A solidão é um sentimento. Priorizada na significação patológica, é vista como uma emoção negativa. Aqui, repensaremos a solidão numa perspectiva de emoção positiva
Por Clovis Rosa Nery
“Solidão não é a mesma coisa que isolamento”, afirma com respaldo teórico, o escritor e cientista Goleman. Em rigor, seria um reducionismo generalizar e classificar um quadro de solidão exclusivamente numa condição absoluta, porque pode haver uma dimensão polissêmica. Destarte, se, habitualmente, o profissional focar o significado patológico e preterir o ontológico, o estado de solitude do ser, geralmente alto em pessoas de QI elevado, não será considerado.
Em outras palavras, há dois tipos de solidão, com características e finalidades distintas, à luz daquilo que eles propõem afastar ou aproximar, conforme ensina o filósofo e teólogo Martin Buber. O primeiro, com a ausência de contatos, gera no ser um vazio interior; é uma emoção negativa. O outro, distante das relações sociais regulares, conduz o ser, via meditação, a uma proximidade maior com o Espírito de Deus; é uma emoção positiva.
Na Bíblia, encontramos quadros de solidão, como emoção positiva, tanto no Velho, quanto no Novo Testamento. A escritora Lettie Cowman facilitou nossa pesquisa. Ao examinarmos o seu clássico Mananciais no Deserto, na página 66, deparamos com a seguinte afirmação:
“Os maiores milagres de Elias e Eliseu tiveram lugar quando eles estavam a sós com Deus. […]. Josué estava só quando o senhor veio a ele (Js 1.1). Gideão e Jefté estavam sós quando comissionados para salvar Israel (Jz 6.11 e 11.29). Moisés estava a sós junto à sarça no deserto (Êx 3.1-50). Cornélio estava orando a sós quando o anjo lhe veio (At 10.2). Pedro estava a sós no terraço alto, quando recebeu instruções para ir aos gentios. João Batista estava só no deserto (Lc 1.80; e João, o amado, estava só, em Patmos, quando chegou mais perto de Deus (Ap 1.9)”.
Se você sente solidão, especialmente nesta época de isolamento social, não se desespere, pare e pense: quem sabe, nosso Senhor esteja querendo lhe falar ou ensinar algo, como fez com esses personagens citados? A sua percepção direcionará o seu sentimento.
Era a sós, na solidão, ora nos montes, ora nos desertos, que Jesus, por meio da meditação e da oração, intensificava a comunhão com o Pai e revigorava as Suas forças para levar adiante Sua missão redentora. É na solidão do nosso interior que Ele manda que oremos a Deus para fortalecermos o espírito (Mateus 6:6).
A Bíblia afirma, em Salmos 34:19: “Muitas são as aflições do justo, mas de todas elas o Senhor o livra”. Acompanhada da afirmação contundente, vem a promessa maravilhosa: o Senhor nos livra das tribulações. Aleluia!
Sejam quais forem as circunstâncias, aproxime-se das Escrituras. Examinando-as, ingerimos alimento saudável e, crendo, fortalecemo-nos, espiritualmente. Confiando em Deus, mesmo que a fé seja pequena, podemos mover montanhas e ir ao Céu; com uma grande fé, trazemos o Céu até nós, disse Spurgeon.
Perto está o Senhor de todos que invocam o Seu Santo nome (Salmos 145: 18); pois, uma experiência genuína com o Pai Celestial ocorre na arena solitária de nosso coração. É ali que Ele fala conosco, consolando-nos e confortando-nos. Crendo você triunfará! Ele dará a bênção. Você pode recebê-la e vencer, pois sua vida é especial para Deus.
Clovis Rosa Nery é Psicólogo e administrador de empresas. Autor de vários livros.