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sábado, 20 abril 2024

Setembro Amarelo

Família em Casa: Lugar de Refúgio ou Campo de Batalha?
Ilma Cunha é Diretora Executiva na DINAMIZE Consultoria e Treinamento Ltda

Na verdade, diante da notícia de um suicídio, ficamos paralisados, emudecidos, tentando elaborar o ato e encontrar respostas, além da perplexidade diante da devastação que ele traz

Por Ilma Cunha

Familia, Psicologia e Cotidiano, são temas que fazem parte de nossa vida, presentes nos desafios que enfrentamos diariamente em nossa trajetória. Me proponho a refletir com vocês, nesta coluna, a partir da visão que adquiri ao longo de mais de trinta anos escutando pessoas, em uma escuta ativa e perceptiva eficaz, para além das demandas e discursos tão bem elaborados no percurso da dor e da angústia existencial.

Família: O cenário primário e primordial da vida humana – lugar de edificação das bases fundamentais: identidade, senso de pertencimento, amor e valor pessoal, direção para a vida, com crenças e valores norteadores para um propósito bem fundamentado. Vamos também refletir sobre as funções e questões familiares: o que a Familia é: lugar de refugio ou campo de batalha?

Psicologia: Segundo o dicionário etimológico on-line, “é a ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano. Deriva-se das palavras gregas “psique”, que significa “Alma” e “Logos”, que significa “estudo de…” Vamos refletir, portanto, temas importantes para a compreensão da alma, para além de um saber acadêmico, na ampla dimensão que a Palavra do Criador nos oferece.

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Cotidiano: Os temas que fazem parte do viver diário, que acontecem ao nosso redor todos os dias, nas notícias que recebemos, nos fatos que vemos, nas experiências que vivenciamos, nas demandas que temos e nos desafios que enfrentamos.

O mês que estou iniciando essa escrita tem também um significado especial nesse contexto temático: setembro. O mês nomeado como setembro amarelo,  escolhido para a campanha de prevenção ao suicídio, para a conscientização de todos os enigmáticos. Este é um tema difícil, que gera danos significativos na estrutura psíquica de uma pessoa, no contexto familiar e na comunidade onde a pessoa está inserida.

Na verdade, diante da notícia de um suicídio, ficamos paralisados, emudecidos, tentando elaborar o ato e encontrar respostas, além da perplexidade diante da devastação que ele traz.

Não há como pensar que estamos vivendo hoje o impacto de todas as mudanças ocorridas na vida pessoal, familiar, profissional que tanto afetaram a nossa subjetividade nas últimas décadas. É claro que o avanço tecnológico fez o mundo avançar em uma velocidade que não temos dado conta de lidar em toda a nossa dimensão humana. O estilo de vida agitado, os relacionamentos superficiais, as configurações familiares e as conexões trabalho versus família, alterando significativamente a rotina e a dinâmica familia, trouxeram angústias que antes não conhecíamos. Essas tensões diárias e os universos fatores estressantes tem sido um cenário favorável para o adoecimento da alma, que deposita seus sintomas no corpo.

A busca por sentido e significado de vida também tem produzido uma busca intensa e desenfreada pelo prazer e o hedonismo direciona as pessoas para um propósito de vida que não harmoniza a alma. O vazio insiste e persiste em apontar o caminho de  um prazer que  não se consolida e que distancia o ser humano de seu propósito original.

Creio que o setembro amarelo nos convoca a uma reflexão mais além. Não temos respostas, mas muitas questões se impõem diante dessa passagem ao ato que se anuncia por um estilo de vida que dá seus sinais. Assim como as luzinhas que se acendem em um painel de carro denunciando que algo precisa ser verificado, a nossa alma também dá sinais, nem sempre tão perceptíveis, mas que nos convocam a sair da dispersão  mental de tantos estímulos que nos tiram o foco da subjetividade humana.

O que tem tirado o sentido de vida das pessoas? Porque tantos estão andando à deriva da vida, sem uma direção e um norte, desistindo de viver? Qual o olhar que podemos ter para a Família, sua estrutura e dinâmica relacional diante de uma tragédia dessa?  Por que tem havido um número tão grande de suicídios no meio evangélico. O que está por trás dessas atitudes inexplicáveis? Muitos vão dizer: “depressão”. Na verdade, os transtornos psíquicos sempre denunciam o risco da ideação suicida.  Mas, que fatores estão levando muitos a uma demissão de si mesmos, como a depressão aponta. O que elas não estão dando conta? Percebo, em minha prática clínica, que a culpa e a desesperança andam muito juntas com a raiva, principalmente a raiva de si mesmo, como uma autosabotagem e punição emocional.

Nesse viés, muitos entraram em caminhos obscuros nesse mundo virtual selvagem sem fronteiras, que captura os mecanismos de prazer do ser humano, com questões de sexualidade mal resolvida, fantasias, desejos ocultos, pensamentos obsessivos e outras questões que lançam o indivíduo no cativeiro das compulsões e vícios. Na verdade, a pornografia vicia tanto quanto a cocaína. E nesse caminho, escraviza o indivíduo na busca do prazer sem limites, destruindo relacionamentos, casamentos, ministérios, adoecendo a alma e o corpo, lançando o indivíduo na sensação de que não há saída.  Nesse engodo maligno, muitos mergulham no medo e na vergonha, na passividade e na angústia e não tem coragem de buscarem ajuda. E este é um caminho de vulnerabilidade também para o suicídio.

São tantas as questões que poderíamos nos fazer como indivíduos, pais, profissionais, líderes e pastores nesta temática! Creio que algum ponto de convergência em nosso olhar, em nosso cenário de ação e experiências, que nos conduziria a importantes reflexões e possibilidades de intervenções precoces.

Os transtornos psíquicos estão aí evidenciando essa triste realidade. É grande o número de pessoas ansiosas, agitadas, no estresse, pânico, fobias e tantos outros diagnósticos que a psiquiatria nomeia. Sabemos que a pandemia apenas foi um gatilho para aflorar o que o ativismo tamponava. As consequências desse tempo de isolamento, confinamento, perdas, mortes, velórios sem despedidas, lutos sem elaborações, incertezas, fragmentação da família, aumento dos divórcios,  saúde física atingida, somente anunciam o que ainda veremos dos efeitos desse tempo na saúde mental dessa geração. Que efeito tudo isto terá para a saúde mental e emocional de nossas crianças e adolescentes?

Creio que nunca vivemos um tempo com tantos adoecimentos da alma como hoje. A medicalidade da dor tem sido a saída para muitos, em busca de atenuar a angústia da alma. No entanto, remédios melhoram a química cerebral, atuam nos neurotransmissores, mas não curam a alma, não dão sentido a vida, não trazem a alegria de volta. Tudo o que se apresenta para entorpecer e anestesiar a dor não tem resultados eficazes. Afinal, o que mais precisamos para desenvolver o valor pessoal, as emoções positivas fortalecedores que impulsionam a caminhada com motivação e propósito, não se fazem em laboratório e nem se compram em farmácias.

Gosto muito do texto de 3 João 2 (NVI): “Amado, oro para que você tenha saúde e tudo lhe corra bem, assim como vai bem a sua alma”. Quando a alma é tratada, o corpo recebe os benefícios para uma saúde integral. É o Apóstolo Paulo apresenta o alinhamento necessário para a saúde integral em 1 Tessalonicenses 5.23 (KJA): “ Que o próprio Deus da Paz vós santifique em integralmente. Que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam mantidos irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.

A integralidade do ser humano em toda a sua dimensão requer cuidado específico em cada dimensão. Mas, o que me chamou a atenção foi o atributo de Deus que o Apóstolo usou. Ele poderia ter se referido a todos os atributos de Deus, que dão significados especiais à nossa vida, mas aqui ele usou intencionalmente “o Deus da Paz”. Na minha percepção, veio da sublime inspiração, porque somente a Paz harmoniza a estrutura psíquica, alinha e nos conecta ao trono da Graça, nos posicionando no devido lugar de filhos amados do Pai. E aqui está o cerne da identidade que promove o amor à vida, o desejo e a motivação de avançar, apesar dos desafios, em direção ao alvo proposto para a nossa existência: a vida eterna em Cristo Jesus.

“Quando os fundamentos estão sendo destruídos, que pode fazer o justo?” Salmo 11.3 (NVI)

Ilma Cunha é teóloga, psicanalista, terapeuta familiar sistêmica, consultora e instrutora de treinamentos na área comportamental em empresas públicas, privadas e empresas familiares. Fez Mestrado e Doutorado em Psicologia do Aconselhamento na FCU/Flórida/USA. É professora na área de administração, negócios, psicologia e aconselhamento clínico na FCU/USA. Possui uma experiência de mais de 30 anos como palestrante em eventos motivacionai no Brasil e no exterior.

 

 

 

 

 

 

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