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quinta-feira, 18 abril 2024

Uma vida pela missão

Na contramão do trabalho missionário realizado por muitas igrejas, a Assembleia de Deus de Jardim América atua de forma diferente na formação e envio de missionários a campo. Há dez anos, por meio do Projeto Nordeste, a igreja, liderada pelo pastor José Oscar Pereira, busca no Nordeste jovens vocacionados para o trabalho missionário. Além de formar o missionário antes de ele realizar seu trabalho, a iniciativa ainda evita o choque regional da cultura local, afinal, do Nordeste eles chegam e é para lá que retornam.

Todos os anos, entre 15 e 20 seminaristas chegam à AD de Jardim América para se prepararem durante um ano e regressarem ao Nordeste para implantar novas igrejas e, principalmente, promover um forte trabalho de evangelização junto a crianças e jovens. “Alcançando crianças, adolescentes e jovens, você está formando uma igreja nova, com mentalidade nova”, explica o pastor José Oscar.

Os seminaristas que chegam do Nordeste para estudar – são 17 neste ano – não têm nenhuma despesa. A igreja cobre os gastos com moradia, alimentação, vestuário, livros e apostilas. Em contrapartida, eles ajudam na manutenção do templo, da casa alugada pela igreja que serve de moradia para as moças e atuam na Escola Dominical. Além disso, para ajudar na formação, os seminaristas internos participam de todas as conferências missionárias realizadas na igreja.

Durante o ano, eles estudam na Escola Teológica de Ensino Missiológico (Etemi), o seminário fundado pelo pastor José Oscar, teologia pastoral, homilética, teologia sistemática, administração eclesiástica, eclesiologia, evangelismo infantil, entre outras disciplinas de preparação para atuação em campo. Depois de formados, eles retornam ao Nordeste, às igrejas de onde vieram.

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“Eles atuam nos sertões, no Nordeste pobre, em vilarejos com 4 ou 5 mil habitantes, onde nunca foi realizado um culto evangélico. Nossa área de atuação é o sertão nordestino, um lugar realmente carente. Outro detalhe é o fato de que eles retornam para o Nordeste com sustento. Levanto sustento junto a outras igrejas, por meio de parcerias”, conta o pastor José Oscar.

E durante os 10 anos, o Projeto Nordeste já rendeu frutos mais do que especiais. “Considero este trabalho um presente de Deus. Temos hoje da Bahia ao Rio Grande do Norte, quase 30 igrejas implantadas, chamadas Missão Josué. A maioria dos jovens que vêm estudar aqui já é fruto da nossa obra missionária. Temos 72 missionários trabalhando no Nordeste e devemos ter, por alto, 3 mil crentes no Nordeste convertidos por essas igrejas implantadas”, orgulha-se o pastor.

Quando o chamado é maior do que a vontade
Vinda da cidade mais pobre de Paraíba, Boaventura, a penúltima do sertão, a partir do litoral, a jovem Jucelí Silvino Leandro, de 25 anos, convertida há seis, sempre teve o desejo de ser missionária. Enviada à Etemi pela pastora da Missão Josué em Boaventura, que também foi seminarista, a jovem tem o objetivo de aprender ainda mais, para fazer frente à escassez de recursos do Nordeste. “Comecei a orar a Deus, Ele me respondeu e eu deixei tudo para vir e adquirir mais conhecimentos para a obra dEle. Quando voltar para o Nordeste, vamos implantar um trabalho de alfabetização de crianças”, conta Jucelí.

Para a jovem, a oportunidade de estudar antes de atuar de fato como missionária faz toda a diferença para a obra. “Eu não teria tanto conhecimento como eu já adquiri até hoje aqui. Haveria circunstâncias e situações em que eu não saberia responder algo. É um conhecimento muito mais elevado.”

O paulistano morador da cidade alagoana Olho Dágua das Flores Ademir Ferreira da Silva, de 26 anos, também compõe a turma de seminaristas da Etemi. Obreiro em outro ministério, Ademir teve o sustento de sua família cortado de uma hora para a outra. Vivendo com a esposa e duas filhas apenas pela fé, sem receber nada, conheceu a Missão Josué em São José da Tapera, cidade vizinha. “Conheci o pastor José Oscar, que tinha visão missionária e investia em jovens. Foi algo inesperado, porque conversei com o pastor num dia e no outro, integrei a Missão Josué. Foi a realização de um sonho, porque eu tinha um desejo muito forte de ter uma preparação como obreiro, mas nunca tive condições financeiras. E aí de repente Deus me abriu a porta para estudar de graça”, conta Ademir.

O missionário, que mora com a família em Cariacica e estuda no seminário junto com a esposa, já deixou uma congregação em Olivença, a 7 km de Olho Dágua das Flores, e, quando voltar para o Nordeste, vai implantar uma Missão Josué no município. E, segundo ele, vai voltar revigorado, com muito mais força para o trabalho do que tinha antes. “É uma bênção do céu. A gente vê a dificuldade de obreiros que não têm oportunidade de uma capacitação melhor e quando chega aqui a gente tem uma visão ampliada, porque conhece outros missionários, pastores, participa de conferências. Eu vou ser um pastor melhor, no sentido de ter uma capacitação melhor, para arrebanhar as ovelhas”, orgulha-se Ademir.

Tudo começou com uma visão
Em 1993, numa quarta-feira, enquanto o pastor-titular da Assembleia de Deus de Jardim América, em Cariacica, José Oscar Pereira, limpava o templo para o próximo culto, um caminhão da empresa de luz estacionou no pátio da igreja. De dentro dele, saíram dois eletricistas, que começaram a escavar o estacionamento para fixar dois postes e, neles, um transformador. Só depois de terem instalado o gerador e o conectado ao padrão de energia da igreja, é que o pastor José Oscar teve forças para perguntar: “Com que autoridade vocês fizeram isso? Não sabem que o padrão de 220 é necessário para o templo todo?”. Ao que os dois eletricistas responderam: “Quem mandou colocar este transformador aqui mandou lhe dizer que desta igreja sairá energia, sairão missionários.”.

Essa visão, recebida pelo pastor José Oscar há 18 anos, foi o impulso de que ele precisava para transformar a AD de Jardim América num centro de formação de missionários, de modo que eles estejam preparados para a obra antes de irem a campo. Desde então, ele começou a ministrar na igreja o curso de missiologia, de preparação missionária. Três anos depois, criou o próprio seminário, a Etemi, incluindo no curso teológico a disciplina de missiologia de forma bem profunda e ampliada. Nesses primeiros anos, formaram-se pelo seminário do pastor José Oscar missionários que foram para todas as partes do Brasil e também do mundo. E há dez anos o pastor começou a trabalhar com o Projeto Nordeste especificamente.

Desafios
Apesar dos bons resultados desse tipo de iniciativa, para o pastor José Oscar Pereira, o investimento na formação de missionários não é uma realidade nas igrejas. “A igreja brasileira falha na formação dos missionários. Por isso, há dificuldade de alcançarmos o mundo para Cristo. Felizmente, outras igrejas já têm se espelhado em nós. Meu desejo é que isso fique impregnado no sangue dos nossos pastores e líderes”, afirma o pastor.

O investimento da AD de Jardim América na formação dos missionários em 2010 foi de R$ 412 mil. Neste ano, a expectativa é que sejam investidos R$ 500 mil. Parece muito, mas não é, apesar da dificuldade de levantar o dinheiro na própria igreja ou por meio de parcerias. Entretanto, segundo o pastor José Oscar, o resultado é gratificante. “Eu hoje estou com 67 anos de idade. Eu tenho orado a Deus. Não sei mais quantos anos de vida ou de ministério eu tenho, mas a oração é a de que quero ir até a última hora nesse trabalho, porque é gratificante. Tenho que continuar, não posso parar.”

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