes mesmo de se tornar realidade, essa possibilidade tem gerado questionamentos éticos, morais e espirituais.
Pelo menos por enquanto, a ideia dos cientistas não é fazer desse útero um invólucro para gestar todas as fases do bebê, mas sim mantê-lo vivo após um nascimento prematuro, evitando complicações nessa etapa, como paralisia cerebral, dificuldades de aprendizagem moderadas a graves, problemas de visão, audição e asma.
Para garantir que a ideia funcione, desde 2017, cientistas do Hospital Infantil da Filadélfia (CHOP), na Pensilvânia, têm realizado testes bem-sucedidos com animais, especificamente oito fetos de cordeiros entre 23 e 24 semanas de gestação. O útero artificial contém um líquido que imita o líquido amniótico, com os vasos sanguíneos do cordão umbilical conectados a um dispositivo semelhante ao ECMO, permitindo que o sangue seja bombeado pelo sistema utilizando o próprio coração do feto, assim como ocorre no processo natural.
Os animais se desenvolveram normalmente. Agora, os cientistas do CHOP fizeram um pedido à Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, para iniciar testes em humanos. Enquanto o processo está em análise, o debate segue nas redes sociais sobre o que é certo ou errado quando o assunto é geração de vida.
Para o pastor de famílias da Assembleia de Deus Nova Vida (ADNV) em Itapoã, Vila Velha, Junior Fanticelli, a tecnologia, por mais avançada que esteja, nunca será capaz de dar o “fôlego de vida” que vem de Deus.

“Máquinas geram máquinas, humanos, só Deus (Gn 1:27). A ciência terá que dar outro nome a ‘nova’ espécime gerada em úteros robóticos. Todo ser humano nasce com uma ‘noção da existência de Deus’, logo, ele tem contato com a revelação progressiva de Deus, revelada pela própria existência humana, pela natureza e por Cristo”, justifica.
De acordo com Fanticelli, em um hipotético “ambiente social híbrido”, onde haveria humanos (criação de Deus) e a outra espécie de robôs (criação humana) certamente haveria dificuldades de ordem emocional e espiritual.
“Deus não se comunica de robôs, ele é Deus/gente, por isso somos ‘sua imagem e semelhança’. Creio que haverá, por parte dos pesquisadores, cientistas e desenvolvedores um desafio ético, moral e psicológico para que, caso torne-se uma realidade, sejam capazes de dar respostas próprias do ser humano para sua sanidade mental”, afirma.
Além disso, na opinião do pastor, se há material genético envolvido, então, há a mão de Deus por traz, visto que Ele é o criador de todas as coisas. “Se há sémen envolvido, existe então, a presença, a criação, a imagem e semelhança de Deus e isso as máquinas não podem fazer. O avanço científico é também graça comum de Deus a humanidade, porém, é necessário separar a descoberta de sua utilização. Certamente haverá um limite ético da ciência, pois brincar de ‘deus’ já provou na história os resultados para a humanidade, como a criação da bomba atômica”, ressalta.
Maquinização do ser humano poderá afetar a sociedade no futuro
Já o pastor Édson de Oliveira Pinto, doutor em Psicologia e psicanalista especialista em Terapia Familiar, Saúde da Família e Neurociência, afirma que, com o avanço rápido da tecnologia, o útero robótico poderá abrir uma lacuna na próxima geração, aumentando os problemas de ordem emocional e dificultando ainda mais o convívio social.
“Você vê cada vez mais o ser humano se distanciando do humano. Era para o homem ter aprendido já essa dura lição de que, hoje, o mundo se vê mergulhado numa insanidade assustadora e, em grande parte, devido à ausência da infância. Você vê a máquina substituindo o homem em escolas, hospitais, igrejas. E ainda há a possibilidade, algum dia, de não se usar mais a relação para a geração de uma criança, ou seja, ao invés de passar por uma relação de amor e desejo, passaria apenas por máquinas. O homem só vai emprestar o espermatozoide, e a mulher, o óvulo”, critica.
O pastor Édson diz que o problema não é usar a máquina, mas sim ser usado por ela, como tem acontecido com as telas de celular de um modo geral. “Deus nos chamou para fazermos uma oposição a todo esse processo, para garantir que o homem continue sendo homem. Por volta de 2040, a inteligência não biológica será bilhões de vezes mais capaz do que nossa inteligência biológica. Então, veja para onde estamos caminhando”, enfatiza.
Além disso, o pastor ressalta que não é fácil aprovar legalmente propostas como a do útero artificial. “Os países se baseiam em princípios éticos para reger a ciência. O Brasil, até o ano passado, era regido pela Lei 466/12, uma resolução do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Saúde, e o Ministério da Saúde se valia dessa resolução e a fazia chegar às universidades, em todos os cantos onde se trabalha com pesquisas envolvendo seres humanos”, conclui.
Abaixo, você confere um vídeo que viralizou, alcançando mais de 3 milhões de visualizações nas redes sociais, produzido pelo criador de conteúdo digital Hashem Al-Ghaili. Nele, é apresentada a criação hipotética da EctoLife, a primeira instalação de útero artificial do mundo, capaz de gerar 30 mil bebês por ano. Confira:

