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sexta-feira, 29 março 2024

Todo dia é um dia de índio!

O Covid-19 é um grande perigo para estes povos já tão sofridos! Os 850 mil índios brasileiros (censo 2010) constituem um grupo muito vulnerável

A nossa realidade diária nunca esteve tão próxima do que os indígenas brasileiros vivem. Quando os primeiros portugueses aqui chegaram eram milhares distribuídos em cerca de 1000 tribos caracteristicamente nômades com a liberdade de ir e vir dentro do imenso território brasileiro. Quando o alimento escasseava em uma região mudavam-se para onde podiam encontra-lo novamente em abundância.

Apesar dessa aparência de paraíso terrestre, haviam guerras inter-tribais, morte e dor, mas nada comparado ao que iriam enfrentar com a colonização. Entre o século XVI e o século XX, de milhões passaram a milhares. Escravidão, extermínio e epidemias foram os principais motivos dessa redução.

Hoje a grande maioria dos descendentes das nações indígenas que sobreviveram em meio a tanta tragédia vivem em terras demarcadas com acesso limitado de suprimentos. Povos que foram repetidamente dizimados por epidemias de tuberculose, varíola, sarampo e até mesmo gripe, muitas vezes de forma criminosa, continuam sob a ameaça de um contágio em massa. Além disso tudo ainda enfrentam discriminação e negação dos seus direitos há seculos.

O isolamento a que os povos indígenas foram submetidos, apesar de colaborar para a manutenção de sua cultura, não impediu que sofressem transformações sociais. Além disso, seus territórios continuam a sofrer invasões. Sendo culturalmente nômades, muitos deixam suas aldeias e passam a viver em situação de miséria, marginalizados nas cidades grandes. Trabalho escravo, exploração sexual também se tornam parte de sua triste realidade.

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O Covid-19 é um grande perigo para estes povos já tão sofridos! Os 850 mil índios brasileiros (censo 2010) constituem um grupo muito vulnerável. A falta ou o limitado acesso a hospitais, a alta incidência de doenças respiratórias, diabetes e hipertensão, e a grande quantidade de pessoas vivendo sob o mesmo teto são alguns dos fatores que os tornam tão suscetíveis ao coronavírus.

Para conter a propagação do vírus, a FUNAI está impedindo a entrada e saída de pessoas das aldeias. Como as atividades comerciais como venda de artesanato estão suspensas, não tardarão a se agravar os problemas econômicos e sociais.

A quarentena a que nos submetemos nos últimos dias também nos limitou o espaço físico e o acesso aos meios básicos de sobrevivência. Trouxe-nos o medo constante de uma epidemia e as reações mesmo que inconscientes de discriminação dos passam por nós ao largo como se tivéssemos uma doença contagiosa. Temos, portanto, vivido uma tênue imagem do que é a vida de índio!

Aproveitemos estes dias de isolamento social para refletir sobre formas de melhoria de nossa sociedade, incluindo a indígena. Povos que apesar de separados de nós pela língua e cultura, não podem ser isolados de nossa solidariedade e oração.

Convido você para aproveitar esses dias e conhecer mais da realidade destes povos através da internet assistindo vídeos on-line ou lendo os textos encontrados em sites como pib.socioambiental.org, wycliffe.org.br, novastribosdobrasil.org.br, instituto.antropos.com.br, comin.org.br, cimi.org.br, dentre outros.


Lidice Meyer Pinto Ribeiro – Antropóloga, Professora na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, Portugal

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