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quinta-feira, 25 abril 2024

Será que sou um ET?

O autor traz como referência uma declaração de Caetano Veloso e levanta uma importante questão no meio evangélico: Como recuperar a religiosidade perdida?

Em uma reportagem a uma revista da Folha de São Paulo (30/01/11), Caetano Veloso informa que seus dois filhos com Paula Lavigne (Tom e Zeca) são evangélicos e pertencem à Igreja Universal e que gosta muito quando vai a igreja vê-los tocar. Na entrevista, me chamou a atenção quando Caetano disse: “Minha geração teve que romper com a religiosidade imposta, a deles teve que recuperar a religiosidade perdida”. Interessante é que no programa Saia Justa, do canal GNT, da semana passada, esse assunto foi discutido por suas apresentadoras, que acharam o maior absurdo, beirando mesmo a uma “discriminaçãozinha”, como Caetano ou Paula permitiram que seus filhos se tornassem evangélicos. Pintou uma dúvida: será que ainda somos ETs?

A constatação de Caetano sobre “romper com a religiosidade imposta” é tão importante que marcou tanto a geração que “amava os Beatles e os Rolling Stones”, quanto a que odeia as drogas, o que, na verdade, é fruto de toda essa busca por liberdade, paz e amor. Não temos dúvida de que a geração dele ficará conhecida como aquela que quebrou todos os paradigmas. E a religião imposta era um desses obstáculos, tanto que uma das frases mais conhecidas que ainda exprime essa realidade é: “se hay gobierno, yo soy contra”.

Entretanto, em minha opinião, a recuperação da “religiosidade perdida” é que está custando muito caro aos evangélicos. Tal qual um estouro da boiada, as igrejas evangélicas de nossos dias estão desembaladas morro abaixo na ânsia de recuperar um terreno que nunca foi perdido. Estamos negociando valores e princípios que nunca deveriam mudar. Estamos alterando os antigos marcos, recolocando-os em lugares arriscados. A igreja de hoje tem se deixado seduzir pelo canto da sereia que, na linguagem de Judas, está navegando por mares cheios de rochas submersas que espumam suas próprias sujidades. São pastores que a si mesmo se apascentam; nuvens sem água; árvores sem frutos; estrelas errantes guardadas para as trevas eternas.

Há como mudar? Pode esta rota ser corrigida? Poderia esta nova geração realmente recuperar a religiosidade perdida? Desculpe meu pessimismo doentio, mas se Pedro (2 Pe 2) tinha razão, estamos mesmo em rota de colisão com as heresias. Ou seja, não tem como alterar a rota da igreja de nossos dias: mestres que introduzem dissimuladamente heresias e que são movidos por avareza, fazendo comércio dos crentes com palavras falsas, além de expor orgulhosamente suas práticas libertinas.

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Consequência: a igreja de hoje está trocando sua vocação por um prato de lentilhas. Palavras como as de Paulo (Fl 1:29), de que nos “foi concedido o privilégio de sofrer por Cristo” ou “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fl 4:11), não fazem sentido em nossos dias. Sem querer ser pessimista, alarmista, derrotista, conformista ou comunista, mas a coisa está complicada e, a cada dia que passa, aqueles por quem Cristo deu sua vida parecem mais ETs no meio dos crentes.

José Ernesto Conti é Pastor da Igreja Presbiteriana Água Viva no bairro Estrelinha.

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