A crescente busca por alternativas tecnológicas na psicoterapia desperta tanto interesse quanto preocupações, especialmente quanto ao impacto dessas práticas na saúde mental
Por Patrícia Esteves
O uso de Inteligências Artificiais (IAs) tem gerado transformações significativas em diversas áreas, incluindo a saúde mental. Com a busca por soluções rápidas e acessíveis, cada vez mais pessoas estão recorrendo a ferramentas como o ChatGPT para “sessões de terapia”. Embora essa prática fosse impensável até pouco tempo atrás, agora gera tanto curiosidade quanto apreensão.
Para alguns leigos e mais empolgados, as IAs oferecem uma abordagem inovadora. Contudo, especialistas alertam que o uso dessas tecnologias na psicologia pode trazer consequências sérias, especialmente quando comparadas ao acompanhamento profissional.
Mas é inegável que a IA desempenha um papel crescente na área da saúde mental, oferecendo tanto oportunidades quanto desafios. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Informatics Association mostrou que a IA pode diagnosticar depressão com uma precisão de 80% ao analisar dados de voz e texto de pacientes. Outro dado da Accenture estima que o impacto do uso da IA na saúde nos EUA possa chegar a US$ 150 bilhões até 2026.
Apesar desses avanços, especialistas destacam os riscos do uso de chatbots de IA, como o ChatGPT, para fins terapêuticos. A falta de regulamentação específica e a possibilidade de respostas incorretas ou inadequadas são preocupações significativas. A ausência de empatia e compreensão humana limita sua eficácia em contextos terapêuticos, conforme aponta a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

É essencial que os usuários estejam cientes dessas limitações e busquem orientação profissional adequada para questões de saúde mental. A integração da IA na saúde mental deve ser acompanhada de regulamentações claras e considerações éticas para garantir a segurança e o bem-estar dos pacientes.
Cenário no Brasil
O Brasil está entre os países com maior uso do ChatGPT, atrás apenas dos Estados Unidos, Índia e Indonésia, segundo a empresa Semrush. Esse cenário reflete o crescente número de relatos nas redes sociais de pessoas utilizando IAs para sessões de terapia. Influenciadores digitais têm um papel significativo na popularização dessa prática.
O ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Antônio Virgílio Bastos, destacou que o aumento na procura por cuidados em saúde mental, especialmente após a pandemia de Covid-19, contribui para a demanda por essas soluções.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, antes da pandemia, cerca de 71% das pessoas com transtornos mentais não tinham acesso a tratamentos adequados. “Muito esforço ainda é necessário para conscientização por tratamentos apoiados por evidências científicas e ofertados por profissionais especializados”, alerta Bastos.
Humanidade necessária
Apesar das limitações da IA, como a repetição de padrões e a falta de empatia genuína, muitas pessoas continuam interessadas nessa abordagem, possivelmente atraídas pela promessa de uma solução rápida e eficaz. Mas, como Bastos ressalta, “ser ouvido por alguém que potencialmente já passou ou poderia passar por algo semelhante ao que você vivencia faz diferença e pode inclusive ser um dos motores do processo psicoterapêutico em algumas abordagens”. Essa diferença é fundamental, pois, por mais avançada que seja, a IA não pode compreender as emoções humanas da mesma forma que um ser humano.
A psicoterapia se baseia na relação de confiança e empatia entre o paciente e o profissional. A IA pode ser um instrumento auxiliar, mas não substitui o processo terapêutico, que é repleto de nuances subjetivas e imprevisíveis. Essa característica humana é o que mantém a psicoterapia como um campo onde a interação humana é insubstituível.

