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quarta-feira, 11 DE setembro DE 2024

Um desafio para a igreja evangélica

Foto: Reprodução

Como a falta de conhecimento bíblico pode impactar a fé evangélica e a necessidade urgente de reforçar o ensino das Escrituras

Por Patricia Esteves 

Nos últimos anos, uma preocupação crescente tem surgido entre líderes evangélicos: a dificuldade de muitos cristãos em distinguir entre o Antigo e o Novo Testamento, localizar livros bíblicos e construir argumentos com embasamento na Palavra. Esse problema, no entanto, é apenas um reflexo de uma crise mais ampla na educação bíblica nas igrejas evangélicas, com implicações profundas para a vida espiritual dos fiéis.

A sociedade contemporânea, marcada pelo consumo de vídeos rápidos e textos superficiais, tem contribuído para uma compreensão rasa das Escrituras. A predominância dessas formas de mídia contribui fortemente para um conhecimento fragmentado e limitado da Bíblia, afetando a profundidade do aprendizado e a capacidade de aplicar os princípios bíblicos de maneira eficaz.

O problema não se limita apenas à dificuldade de distinguir entre o Antigo e o Novo Testamento. A falta de um estudo aprofundado das Escrituras pode comprometer a capacidade dos cristãos de discernir falsas doutrinas, identificar falsos profetas e pregar a Palavra de Deus corretamente. Como alertado em Efésios 4:14, “para que não sejamos mais meninos, agitados de um lado para o outro e levados ao redor por todo o vento de doutrina, pela cilada dos homens, pela astúcia com que para enganar, fraudulentamente, tratam.”

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Negligência da educação bíblica

Segundo José Ernesto Conti, pastor da Igreja Congregação Presbiteriana Água Viva, uma das principais razões para essa dificuldade está na mudança de prioridades dentro das igrejas. “Nos últimos 30 anos, a igreja evangélica tem colocado em segundo plano a Escola Bíblica Dominical (EBD). Boa parte das igrejas já suprimiram os cultos matutinos, trocando-os pelos grupos familiares onde o ponto central tem sido a comunhão,” observa ele.

Embora a comunhão seja um aspecto importante da vida cristã, ele alerta que isso tem levado à redução do tempo dedicado ao ensino das Escrituras. “Nossos cultos se tornaram ‘celebrações’ com o objetivo de termos uma programação mais ‘light’. Conclusão: a igreja evangélica nas últimas décadas trocou o ensino pelo louvor”, pontua Conti.

Essa mudança de foco resultou em uma geração de cristãos que, apesar de professarem a fé, carecem de conhecimento básico da Palavra de Deus. “Temos uma geração que se diz cristã, porém é ‘analfabeta’ da Palavra de Deus. Saber distinguir o Novo do Velho Testamento ou encontrar certos livros na Bíblia tornou-se uma tarefa difícil nas igrejas evangélicas hoje,” lamenta o pastor, comentando o resultado apurado recentemente pela Lifeway Research, que entrevistou 1.008 frequentadores de igrejas protestantes americanas concluindo que pelo menos 11% deles nem distinguiam entre os livros bíblicos antigos e os da nova aliança.

Impactos na vida espiritual

A falta de compreensão sobre a diferença entre o Antigo e o Novo Testamento não é apenas um problema acadêmico; ela tem implicações sérias para a vida espiritual dos fiéis. O pastor destaca que isso “nos torna sujeitos a qualquer ‘vento de doutrina’. Passamos a acreditar em qualquer coisa que o líder fala. Muitas vezes, o próprio líder também está transmitindo não o que a Bíblia fala, mas o que outro líder falou”.

Um desafio para a igreja evangélica
José Ernesto Conti: “A crise na educação bíblica e a superficialidade na formação cristã têm levado muitos fiéis a uma compreensão rasa das Escrituras, tornando-os vulneráveis a falsas doutrinas e práticas enganosas” – Foto: Next Editorial

Esse cenário cria um ambiente onde os cristãos podem ser facilmente enganados e desviados da verdade bíblica. “O impacto na vida cristã é catastrófico, pois o diabo tem usado esses cristãos para disseminar a mentira em vez da verdade. É como se a igreja estivesse tomando placebo, e não a verdade de Deus”, alerta.

A Bíblia adverte sobre a importância de conhecer e discernir a verdade: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” (Oséias 4:6). Esse conhecimento é essencial para resistir às falsas doutrinas e permanecer firme na fé.

Retomo ao ensino das Escrituras

Diante desse desafio, a solução apresentada pelo pastor é clara: é necessário um retorno ao ensino sólido das Escrituras. “Creio que só assim podemos garantir que os fiéis sejam cristãos autênticos. Qualquer coisa fora da educação cristã é brincar no parquinho das heresias,” afirma José Ernesto Conti.

Entretanto, o pastor reconhece que implementar um programa robusto de ensino bíblico não é tarefa fácil. Ele aponta que um dos maiores desafios é cultural. “Nós brasileiros, genericamente falando, não gostamos de estudar, de ler, de analisar algo que demande um pouco mais de esforço intelectual. Um pastor que deseje implantar em sua igreja um programa para ensinar a doutrina fatalmente terá uma igreja pequena e não poderá contar com muitos membros empolgados”.

Apesar desses desafios, ele acredita que a superação só virá através da conscientização dos fiéis sobre a importância do estudo bíblico. “Somente os cristãos conscientes da Palavra é que suportarão os momentos difíceis pelos quais está previsto que a igreja passará nos últimos tempos”, alerta.

Recursos e práticas

Quanto aos recursos e práticas recomendados para ajudar os cristãos a aprofundarem seu conhecimento das Escrituras, Conti é direto: “Não tem segredo. Conhecer as Escrituras é o único caminho que garantirá que estamos rumando na direção certa”.

Ele enfatiza, no entanto, que esse conhecimento exige dedicação e esforço. “Conhecer as Escrituras dá trabalho, é cansativo, e poucos estão dispostos a realizar essa tarefa. Mas os que conseguirem, estarão fortalecendo sua fé e se preparando para a eternidade”, assim como afirma o Salmo 119:105: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho.” Esse versículo reforça a importância de que o crente tenha um conhecimento profundo da Bíblia para guiar a vida conforme a vontade de Deus.

A dificuldade em distinguir entre o Antigo e o Novo Testamento é um sintoma de um problema maior na igreja evangélica atual: a negligência quanto ao ensino bíblico. Para reverter esse quadro, é essencial que as igrejas redescubram a importância da educação cristã, promovendo o estudo profundo e consistente das Escrituras. É responsabilidade da igreja preparar seus membros para enfrentar desafios espirituais e amadurecer na fé.

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